quinta-feira, 2 de julho de 2009

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Morte e Vida

no mundo dos cifrões






Correio da Lapa (CdL): Notícias e comentários

Com pitadas de diamantes, Ruy Castro e Oldemário Touguinhó


Por Alfredo Herkenhoff

Neverland & Graceland!
É tanta confusão em torno da morte, funerais e fortuna de Michael Jackson depois de sua inesperada parada cardíaca aos 50 anos de idade que este Correio da Lapa, como tantos veículos, não sabe se cometeu um erro grave por exagero ou por homeopatia. Erro a mais de quase 400 milhões de dólares? Ou a menos de muito mais?


O CdL mencionou valores que momentaneamente seriam exagerados? Ou na na verdade valores que serão ainda mais elevados num futuro de curto ou médio prazo?

Não está claro se o rancho Neverland vale 500 milhões de dólares como se mencionou ontem aqui neste blogue-jornal ou se muito mais. No ano passado, o território mítico do Michael Jackson Peter Pan quase foi a leilão por apenas 120 milhões.

A confusão de números tão discrepantes decorre em parte da correria, em parte da chuva de especulações de analistas de economia nos Estados Unidos. A CNN tem sido pródiga nesses dias na produção de conteúdo nesse campo de bens e investimentos relativos ao legado do Rei do Pop.

Ampliam-se as surpresas: pensava-se que o artista estivesse todo endividado, e agora aparecem essas notícias de que deixa uma fortuna de 500 milhões. Aqui tudo é dólar. A fortuna total é de 500? Ou ainda há o adicional do potencial de outros 500 de Neverland?

O testamento de Michael Jackson deixa a fortuna para suas três crianças e a mãe-avó, num fundo, e nada para o pai que batia no astro e seus irmãos.

Confusão do Correio da Lapa, da mídia em geral? Ou necessidade de mais uma soma, erro ou duplicação, mas sempre coragem de tudo isso aqui antecipar?

A CNN lembra o caso do King Elvis Presley, que depois de morto começou a faturar muito mais. A Forbes ou Fortune, sorry pela ligeira dúvida quanto a qual das duas revistas, emite um mórbido ranking das 10 celebridades mortas que mais faturam no mundo. Elvis, o King, encabeçava no ano passado a lista Top Ten com 52 milhões de dólares anuais. Herdeiros da família nada comentam sobre isso.

Estima-se na CNN que o King of Pop vá deixar depressinha o King Elvis comendo poeira nesta competição imaterial de almas coroadas.

O mítico parque Neverland vai faturar mais do que Graceland, que se transformou em ponto de peregrinação por ser o lugar do King sepultado. Mas, afinal de contas, os despojos do King of Pop serão mesmo preservados na rancho Terra do Nunca? Tanta confusão...

Michael Jackson, ao contrário do King dos anos 50 e 60, é o ícone de um tempo inaugural de clipes, depois internet, mas sempre audiovisual, algo hoje digital e à mão de toda a população no mundo inteiro. Portanto, na modesta estimativa deste CdL, o legado do Rei do Pop, enquanto potência, ou potencial econômico, vai rapidamente galgar a casa dos bilhões de dólares.

Mas fica aquela coisa de jornalismo culpado por especular de véspera que o misterioso sítio de Michael Jackson, de 13 mil hectares, ou uns cem gramados de futebol, iria virar atração turística internacional com potencial de uma Disneylandia do Google/Youtube.

O Correio da Lapa, que tem acertado mais do que errado, não teme especular. Os capitais virtuais já estão se engalfinhando por este legado repentino neste mercado real da saudade do maior símbolo dos tempos já digitais/audiovisuais.

Nada surpreende ninguém em demasia nesse espaço em que empresas que nasceram ontem já hoje são catapultadas ao topo do mundo. E se o Google comprar Neverland? E se Bill Gates entrar na parada e também for comprado pela corporação Google?

A propósito, qual grupo é hoje o mais forte no mundo da economia? Microsoft ou Google? À boca miúda, nas calçadas da vida, ainda se pensa em Bill Gates, ou neste e seus sócios como o conjunto mais rico. Mas, nas reentrâncias das esferas mais altas das grandes corporações, o Google já vai longe... Só falta o anúncio espetacular, midiático, de que Google cresceu tanto e tão depressa que nem se lembrou de avisar que ninguém precisa mais se preocupar em comparar seu valor com a fortuna de Gates e sócios-amigos.

