O autor Alfredo Herkenhoff (à esquerda) com o articulista Wilson Figueiredo,
um emblema do melhor Jornal do Brasil
(Foto de Wladimir Wong, que também trabalhou na Avenida Brasil 500)
O livro Jornal do Brasil – Memórias de um secretário – Pautas e Fontes, de Alfredo Herkenhoff, foi lançado em 31 de agosto de 2010, data da última edição impressa do diário centenário, que desde 1º de setembro existe apenas em versão digital na internet. O livro, de 436 páginas, é uma edição autoral em parceria com a Talento & Expressão, empresa de comunicação e marketing do jornalista Fábio Lau. No lançamento para colegas da profissão, como aconteceu na Lapa, Rio de Janeiro, o exemplar foi comprado a R$ 40. Nas livrarias e bancas de jornal, o preço oscila entre RS 60 e R$ 70.
Que história é essa de livro instantâneo?
O livro é uma imitação de um jornal, desde a sua capa, quem tem o famoso L dos classificados que durante décadas marcou a primeira página do JB, também chamado Jornal da Condessa. Mas em vez de notícias recentes, Pautas e Fontes relata tempos de uma história centenária. O livro foi editado como um jornal: correria contra o relógio, tensões, troca de fotografias na última hora, risco e busca de qualidade de modo a servir também de pretexto para a confraternização no dia do adeus às bancas.
Com quem trabalhou?
Embora livro instantâneo, dois terços contemplam produção minha, solitária, em duas fases: meados dos anos 90 e entre 2004 e 2006. E a partir do anúncio do JB de adeus às bancas, em julho, esses guardados ressurgiram como uma oportunidade - muito por instigação de Fábio Lau. Nessa reta final, trabalhei direto com este colega no fechamento e na conceituação da edição, cortando e depurando textos antigos. E nas últimas três ou quatro semanas, trabalhamos direto no contato direto e ainda no telefone e no email para reunir depoimentos e selecionar manifestações de colegas sobre o fim do JB impresso em diversos meios, blogs, jornais, revistas, redes sociais.
Como você dividiu os capítulos?
Não dividi, não há propriamente capítulos. Há reflexões e noticias, algumas recentíssimas, outras do século 19. São cerca de 180 tópicos, reproduções, depoimentos antigos diversos. Exemplos: uma entrevista com a primeira condessa, a Regina Araújo Pereira Carneiro, a emoções recentes, como as de Wilson Figueiredo, ex-braço direito de Dr. Nascimento Brito (dono do JB), manifestando esperança de que a instituição sobreviva nessa fase 100% digital. O livro contém de reproduções de análises, como a de Alberto Dines estimando que o JB morreu sem epitáfio, a linhas chorosas, declarações de amor e saudades de dezenas de colegas. Mas também conto casos de barrigas (erros) e furos de reportagem. Casos acontecidos no JB e noutros jornais. O livro não trata o JB com vanglória, nem conta a sua história cronologicamente. São flashes, momentos pessoais, sofrimentos e rejúbilos, momentos históricos, edições extras, crises, greves, decadência. Este conjunto é permeado ainda de várias passagens de puro didatismo, livro para estudantes, assessores de comunicação e leitores em geral. Como um mosaico de uma redação, o livro faz homenagens especiais a grande nomes super premiados que passaram pelo JB, como os saudosos Oldemário Touguinhó, José Gonçalves Fontes e Araújo Neto, além de homenagens especiais aos fotógrafos vivos Evandro Teixeira e Nilton Claudino. E na última hora, pintou uma homenagem comovente a Tim Lopes: um texto que seu filho Bruno escreveu, lembrando da infância com o pai, escreveu agora em 21 de agosto. Fechamos o livro dia 22 e entregamos na segunda-feira no dia 23 de agosto.à Zit Gráfica e Editora, que prestou serviço apenas de impressão.
Por que decidiu fazer o livro? Há quanto tempo vem trabalhando nele?
Como já respondi, comecei há décadas e vi a oportunidade de concluir em semanas como um pretexto para reunir jornalistas que hoje atuam nos grandes meios de comunicação do Brasil. Eu já tinha experiência de livro instantâneo: Livro do Jobi (badalado bar, no Rio), que propiciou uma grande celebração da urbanidade no Leblon e levou aquele antigo boteco a se tornar um bistrô de luxo com preços proibitivos a muitos coleguinhas. O aspecto instantâneo de um livro é fórmula pouco explorada no Brasil e embute riscos e benefícios: uma publicação a jato é garantia de pequenas falhas, como as de digitação, com revisão apenas parcial sem tempo para pegar tantos descuidos, algumas falhas terríveis como datas e nomes, outras são mero exagero, mas, em contrapartida, edição instantânea é garantia de intensidade, emoção com legitimidade, livro que nasce com um marketing da comemoração em torno de uma data especial, ou de um acontecimento, bom ou ruim, mas que desperta grande interesse, seja histórico, seja social.
Entre as inúmeras histórias de bastidores do JB, quais você destacaria no livro?
