quinta-feira, 5 de março de 2009

NÃO ADIANTA MUDAR O CANAL DE TV

O colega Vicente Duque Estrada enviou nesta quinta-feeira um artigo condenando a TV. O Correio da Lapa, aberto ao debate democrático, lembra Federico Fellini que dizia: "A televisão prostitui a imagem". Confiram a especulação que o Duque Estrada batizou com o seguinte título:
Algumas razões para se desesperar com a TV!

A primeira razão é que a televisão, na visão de muitos especialistas, é um comercial interrompido por pedaços de filmes. Como todas as redes de televisão são financiadas pela publicidade, qual delas escapa da definição proposta? A televisão, segundo fórmula consagrada pela publicidade, vende seu público aos anunciantes.

O elemento-chave de um programa é o comercial, aquele que escapa das variações da grade de programação, e é em função desta publicidade que serão agendados os programas, de maneira a trazer o máximo de audiência. E, sobretudo, de modo a evitar - custe o que custar – a evasão de espectadores para os canais concorrentes.

Porque muito mais do que falar de programação estamos falando agora de contra-programação, numa técnica que consiste considerar como mais importante saber qual o programa cada concorrente veicula em tal horário e propor algo mais demagógico e populesco. Mais do que propor um programa sofisticado ou experimentar suas próprias idéias. Desta maneira, um programa como o Jornal da BAND tenta passar a perna na audiência do Jornal Nacional da Globo etc, numa disputa em que a grade importa mais do o que as imagens veiculadas. E, nesse contexto, é impossível procurar alguma coisa de inovadora em que a premissa de ideal é conquistar o máximo de audiência com o mínimo de investimento...

Um outro ponto a ser considerado é que a televisão está em vias de trocar de mãos (as grandes redes comerciais, bem entendido!) e seus novos proprietários são grandes grupos comerciais da indústria transformados, pela natureza do novo empreendimento, em produtores audiovisuais, os quais visualizam um novo setor de investimento ou mercado futuro, depois dos investimentos em imobiliários ou da siderurgia, teleguiando mais comumente seus interesses em direção ao poder, uma vez que televisão é cada vez mais um assunto de Estado-Nação. E isto pode ser comprovado nas novas ações dos governo sobre a legislação, assim como na programação da redes, como também pela grade dos vários canais de TV.

Uma vez que não podemos empreender todas as aventuras financeiras e estéticas dentro desse monopólio político-industrial no qual se transformou a TV, como numa grande padaria, o preço do pão conta como a produção de imagens: quanto mais barato e mais vendido, maiores são os lucros. Isso é o que importa para os grandes canais de TV!

Antigamente, a televisão se queria uma janela sobre o mundo... Mas, hoje em dia, com o empreendimento audiovisual se transformando em palco de um duelo de gigantes, a TV, como empresa, joga um jogo próprio. Ela só pensa e enfoca a si mesma; ela é o centro de tudo que é mostrado em toda a sua programação. O conteúdo e o estilo desses seus programas escondem as principais questões de um canal de TV, que apresenta o mundo através do prisma de suas relações comerciais e institucionais. Mas estamos presos a esse circuito fechado da rede! Um pouco de perigo que um evento possa provocar na mesmice televisual, mais rapidamente ele será banido da grade – e as redes colocam no ar seus comerciais... Nada como uma mensagem publicitária para acalmar os ânimos da audiência!

É desesperador que para a televisão não possa existir nenhum risco envolvendo a área comercial, e que isso possa esticar ao limite as regras e fórmulas que regem os programas em termos vendáveis ou não aos anunciantes. É de doer! E é dessa maneira que alguns programas estão há 20 anos em exibição. Assim, os felizes beneficiários desses canais produtores podem ver Dallas em reprise duas ou três vezes por semana, e assim economizar dinheiro, na política de faturar com o mínimo de investimento.

Uma vez que as vias de comunicação seguem todas na mesma direção e quase à mesma velocidade, em breve estaremos falando numa carência de programas para abastecer todos esses espaços. Seria o caso de se falar em oportunidade para produtores independentes, não fosse a possibilidade de, na obrigação de se render à ideologia e à formatação das redes, correr-se o risco de virar mais do mesmo, misturando-se e assumindo a estética da TV comercial ela mesma.

Mesmo os canais de TV pública, e sobretudo aqueles que dependem de alguma receita adicional de publicidade, tem a mesma tendência de reproduzir os modelos já citados para resistir à concorrência das outras redes. Resultado: vemos aqui uma programação parecida, com poucas variações. Mesmo com algum esforço, nós espectadores, esperaríamos um pouco mais de cultura e criatividade, já que esta é uma das premissas impressas na idéia de canal educativo!

Porém a situação em que se encontra a Televisão é desesperadora, pelas razões acima e tantas outras que se queira adicionar... E o pior é que não adianta mudar de canal!