O Correio da Lapa, agora num universo de Brasil e brasileiros, especula, no embalo do King of Pop, sobre dois ícones mundiais de extração tropical: Carmen Miranda e Pelé.
Considerando que a morte aqui apenas significa não uma passagem para outra forma de vida, mas máquina da saudade a serviço de novidades que produzem dinheiro, o velho e bom dinheiro neste tempo mesquinho dos valores materiais, não se pode esquecer desses dois exemplos nacionais.

Camen Miranda, a bombshell, a Pequena Notável, a exemplo do King of Pop, morreu com idade semelhante, em condições semelhantes, numa mansão também na Califórnia, cheia de remédios e mágoas. E tudo isso também depois de ser a número 1 do mundo no showbusiness. Não deixou um testamento vingativo como Michael Jackson em relação a pessoas cruéis que lhe foram próximas. E assim, os balangandãs, vestidos, turbantes e tamancões voltaram para o Brasil, como pesquisou Ruy Castro para a sua excelente biografia. Boa parte dessa memorabilia e bijuteria indo parar nas mãos de fãs no Rio de Janeiro. Já o ouro, as joias e o dinheiro ficaram com o marido americano que não a tratava bem

O problema de Camen Miranda, enquanto potencial pós-mortem, é que ela morreu em vida. O legado maior dela são as 200 músicas gravadas na década de 30 no Rio de Janeiro, são os shows dos primeiros anos no Brasil e nos Estado Unidos, mas parcos são os registros. E o pior dela é a filmografia americana, um pequeno mico até. Em boa parte já está ou está indo de vez para o Youtube, mas não rende grana. Nem as músicas do Brasil, maravilhosas, rendem caraminguás. O áiudio ainda era tosco. Quem tinha saudade dela está morrendo ou já morreu. O melhor de Carmen, enquanto investimento, oh paradoxo, é hoje a biografia de Ruy Castro, que deve virar cinema, um senhor filme.


Pelé, como me dizia o saudoso amigo, o repórter Oldemàrio Touguinhó, amigo também do Rei, só passou a ganhar dinheiro à vera depois que morreu para o futebol. Mas malandro precoce, ao contrário de Carmen Miranda, Pelé não morreu de verdade e muito menos, jovem, de repente. Mais do que isso, ou além disso, depois de ter morrido para o futebol, Pelé ressuscitou.

Quando decidiu retomar a prática do futebol, naquele time de exibição, o Cosmos de Nova York, Pelé passou a ganhar mais em um ano do que ganhara em toda a carreira de menos de duas décadas encantando nas quatro linhas.

Embora vivinho da Silva, foi quando Pelé "morreu" para o jogo é que a grana começou a lher sorrir, via anunciantes, num crescendo que deu em Mastercard e Viagra mundo afora, ícone internacional que é nos cinco continentes.

Aliás, outro amigo do King do futebol, o Pepe, meio profeticamente, dizia quando o craque era ainda um adolescente, segundo me contou Oldemário: "Pelé nasceu para ser notícia".

Andy Warhol, o Rei Pop das Artes Plásticas, desmentindo a si próprio, naquela máxima de que no futuro todo mundo será famoso por 15 minutos, afirmou que Pelé era uma exceção. Warhol, ao fotografar o Rei em Nova York, à época do Cosmos, afirmou que que o melhor jogador do mundo no futuro seria ainda mais famoso. Isso também é uma revelação de Pelé a Oldmário.

Morte, quase sempre, para quae todo mundo, é sinônimo de esquecimento, mas para Michael Jackson, Elvis, Pelé, Henrique VIII, Édipo, Warhol, Carmen Mranda, ou Cleópatra, é sinal de história ou poder. Os símbolos morrem, mas continuam conosco enquanto interesse, consumo.

Pelé, por vivo estar, e por se saber sempre "star", está de olhos bem a postos.

Como especulação, esta conversa não poderia ter mesmo fim nem objetivo. Mas, para não perder a viagem, vai de público o que só ia na mente. Talvez, com ajuda de algumas palavras quase esquecidas vindas do saudoso Oldemário, talvez em parte vindas de minha imaginação de jornalista, em torno das pequenas revelações que o colega dos bons tempos de JB me fazia. Mas andei pensando se naquele encontro, Andy Warhol e Pelé, para aquela série de fotos tipo polaroid, se o excêntrico artista da Pensilvânia não teria, entre rapapés e apresentações em Manhattan, naquela onda de que Pelé será ainda mais famoso no futuro, dito algo mais, algo assim: você será ainda mais famoso pelos próximos 15 séculos. Ou talvez Warhol tenha dito para paparicar o Rei pré-e-pós-Maradona: Marvelous, nem os diamantes são eternos. Só você o é.