domingo, 5 de junho de 2011

Marataízes e Cachoeiro choram a morte de Luiz Carlos Santana



 Morreu Luiz Carlos Santana! Não morreu apenas o locutor de tantas emissoras capixabas, não apenas o narrador de tantas partidas de futebol no Espírito Santo. Morreu não apenas o médico pediatra, não apenas o político que foi deputado estadual, sobrinho do prefeito de Cachoeiro de Itapemirim Abel Santana. Morreu não apenas o filho de Dona Zenith, o irmão de Luiz Sérgio Santana, morreu um pedaço da minha infância na praia de Marataízes.
 Tenho recordações antigas dos garotos Luiz Carlos e Luiz Sérgio, ligeiramente mais valhos do que eu. A casa de seus pais e a casa dos meus eram parede-e-meia.
 Tenho lembranças do tempo em que a mãe de Luiz Carlos ficava na janelinha que não existe mais. Lembranças de uma rua que não era calçada e tinha como referência a colônia de férias do Rotary ou Lions, um casarão com um belo terreno indo margear o que é hoje a Avenida Rubens Rangel, a mais extensa estrada ligando Maratízes a Barra de Itapemirim. A Rubens Rangel em que eu via o trem, hoje inexistente, chegar procedente de Cachoeiro, a Rubens  Rangel de tanta poeira levantada pelo vento Nordeste infernizando a vida de veranistas  do outro lado que não o do mar.
 Não tenho lembranças e muito menos informação, posto que saí muito cedo de Cachoeiro, para elogiar ou criticar a atuação de Luiz Carlos enquanto político. Só tenho certeza de que ele e Luiz Sérgio adoravam como até hoje adoramos Marataízes... Eu, Luiz Sérgio, meus irmãos e tantos outros primos, conhecidos, vizinhos de verão, pessoas que nunca confundiram nem compararam Marataízes com outras praias, mais bonitas, menos pobres, mais resolvidas, não importa, somos pessoas que nunca trocam aquele pedacinho de lugar da terra por nada.
 Vai então Luiz Carlos como foram tantos que viveram tantos verões na última rua de Marataízes antes da Barra, rua rente aquele três quilômetros ou mais de pasto, moitas, cacimbas, campo de aviação,  trilhas, maratimbas, alegria de um  viver tribal.
 Vi Luiz Carlos Santana andando de bicicleta, já um tanto alquebrado, no verão de 2010. Neste último de 2011 apenas avistei Luiz Sérgio, poucas vezes, e ele me disse da doença degenerativa do irmão, uma variação de Alzeimer, disse que o irmão moribundo em Vitória pesava nada, carcomido pela enfermidade e abençoado pela perda de lucidez, algo que se não foi um alívio na agonia, pelo menos nos dá a chance de imaginar que não sofreu tanto quanto podemos imaginar que teria sofrido.
 O Nordeste vai soprar muitas tardes e noites a nos fazer lembrar que, assim como se foi Luiz Carlos, iremos todos, mas que, enquanto não vamos, é compromisso morrer de saudade e voltar pra sentir a brisa do mar.
 Vão-se embora os nossos amigos, vão-se embora os nossos amores... Crianças no sol da manhã, jovens na luz do luar, e na varanda a brisa do mar diz: diz que tem vida do lado de lá, e que todo verão pode ser o último, todo verão pode ser um adeus, todo verão pode ser o primeiro, verão é trem doido, a estação é uma onda, é vai-e-vem sem parar, verão é amor, verão é cantar, lararará....! É compromisso morrer de saudade e voltar pra sentir a brisa do mar. (Por Alfredo Herkenhoff)