quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Márcio Braga a Patrícia Amorim e ao Flamengo

Carta Aberta de Márcio Braga em 30 de dezembro de 2009

Companheiros rubro-negros


Ao transmitir a presidência para Patrícia Amorim, desejo registrar a emoção pelo privilégio de ter a minha vida ligada à história do Flamengo nos últimos 33 anos.

Durante este período, exerci a presidência do Clube por seis mandatos, totalizando 14 anos. Também presidi o Conselho Deliberativo duas vezes, somando outros quatro anos.

Foram 18 anos à frente de um dos Poderes do Flamengo em diferentes ocasiões. Essa aventura me propiciou a glória de ter sido o presidente mais vitorioso da nossa história, com o Campeonato Brasileiro pela primeira vez, em 1980, a Libertadores e o Campeonato Mundial de 1981, o Bi-Brasileiro 82, o Tetra em 1987, o Penta em 1992 e o Hexa em 2009.

Nestes dois últimos mandatos, de 2004 a 2009, além da consagradora campanha do Hexa-Brasileiro, o Flamengo venceu a Copa do Brasil e foi quatro vezes Campeão Carioca (Penta-Tri).

Conquistamos a hegemonia incontestável do futebol brasileiro, o melhor do mundo. O Flamengo tem a maior e mais bonita torcida do planeta e é o clube mais valioso do país.

Toda essa glória no futebol foi conquistada concomitantemente às incontáveis vitórias no remo e no basquete e ao destaque dos atletas rubro-negros, com a nossa camisa e com a do Brasil, na ginástica, na natação e tantos outros esportes olímpicos. O Flamengo preservou, portanto, a sua tradição de Clube poliesportivo.

Fui eleito presidente pela primeira vez no dia 28 de dezembro de 1976 e a primeira reunião de diretoria foi no dia 4 de janeiro de 1977. Naquela época, o Flamengo já era muito popular, mas enfrentava sérias dificuldades administrativas e financeiras. Os salários estavam atrasados, o Clube não recolhia impostos e devia a mais de 30 bancos. Em dois mandatos, resgatamos a credibilidade, organizamos a administração e recuperamos o prestígio esportivo. Fomos tricampeões cariocas, além da citada conquista do Brasileiro. Modificamos o estatuto, limitando a reeleição em somente uma vez.

Quando fui convocado para disputar a eleição outra vez, em 1986, o Flamengo estava novamente em crise. A história se repetiu. Conseguimos recuperar a credibilidade e o prestígio do Flamengo. O estatuto foi novamente modificado para estabelecer a eleição direta.

Não só o Flamengo, mas todo o futebol brasileiro estava em crise na ocasião. Com a participação decisiva do Flamengo, foi consagrada, em 1987, a criação da União dos Grandes Clubes Brasileiros (Clube dos 13), uma revolução na gestão do futebol em nosso país. E foi instituída a Copa União, cuja vitória pelo Flamengo nos deu o Tetra.

Em 2003, o Clube vivia mais uma vez uma grave crise. O então presidente sofrera um processo de impeachment. Novamente fui eleito com a responsabilidade de enfrentar grandes desafios.

Quando assumi o cargo, em janeiro de 2004, a situação do Flamengo era dramática. Os salários estavam atrasados há três meses. O Clube sequer tinha talões de cheque. A Justiça Federal tinha decretado a insolvência. A sentença mandava o Flamengo vender todos os bens para pagar os credores. Se isso ocorresse, ainda ficaria devendo R$ 139 milhões (patrimônio líquido negativo).

Nada disso ocorreu. Empenhei a minha credibilidade política e o meu aval pessoal. Trabalhamos duro e, nestes últimos seis anos, reconduzimos o Flamengo ao caminho da vitória.

Além da hegemonia no futebol e das conquistas nos outros esportes, o Flamengo está com os salários em dia, acaba de passar por uma auditoria financeira independente e tem contratos assinados que asseguram receitas de mais de R$ 100 milhões anuais.

Uso o plural para resgatar essa história porque entendo que a vitória é uma construção coletiva. Essas conquistas foram possíveis graças à ativa participação de muita gente. No nosso caso, a vitória é resultado de um valor fundamental: o compromisso com a Causa Rubro-Negra. É isso que nos diferencia dos outros.

E é por isso que faço questão de registrar 274 nomes nessa carta – mesmo sabendo que, traído pela memória, devo estar cometendo injustiça com outras pessoas. A todos que estou citando – entre amigos, companheiros, aliados, adversários, críticos e até inimigos pessoais – credito esta condição de pessoas comprometidas com a Causa Rubro-Negra, e um registro especial aos funcionários do clube no decorrer desses anos.

Patrícia Amorim e a nova Diretoria recebem o Flamengo ainda com grandes desafios, mas completamente diferente de seis anos atrás, com o moral em alta pela conquista do Hexa e da credibilidade e, também, com projetos em fase avançada de estudos, que poderão ter grande impacto positivo no futuro do Clube:

- Fla Novas Gerações, que reúne os nossos programas de responsabilidade social.
- Fla Olímpico, para a formação de atletas e equipes competitivas nos desportes olímpicos.
- Fla Futebol, que viabiliza a incorporação do CFZ, do grande ídolo Zico, contribuindo para a gestão empresarial do futebol.
- Programa de Revitalização da Gávea, para reforma da nossa sede e construção de novos espaços para atividades esportivas, culturais e sociais.

Mulher, jovem, atleta do Clube, Patrícia é de outra geração e traz uma nova visão. Quando assumi a presidência, em 1977, Patrícia começou a sua carreira de atleta do Flamengo, com oito anos de idade.

Sei que a nova presidenta e sua equipe também são pessoas comprometidas com a Causa Rubro-Negra e têm plenas condições para acertar, vencer e avançar ainda mais no destino de glória do Flamengo.

Feliz Ano Novo
Marcio Baroukel de Souza Braga

UMA VEZ FLAMENGO, SEMPRE FLAMENGO!