O instante em que Pelé, de terno a gravata, abraça o repórter Oldemário Touguinhó totalmente nu, num quarto de hotel em Caracas. Rolou testemunha. O dia em que um executivo do jornal telefonou de um iate em Angra dizendo que o corpo de Ulisses Guimarães tinha sido encontrado e que o JB devia noticiar no segundo clichê na edição de domingo. O secretário Roberto Pimentel Ferreira se negou a inserir versão sem comprovação e foi aplaudido no dia seguinte. Mas na agência JB, uma repórter inexperiente (foca) acatou o furo do patrão e perdeu o emprego horas depois. Produzi, a partir de titititi de meus chefes, um diálogo que imaginei possível entre o gestor do JB e sua mais famosa colunista. Ele se surpreendendo com o pedido de demissão quando se preparava para dizer a ela que o salário seria cortado à metade.
Entre os depoimentos que você colheu, quais destacaria?
Há depoimentos pequenos e impactantes como o do jornalista e escritor João Máximo (autor da biografia de Noel Rosa), lembrando de um almoço com o correspondente Araújo Neto, em Roma, e dizendo que não consegue falar da morte do JB com bom humor. Há um texto denso de Nilo Dante (recordista em chefiar grandes jornais no país), que estuda a circulação dos principais diários desde meados dos anos 90, com queda generalizada. Este texto propicia reflexões sobre o futuro da mídia e do jornalismo digital a caminho da predominância nas próximas décadas.
Quantos anos você trabalhou no JB? Em que período?
Vinte anos em dois períodos. De 1981 a 1987. Fui redator internacional, secretário noturno, ou gráfico, copydesk da 1ª página etc. E de 1991 a 2005, secretário, chefe de reportagem, redator momentâneo em editorias de política, economia e esportes, em situações como Copa, eleições e pacotes anti-hiperinflação. Fui colunista do Caderno B em 2003 e depois por dois anos operei fora da redação, no marketing, editando cadernos especiais dos últimos grandes seminários promovidos pelo JB.
Como avalia o fim da venda do JB em bancas?
Num certo sentido, algo previsível, tiragem em queda livre.... 15 mil ao dia nos últimos meses, encalhe e falta de investimento em bons profissionais da reportagem. Vejo o caso com tristeza. Nos últimos anos, a saída de grandes nomes do JB, como Joaquim Ferreira dos Santos, Verissimo, Xexeo, Zuenir, Ancelmo e outros foi se dando passo a passo com um clima de morte anunciada no redação então apelidada de Titanic. Lembro que Carlos Drummond de Andrade dizia que não há nada mais triste ou melancólico do que a morte de um grande jornal. Ele se referia ao Correio da Manhã, que fechou em 1974 e onde trabalhou por quase 20 anos. Em seguida, o poeta trabalharia uma boa temporada no JB. Mas, a sentimento serve para qualquer grande jornal.
Qual a importância do JB para o jornalismo brasileiro?
O JB viveu seus anos dourados a partir de meados da década de 50 até meados dos anos 80. Uma de suas grandes marcas aconteceu no período ditatorial quando, a partir do AI5, em 1968, soube marcar posição pela redemocratização. A Maurina Dunshee de Abranches, segunda mulher do conde Ernesto Pereira Carneiro, promoveu uma revolução plástica no matutino a partir de 1956, abrigando os principais escritores e artistas do país em suas páginas.
Na sua opinião, o fim do JB nas bancas é um caso isolado ou uma tendência do jornalismo do futuro?
De junho de 2009 para cá, três jornais diários deixaram de ir às bancas: Tribuna da Imprensa, Gazeta Mercantil e JB. Não será isso uma tendência?
O que mais, Alfredo?
Conto casos de passagem envolvendo donos de jornais e chefes de redação. Mas nenhum deles denigre a honra de ninguém. O livro não é um ajuste de contas, não é nenhum Tribunal de Nuremberg da mídia carioca . O livro acima de tudo humaniza o trabalho em jornal.
E sua presença na PUC nesta segunda-feira, 13 de setembro de 2010?
Se deve a convite de professores com quem trabalhei no JB. Tenho um amor pelo Jornal do Brasil semelhante ao amor que tenho pela PUC, onde me formei em 1976. A propósito, eu queria pedir desculpas por ter permitido que uma frase saísse publicada na orelha deste Memórias de um Secretário - Pautas e Fontes. Está dito: a leitura deste livro vale mais do que um semestre em faculdade de Comunicação. Mas não é verdade. O exagero foi apenas uma ferramenta agressiva de marketing para destacar aspectos didáticos do livro. Em respeito a milhares de estudantes e professores, mil perdões, são falhas assim que tornam um livro instantâneo um ‘mal necessário’. Mas espero sim que o livro ajude universitários a pensar no rumo profissional que estão prestes a dar em suas vidas. Por isso estamos iniciando na PUC um ciclo de debates acadêmicos sobre mídia impressa, passado e futuro, havendo já quase dez encontros pré-agendados em outras faculdades do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas e São Paulo. Talvez desses encontros surja alguma novidade editorial.
Fim
Segue a conta para depositar R$ 40 mais R$ 5 de tarifa de impresso... Em caso de envio por Sedex, depositar R$ 62 (ou R$ 40 mais R$ 22 de expedição e embalagem). Neste caso, o livro segue depressa e com autógrafo.
Fim
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