O Dia Mundial do Meio Ambiente só foi aliviado pelos conventos, mosteiros, hotéis-fazenda, esses kibutsz que buscam o consumo intra-muros. Os poucos devotos ou clientes consomem, mas quase sempre apenas aquilo que provem de atividades internas de seus territórios afastados e murados. Pouca importa se num convento ou se num hotel-fazenda em Friburgo, é o consumo de um luxo campestre, silvestre, uma comilança de porcos e peixes criados, mortos e preparados tudo por ali mesmo, entre passeios no campo e no frio das últimas florestas. Existe uma espécie de respeito religioso à natureza de nós mesmos nesses redutos fechados de consumo, vasto ou parco, mas condizente com o que há em volta. No Hotel-Fazenda São João, por exemplo, perto de Friburgo, até a energia elétrica é gerada por uma cachoeirinha local.
Quero consumir bastante, mas a cada consumo, me consumo, e assim, isso valendo para toda gente, temos de decidir a todo instante: o que devo fazer hoje? Comprar chiclete ou uma shotgun (submetralhadora) num shopping em Miami?
Comprar um colete dizendo Eu apoio Minc? Ou comprar uma AR 15 no Paraguai nas barbas dos Federais?
Comprar ações da Vale, Petrobras e Souza Cruz? Ou comprar participação no voo de uma avioneta cheia de droga nas barbas do Sindacta e dos valorosos aeronautas do Brasil neste momento ajudando a resgatar vítimas no Atlântico?
Comprar uma inscrição partidária para entrar na política, este mercado de demagogia em que ganha mais quem promete mais e mais? Ou comprar um voto de confiança em Carlos Minc, agora que ele está quase defenestrado do governo Lula?
Comprar apostilas para um concurso público e ganhar o direito de ser estável servidor, de se aninhar na disposição defensiva em nome da categorias que respeitam a lei e exigem tudo dela enquanto ela, lei, na rua, dá uma banana para a multidão cada vez mais disposta a tentar a justiça com as próprias mãos?
Ou comprar um livro de poesia para aprender nas cifras da sensibilidade que, quando a rua pega fogo, e a classe política não abre mão de nada, vem chumbo grosso por aí?
No ritmo do Brasil de Lula, sua popularidade midiática nada relacionada com certo desprezo pelo PT, não é difícil imaginar a turba que bebe, mata, não tem boa escola e nem bons hospitais, a se preparar, num lance de mágica, a reagir da forma mais tosca, a marca do dia-a-dia, se lixando para a sorte do Senado Federal ou de qualquer outra instituição, pública ou privada. Essa turba que mata e morre não vai sentir a mínima culpa quando vigaristas de qualquer instituição forem varridos não pelas tecnicalidades jurídicas do Supremo, mas pela mão do azar que já manda, todo dia, a tiros e facadas, muita gente para o cemitério do lixo da história.
Amargas palavras... Este cemitério é a nossa estatística desrespeitada diariamente. Quando pega fogo a rua, e a lei só funciona para minorias privilegiadas, e o Dia Mundial do Meio Ambiente fica perdido no noticiário, talvez seja hora de enterrar de vez este Dia Mundial naquele mesmo cemitério do lixo da história. Um projeto de lei: Não existe mais o tal dia no Brasil, revogam-se as disposições em contrário.