segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Gramado: festival com tradição na crise do desprezo da massificação do pop global

Deu no site do Zero Hora (*)

O lugar de um festival de cinema


Festival de Gramado segue a revisão de seu modelo buscando driblar a crise das mostras tradicionais de cinema

A maratona de filmes, homenagens e encontros do 37º Festival de Gramado que vai se ver até o fim da próxima semana é a continuidade de um trabalho que teve início há quatro anos, quando José Carlos Avellar (foto) e Sérgio Sanz assumiram a curadoria do evento em meio a uma crise de identidade que o fazia, cada vez mais, perder a sua força.

Filmes como La Próxima Estación, do mestre argentino Fernando Solanas, mais o uruguaio Gigante e o peruano La Teta Asustada, ambos elogiados no Festival de Berlim, dão corpo à mostra deste ano de longas latinos – para uns a verdadeira força de Gramado, para outros um equívoco de rumo do festival que noutros tempos já foi a maior vitrine para as produções brasileiras. Mas o maior impacto da política implementada pelos novos curadores se faz perceber na seleção de títulos nacionais.

Detectar tendências e debater o cinema autoral sem desprivilegiar o desfile de estrelas da tevê – eis a missão para a qual Sanz e Avellar foram contratados em 2006. O resultado positivo determinou a permanência de ambos, mas a incapacidade de Gramado impulsionar a carreira dos filmes vencedores ainda faz repensar o seu modelo. O que será do festival daqui para a frente?

– Seguir o que vem sendo adotado – diz Avellar. – A seleção de filmes de um festival têm muito a dizer sobre a produção cinematográfica. É isso que seguimos. Entrar no circuito está ruim para quem participa dos festivais? Está pior para quem não participa. Também orientamos essa seleção pensando nas dificuldades de distribuição que os títulos terão. Um festival tem de ser pensado imaginando a vida cultural de seus filmes.

O surgimento de eventos como o de Paulínia (SP), que distribuem pequenas fortunas aos vencedores, também passou a oferecer forte concorrência. Gramado se mobiliza para não ficar atrás, explica Avelar:

– Estamos seguindo o exemplo dos festivais de San Sebastian, Guadalajara e Toulouse, que pagam um “aluguel” às produtoras pela cessão das cópias que são exibidas. Assim garantimos retorno financeiro aos autores de todos os filmes, não apenas aos que saírem vencedores do festival.

Novo problema: a gripe A

Os sete homenageados de Gramado 2009 – incluindo dois gaúchos – já confirmaram presença na Serra, apesar dos rumores de que a direção da TV Globo teria aconselhado atores que estão gravando novelas a evitar eventos e viagens por conta da epidemia de gripe A.

A organização cancelou o tradicional concerto de abertura da Ospa. O concerto deste ano. excepcionalmente, foi com a Orquestra da Unisinos. A maratona no Palácio dos Festivais teve início com a exibição, fora de concurso, do clássico Memórias do Subdesenvolvimento (1968), do cubano Tomás Gutiérrez Alea.

(*) Por DANIEL FEIX