terça-feira, 22 de setembro de 2009

Brasil incendiário em Honduras. E agora, Zelaya?

Brasil é bombeiro e incendiário em Honduras *


NOVA YORK - A crise de Honduras se arrastava e parecia mais fácil fingir que era um vulcão adormecido. A encrenca esquentou e o Brasil mergulhou de vez no vulcão ao conceder abrigo ao presidente deposto Manuel Zelaya na sua embaixada em Tegucigalpa. Neste vulcão, o governo Lula é bombeiro ou incendiário? Um pouco dos dois. Afinal existem ingredientes ambivalentes nesta crise hemisférica.

É duro tratar Zelaya como um herói da resistência e um teste de solidariedade democrática nas Américas. Deposto há quase três meses, ele era um candidato a caudilho, que encampou a agenda chavista, botando lenha na fogueira ao ensaiar mudanças nas regras do jogo para assim estender a permanência no poder. O presidente golpista Roberto Micheletti é um daqueles oligarcas latino-americanos posando de paladino da democracia quando convém.

Em Washington, o presidente Obama quis fazer bonito mostrando que agora os EUA tratam seu quintal de forma diferente e simplesmente não abençoam ou conspiram com qualquer aventureiro antiesquerdista (ou antichavista). No entanto, constrange fechar posição quando nas fileiras da indignação está Chávez, o histriônico. Os americanos se refugiaram em uma posição ambígua, que acaba sendo percebida na América Latina como cumplicidade com os golpistas de Tegucigalpa.

Então, sobrou para a diplomacia brasileira, que cada vez menos se constrange para estender os seus tentáculos. No caso latino-americano é mais do que razoável este ativismo brasileiro. É esfera de influência do país. Mas, o que Brasil realmente ganha nesta? Tudo bem que seja inviável lavar as mãos e simplesmente tratar a crise hondurenha como um problema interno. Muito tarde para esta atitude. No entanto, com esta decisão de dar abrigo a Zelaya, o Brasil assumiu uma responsabilidade muito mais delicada, para o bem ou para o mal. E se houver um banho de sangue nos choques entre os dois lados? Admito ser cômodo apenas advertir e voltar a fingir que o vulcão está adormecido.

O ideal é que Zelaya reassuma e caia fora rapidamente. Existe a aposta arriscada e explosiva do governo brasileiro de que esta novo fato (a volta do presidente deposto) rompa o marasmo diplomático. Uma das coisas mais sensatas já ditas pelo ministro das Relações Exteriores Celso Amorim foi que ninguém sabe exatamente o que vai acontecer em Honduras. Todo mundo meteu a mão no vulcão. A crise é nossa.

Por Caio Blinder no site
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