O site do Financial Times informou nesta segunda-feira que uma renúncia de José Sarney à Presidência do Senado deixaria Lula numa "crise de governabilidade" e com três pepinos a descascar. A agenda de Lula no Congresso estaria ameaçada com uma debandada de peemedebistas da base aliada, os governistas perderiam o controle da CPI da Petrobras e Dilma Rousseff, o apoio do PMDB para a sucessão de 2010.
"O perigo para o governo é que a saída de Sarney desestabilizaria a sua maioria no Congresso. Lula – acostumado com uma maioria confortável e enorme apoio popular – lutou bastante para evitar esse tipo de eventualidade", escreveu o correspondente do Financial Times em São Paulo, Jonathan Wheatley.
Correio da Lapa: Notícia comentada
Teria Lula condições de refazer uma base de apoio no Congresso? Poderia Lula jogar para as massas a fim de pressionar uma nova e fortalecida oposição de modo a lhe garantir um mínimo de governabilidade? Poderia Lula, numa guinada de 180 graus, buscar pareceria com seus adversários frontais, os tucanos? Se a macroeconomia é uma só entre FH e Lula, não haveria grande diferença entre José Serra e a ministra Dilma.
Na História do Brasil, e do Mundo, já se viu muita reviravolta em momentos de crise. Em tempos de guerra, então nem se fala: Moscou e Washington juntos contra Hitler que, anos antes, promovera um pacto de não-agressão com Stalin. Na Ásia, os generais Chiang Kai Shek e Mao Tse Tung, depois de anos duelando numa guerra civil sanguinária, deram beijo na boca selando uma trégua para, como prioridade, expulsar os invasores japoneses. Só depois da expulsão nipônica voltaram a duelar à vera, com a fuga do chefe de Pequim para Formosa -Taiwan - em 49.
No Brasil também se viu já muita reviravolta. A própria República foi proclamada por um general, o marechal Deodoro da Fonseca que, 24 horas antes, era homem de confiança e chefe militar do Imperador.
O marechal Lott era ministro da Guerra do presidente Café Filho e o apeou do Poder depois de haver derrubado também o presidente da Câmara Carlos Luz, que se achava no exercício da Presidência da República enquanto Café se recuperava de um ataque cardíaco.
Será que Sarney, conhecedor de tanta história hipócrita, vai querer enriquecer o seu legado de noviça pura no convento onde uma fundação é acusada de lavar dinheiro cultural da Lei Rouanet?
O recesso acabou hoje no Congresso com uma surpresa: ontem se falava que Sarney estaria prestes a renunciar. Hoje parece que esta prestes a resistir no cargo. Quanta confusão.
A censura imposta pelo juiz-amigo da Família Sarney ao Estadão seria impossível no Twitter. No celular, é impossível. Na emoção, impossível.
Até onde vai essa tradição de uns grupos de políticos endinheirados e entrincheirados na teta do Congresso Nacional de achar que a maioria do Brasil está a seus pés e que eles podem resistir a tudo e a todos?
Renovam a censura inconstitucional, lavam as mãos diante dos flagrantes de seus paus-mandados, nadam na volúpia do quero-mais e continuam se achando reis das nomeações. Até Lula está perdendo a paciência diante das últimas pesquisas. Padim Ciço que nos ajude: Quosque tandem abutere, Catilina, patientia nostra? Até quando, Catilina, Vossa Excelência abusará da nossa paciência?
Por Alfredo Herkenhoff