Palavras de Sheila Leirner, no site Digestivo Cultural, a Jardel Dias Cavalcanti, entrevista que nos foi enviada por email de Octaviano Moniz Barreto:
(...) Pode-se e deve-se falar em crítica de arte sempre. Embora o sujeito da crítica seja a arte, crítica é crítica e arte é arte. Uma não tem nada a ver com a outra. Embora possa haver entrelaçamentos, as duas lidam com instrumentos totalmente diferentes. Portanto, se há relativização absoluta dos valores artísticos isso não quer dizer que há relativização absoluta dos valores críticos. Ao contrário. Quanto menor for a credibilidade na arte maior será a credibilidade na crítica e em todo esforço que for empreendido para analisar as suas contradições. Paradoxalmente, a crítica torna-se forte apenas em duas situações: quando a arte é muito forte e quando a arte é muito fraca.
Como você pensa o papel do curador hoje? Ser uma espécie de meta-artista?
Penso o papel do curador exatamente como pensava há 25 anos. Para mim foi o sonho de realizar no espaço as idéias críticas que antes eu colocava apenas no papel. Uma crítica tridimensional. Trabalho de arte sobre arte, como uma ópera, uma peça teatral ou um concerto.
Hoje, para que a curadoria seja um espelho da aventura criativa, continua necessário que qualquer projeto procure ser fiel aos valores nos quais a própria arte se origina. Sempre fui adepta de uma posição fenomenológica em relação à arte e às instituições que a acolhem. Sempre acreditei que para tratar de arte, se deve usar a própria "arte como medida". Continuo pensando a mesma coisa.
Portanto, um curador de arte não é e não pode ser apenas um "organizador", um jornalista, fotógrafo, artista, arquiteto, nem mesmo um historiador. Na minha opinião, este é um trabalho que só deve ser feito por um crítico ou por um profissional que possua ou que acumule, além das suas atribuições naturais, as prerrogativas críticas ― o que é muito raro, pois geralmente estas pessoas não possuem um trabalho reconhecido de reflexão sobre a arte. (...)