Gugu, Eliana, Faustão, Redes de TV, Congresso, Sarney, publicidade, novelas, chororô no Twitter e reflexões sobre a mediocridade da mídia de todos nós! (*)
O apresentador Gugu Liberato, tirado do SBT pela Rede Record por R$ 3 milhões mensais (Faustão ganha R$ 1 milhão 250 mil por semana), vai fazer sua estreia agora num domingo de agosto. Gugu comandava o Domingo Legal e, pela Record, já viajou, num jatinho pintado com seu nome, por diversas cidades em busca de ideias e quadros, alguns a serem oferecidos já nos primeiros programas. À frente do Domingo Legal está agora o apresentador Celso Portiolli (desde o dia 12 de julho), à espera da estreia da titular Eliana Lobato. A nova apresentadora, que o SBT tirou da Record para substituir Gugu Liberato, deu uma canja de uma hora no Domingo legal do provisório Portiolli dias atrás. A apresentadora e modelo Ana Hickman e Rodrigo Faro comandaram provisoriamente o programa Tudo é possível, que era de Eliana.
A missão de todo mundo fora da Globo é enfrentar o Fausto Silva e o Fantástico. Esses programas dominicais das grandes redes, para vasta audiência, sempre surpreendem com quadros divertidos, grandes artistas, boas reportagens etc, mas todos, sem exceção, têm uma enorme quantidade de mesmice, chatice e celebridatice.
A gente vê um e outro, de vez em quando, porque está num lugar em que de repente alguém antes já estava vendo. Mas ninguém em sã consciência se programa para ver esses programas. Eles têm enorme audiência cativa de gente em boa parte sem opção de programa: a massa humilde.
Apesar do troca-troca prenunciar uma guerra de audiência mais acirrada, nos últimos domingos - de especulações, apresentadores provisórios, negociações de contratos etc - os anunciantes andaram fugindo um pouco tanto do SBT quanto da Record, segundo reportagem publicada nesta terça-feira, 28 de julho, pelo Estadão.
Mas uma nova guerra está só começando e, em nome da audiência, teremos bons quadros, bons artistas e uma porção de mesmice. São programas em rede, dominicais atingindo as 5 mil e 600 cidades do Brasil. Por isso um minutinho de publicidade só é permitido às grandes corporações, bancos, montadoras de carro, governo federal, operadoras de telefonia, sabão-sabonete da Unilever etc. Um minutinho - com variações para baixo e para cima, dependendo da hora do domingo e da emissora- custa, no chute certo, a bagatela de meio milhão de reais.
Parece caro, mas é anúncio relativamente mais barato do que muito jabazinho com que prefeitinhos do interior sustentam jornalecos que puxam saco em troca de uma frágil sobrevivência.
Quando Coca Cola e Brahma botam um minutinho no domingo da Globo alcançam bebedores do refrigerante e da cerveja em quantidade cavalar. Não adianta achar que não é justo. Nem há nada de pessoal nessas considerações.
Faustão, Gugu, Eliana, Hickman, Ana Maria Braga, Amaury Jr., Luciano Huck, Angélica, Hebe, Gimenez e outros são os melhores apresentadores do Brasil, são os mais calejados - Silvio Santos, o principal deles. O que dói, e não pesa, porque não muda nada, é esta impotência, do público e das televisões, de produzir mais qualidade sem perda de interesse geral, sem perda de massa de audiência. A guerra do ibope é uma faca de dois gumes. O lado mais afiado é o medíocre. Para um apresentador, usar o corte menos afiado é haraquiri.
As agências de publicidade também entram nesse caldo de mediocrização das ofertas. Freud ou Brecht... Um deles dizia mais ou menos que propaganda é o altar do diabo, é o culto que enfeita pequenas mentiras escondendo pequenas verdades. Mostrar só o melhor: o desejo...
Celebridade e mediocridade se assemelham num paradoxo antropológico dos domingos. Apresentadores milionários e consumidores depauperados, idem. Apenas os primeiros viajam de jatinho e tentam escapar de balas perdidas em carros de luxo com blindagem contra projétil de AR 15. Já o povão, como mostra esta rima, vai remando no tom estridente da voz do garoto Faustão e das mazelas de cada esquina.
A educação de excelência quase não tem vez nos domingos das grandes redes. Nas novelas, uma ciranda em que todo mundo conhece todo mundo, como no velho e pior folhetim, também há, como nos dominicais, algumas mensagens e dicas positivas de atitudes politicamente corretas, mas reina no atacado o nada, o vazio, o quase-nada-sobra, nada de linguagem mais sofisticada, quem pinta é macaco, quem coleciona selo é maluco, quem gosta de música erudita é idiota, o luxo é o nosso lixo, essa multidão mal informada, que não leva bofetada no seu próprio gosto público, só afago, recebe só pagodes domingueiros, e por isso vota mal, elege os Sarneys.
É essa gentalha de audiência que do Rio Arroio ao Rio Chuí garante o caviar de cada um de nós, os apresentadores, os verdadeiros senadores do Congresso da Mídia chamado Televisão. A massa de telespectadores aos domingos é o plenário que aplaude. A mesa do Congresso da Mídia são os apresentadores com direito a voto especial. Moldam os nossos gostos, nossas mentes, nossos hábitos, nosso futuro.
E depois, quando se deparam com notícias de mais uma lambança violenta na cidade, os apresentadores ficam indignados, querendo ordem e segurança. Mas depois não adianta botar camiseta de mais uma vitima estampada no peito, entre lágrimas de saudade e pleitos para que isso que aconteceu não aconteça nunca mais.
A TV é a mídia que tem mais a ver com a lambança que se reproduz e se vê dentro e fora dela, e é também a mídia que tem mais a haver com o futuro nestas contas de chegar.
A Televisão, quando articulada partidariamente, faz politica de arrasa-quarteirão. Em tese, a Televisão poderia mandar o Brasil inteiro gritar "Anauê!". Na prática, faz exercícios de mando. Por exemplo: mandar o Brasil sentir frisson ao dizer que Felipe Massa "corre risco de morte", mandando para o espaço a velha expressão do vernáculo "corre risco de vida". Em tese, a Televisão pode tirar Sarney da presidência do Senado em poucos dias, ou horas. Mas os políticos no Congresso são homens de e da Televisão, possuem redes regionais afiliadas das grandes emissoras do Rio de Janeiro e de São Paulo.
O resto é apito, chororô no Twitter, nos blogs, nos colunistas independentes dos grandes jornais etc. A massa de audiência da Televisão passa ao largo dessas reflexões mais livres... Erradas ou exageradas às vezes, mas reflexões.
(*) Por Alfredo Herkenhoff
O blogue-jornal Correio da Lapa está completando cinco meses de existência com cerca de 30 mil visitas neste período heróico de reflexões livres e libertárias, sem nenhum vínculo com partido político nenhum, nenhuma preferência à exceção de se manter como espaço para reflexões e espasmos que nos ajudem a pensar e votar melhor.