sábado, 20 de junho de 2009

LIVRO D ARTE - HÉLIO OITICICA ANTONIO DIAS TRECHO DO INÉDITO BY ALFREDO HERKENHOFF

(...) ANTÔNIO DIAS – Dentro do catálogo tem suas páginas brancas. E dentro da Bienal tinha o seu nome lá. Estava até de cabeça pra baixo (gargalhadas!).

ALFREDO HERKENHOFF – Incorporaram a sua ausência.

HÉLIO OITICICA - É. O Tommaso achou que eu não tinha nada a fazer lá mesmo. Ele até me mandou a passagem. Mas eu estava em Nova Iorque, e estava impossível sair do lugar. Avisaram muito em cima da hora.

AD – Ah! Isso não é verdade. Porque eu lhe avisei antes mesmo de ter sido feita a sua indicação.

HO – Mas tudo o que faço é muito lento. É preciso me lembrar meses antes. E o meu trabalho é cada vez mais lento. Mas aí o Tommaso me disse que ia fazer um negócio experimental no ano seguinte. E que aquela passagem ia valer. Ninguém usou aquela passagem. Que burrice! Eu estava com medo de sair para a Itália. Naquela época, até para sair para uma viagem de fim de semana eu carregava tudo o que eu tinha em casa em Nova Iorque! Tudo! Teve uma trip to nowhere que era num barco. Só não carreguei a televisão. Essa trip é assim: você entra no navio às 8h da noite em Nova Iorque, e o navio vai para o mar e vai para lugar nenhum. Quando chega na altura de South Caroline, ele faz uma volta no mar e volta. Só tinha gente assim... transeiros, italianos que devem apanhar coisas no mar. Isso, esse passeio, era coisa do All Language (NdA: instituto onde Hélio e outros artistas trabalharam como tradutor). Pois eu levei os meus livros, meus record players, muitos volumes, todos os cadernos que eu imaginava escrever, o tape recorder, e outras coisas que estavam nos ninhos (NdA: ambientes de arte, espaços domésticos na linguagem de arquitetura experimental de Hélio). E ainda outras coisas. Era para viajar de sexta a segunda. A cabine que era minha e do Franco foi transformada num troço. Eu vi o mar assim umas duas vezes de relance em toda a trip. Aí foi ótimo porque tudo o que eu estava fazendo não podia parar.

AD – Se lembra, Hélio, que uma vez eu fiz uma viagem de trem com você?

HO –Eu e você?

AD - É sim. E de noite, o Hélio me diz que não vai apagar a luz e me tira um livro de Nietzsche e começa a ler. Pensei: será que o cara não vai parar?

HO – Mas onde isso? Onde é que eu fui de trem com você?

AD – Ou foi para São Paulo ou foi para Minas Gerais.

HO – Nunca fui a Minas, Antônio Dias! Quer dizer, fui com a Mangueira a Juiz de Fora e com o meu pai quando eu era criança. Então acho que foi a São Paulo, quando houve uma (...)