Mercado da fama, entropia na audiência cativa. Coluna 4/7

O Brasil da televisão e as agências de publicidade sediadas em São Paulo criaram um castelo concentrador de ilusão indutora. O que não passar por eles não existe. Com isso, criaram uma entropia, um liquidificador que mistura os famosos num doping para gente com pouca informação, ou muita informação sem qualidade, gente que simplesmente aceita passivamente o quadro midiático, ou o segue cegamente.

Midiátio é um adjetivo que virou um vício de linguagem, sinônimo de carnaval do sucesso, de endeusamento da fama e da audiência com grandes e pequenos escândalos, televisão do vale-tudo o que é notícia, da roubalheira a entreveros pessoais, fofocagem e namoricos de gente tropeçando nos degraus do ibope.

Mas, internautas, artistas, universitários, intelectuais, escritores, profissionais liberais e diversos formadores de opinião em geral criaram alternativas, passam ao largo dessa fantasia barata da TV aberta.

A over exposure é uma doença do modelo, do padrão, e também doença do poder, doença do sucesso, fenômeno que você descobre que tem cura, ou que nem doença é, dependendo dos ângulos. Mas fenômeno que você, quando passa alguns meses no exterior - sem ver nada do Brasil, ou, não podendo viajar, mas quando simplesmente toma a decisão de desligar a televisão por vários dias ou semanas, e vai navegar nas páginas de um bom livro, ver um bom cinema, curtir um teatro ou mesmo visitar sites e blogs -, descobre que, mesmo que não houvesse cura, é algo dispensável.

Esta over exposure é apenas uma face da moeda. A outra é a audiência cativa. O problema já foi mais grave quando era maior a dificuldade de se mudar de canal, fosse por escassez de controle remoto, fosse por inexistência de fartura de canais de TV de assinatura. Foi maior quando não havia a internet. Por isso começou essa caça a internautas por parte de famosos das redes de TV.
Por um bom tempo, parecia que eram os anônimos que caçavam as celebridades. Agora registra-se o contrário.

A navegação na internet exige cuidados porque o lixo, o trash metido a chique, está sempre à espreita da curiosidade incauta, presa fácil da publicidade armada de consultas que parecem inofensivas, mas são ferramentas mortais na guerra do ibope, guerra do faturamento, guerra da celebração das celebridades.

Por Alfredo Herkenhoff