domingo, 17 de maio de 2009

Presos mantidos em contêineres... O que mais falta?


Serra (ES) - O uso de contêineres como celas levou o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária a pedir à Procuradoria-Geral da República que apresente pedido de intervenção federal no Espírito Santo.
Foto e texto da repórter Luciana Lima, enviada especial da Agência Brasil para cobrir mais um escândalo da Justiça brasileira


Pedido de intervenção basta?

40 presos e fedentina em cada contêiner

Vitória - O uso de contêineres como celas foi um dos fatores que motivaram o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) a solicitar ao procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, que apresente um pedido de intervenção federal no Espírito Santo. O presídio de contêineres se localiza no bairro Novo Horizonte, no município de Serra, região metropolitana de Vitória. A unidade tem capacidade para abrigar 144 presos, mas, na última sexta-feira, 15 de maio, de acordo com o diretor da unidade, Robson de Assis, havia 306 internos.

A situação encontrada pela Agência Brasil não difere muito da relatada pelo presidente do CNPCP, Sérgio Salomão Shecaira, no documento encaminhado ao procurador. Shecaira visitou os presídios capixabas nos dias 15 e 16 de abril e o que viu está expresso no documento encaminhado ao procurador na semana passada.

No relatório de 12 páginas, assinado por Shecaira, há detalhes sobre a precária condição em que se encontram os presos da unidade, que no dia da visita tinha quase 400 pessoas.

“Cada contêiner tinha cerca de 40 presos. O local é absolutamente insalubre. A temperatura no verão passa de 45 graus, segundo vários depoimentos. Não há qualquer atividade laboral. Não há médico. Não há advogado. Não há defensoria. Não há privacidade alguma. As visitas semanais são feitas através de uma grade farpada. São fatos comuns as crianças se cortarem ao tentar pegar na mão dos detentos por entre as grades. Não há visita íntima”, destaca o relatório encaminhado ao procurador.

Shecaira também relatou o “rio de esgoto” que corre entre as fileiras de dez contêineres empilhados e cobertos com uma estrutura metálica. Na sexta-feira (15), quando a Agência Brasil esteve no presídio, observou que o esgoto corria na pequena área destinada ao banho de sol dos internos. “Na água preta e fétida encontravam-se insetos, larvas, roedores, garrafas de refrigerantes, restos de marmitas, restos de comida, sujeiras de todos os tipos. A profundidade daquele rio de fezes e dejetos chegava a 40 centímetros, aproximadamente”, diz o documento.

“Poucas vezes na história, seres humanos foram submetidos a tanto desrespeito. Vencendo a repugnância do odor, aproximamo-nos dos presos. Novas denúncias de comida podre e de violências. Encontramos um preso com um tiro no olho e outro com marcas de bala na barriga. Marcas de balas na parte externa dos contêineres são comuns. A promiscuidade impera”, destaca o relatório.

Shecaira também apontou, no documento enviado ao Ministério Público Federal, a decisão tomada pela administração penitenciária do Espírito Santo de reativar uma cela semelhante, também feita com contêineres, só que sem janelas, apelidada de “cela micro-ondas”. Essa cela possui apenas uma abertura, pela qual os agentes podem passar as marmitas com comida, e a ventilação é levada por um único cano. “Tal contêiner, sem janelas, foi desativado por decisão judicial. A reativação da “cela micro-ondas”, com 23 presos, foi feita em descumprimento às ordens judiciais”, destaca Shecaira no relatório.