sexta-feira, 4 de março de 2011

Briga Globo vs Record, e a grana de cada clube hoje e no futuro


Cotas de TV: como são e como ficariam


Por Vinicius Paiva

Por incrível que pareça, a novela que envolve a negociação pelos direitos de televisionamento do futebol no Brasil continua se arrastando. Após a Record acenar com R$ 500 milhões pelos direitos de TV aberta do Campeonato Brasileiro, a Globo contra-atacou, liderando uma rebelião que esvaziou o Clube dos 13. Assim, fez com que a maioria das agremiações optasse por uma negociação direta (ou em pequenos grupos) com a emissora carioca. Ato contínuo, a Rede Record reagiu e informou que, se a saída for a negociação unilateral, também seguirá por este caminho.

Mas por que a Globo resiste em concorrer com o valor sugerido pela Record?

A grande questão é que, atualmente, a Rede Globo desfruta de monopólio na exploração de todas as mídias que envolvem o futebol brasileiro: TV aberta, fechada, pay per view, internet e celular. Além disso, é detentora dos 10 principais estaduais do país: Rio, São Paulo, Minas, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Pernambuco, Bahia, Ceará e Goiás. Por fim, a emissora dos Marinho ainda possui direitos exclusivos sobre o Campeonato Brasileiro de Futebol.

Por todo o pacote, a Globo pagou cerca de R$ 600 milhões.

Mas apesar de pagar um valor único pela cesta de produtos, cada um tem sua cotação própria. Pelo Brasileirão, por exemplo, a emissora paga cerca de R$ 250 milhões anuais. As maiores cotas são destinadas ao grupo composto por Flamengo, Corinthians, Vasco, Palmeiras e São Paulo: R$ 21 milhões cada.

Já pelos estaduais, a Globo paga cerca de R$ 140 milhões, divididos da seguinte maneira (aproximadamente):

Campeonato Paulista: R$ 67 milhões (R$ 9,5 milhões para os 4 grandes, R$ 1,8 milhão para os 16 restantes);

Campeonato Carioca: R$ 35 milhões* (Cerca de 6 milhões para os 4 grandes);

* Valores estimados, por não serem divulgados.

Campeonato Gaúcho: R$ 13 milhões (Cerca de 4 milhões a Inter e Grêmio);

Campeonato Mineiro: R$ 11 milhões (Cerca de R$ 4 milhões a Cruzeiro e Atlético, R$ 320 mil aos 10 clubes restantes);

Campeonato Paranaense: R$ 5 milhões (R$ 700 mil aos 3 clubes da capital, R$ 240 mil ao restante);

Campeonato Baiano: R$ 4 milhões (R$ 1 milhão a Vitória e Bahia);

Campeonato Catarinense: R$ 1,5 milhão (Os 4 maiores clubes no patamar de R$ 220 mil);

Campeonato Cearense: R$ 1,5 milhão (Cerca de R$ 500 mil a Ceará e Fortaleza);

Campeonato Pernambucano: R$ 1,3 milhão (R$ 370 mil aos 3 clubes da capital);

Campeonato Goiano: Desconhecido.

Ou seja, a soma do valor pago pelo Campeonato Brasileiro e pelos Estaduais se aproxima dos R$ 400 milhões. O resto dos dispêndios se destina aos direitos de transmissão por pay per view, internet e celular – em especial este primeiro, que responde por cerca de R$ 150 milhões.

Para financiar a empreitada, em 2011 a Globo vendeu 6 cotas de anunciantes, a R$ 134 milhões cada, totalizando um faturamento de R$ 804 milhões.

Em suma: a Globo arrecada R$ 800 milhões e gasta R$ 600 (fora custos operacionais das transmissões), assim divididos: Brasileirão (R$ 250 milhões), Estaduais (R$ 140 milhões), pay per view (cerca de R$ 150 milhões) e internet + celular (restante).

Por isso, quando a Record sinaliza com R$ 500 milhões apenas pelo Campeonato Brasileiro, faz aumentarem os custos em R$ 250 milhões – além de gerar um efeito inflacionário nas futuras negociações pelos direitos dos estaduais.

E a conta não fecha.

De fato, a Globo divulgou um estudo afirmando que o máximo que se disporia a pagar pelo Brasileirão seriam R$ 400 milhões. Acima disto, diz ela, inviabiliza-se o custeio exclusivo por receitas publicitárias. Problema que a Rede Record – amparada por seu braço religioso, a Igreja Universal – não enfrentaria.

Deste modo, se os clubes escolherem veicular o Campeonato Brasileiro pela Rede Globo –pela maior penetração e visibilidade oferecidas pela mesma - podem imaginar uma valorização de suas receitas na ordem de 50%. Os R$ 21 milhões do Flamengo se tornariam pouco mais de R$ 31 milhões.

Caso optem pela Record e seus R$ 500 milhões sinalizados, a valorização seria de 100% - R$ 42 milhões anuais nos cofres rubro-negros. Já no caso de algum concorrente surpreender oferecendo um valor ainda maior, o céu será o limite. Há rumores de que, amparada por um banco, a Rede TV daria um lance na casa dos R$ 700 milhões pelos direitos do campeonato.

Alguém apostaria?


Correio da Lapa informa: o texto acima nos foi enviado pela rubro-negra amiga Marilene Dabus, que recebeu os originais do próprio autor, o jornalista Vinicius Paiva