Gnomos num pequeno jardim
O significado do nome Herkenhoff não é bem conhecido nem mesmo entre alemães. A palavra guarda traços de uma fusão de línguas européias. Numa rápida investigação etimológica, um pequeno pesquisador me permitiu saber na internet que Herken em alemão é quase pequeno homem. Hoff é quintal em holandês. Herkenhoff poderia ser então o quintal do pequeno homem. Mas ampliando a especulação bilíngue, Herken poderia derivar do holandês Herkennen, isto é, vir a saber, ou descobrir. Então não é implausível ver no nome um quintal da descoberta, ou numa metáfora exagerada, jardim das delícias.
Mas Herkenhoff não cabe em si. Por isso eles se espalharam pelos quatro cantos do mundo, alguns no Brasil, notadamente em Santa Catarina e no Espírito Santo; outros preferiram países da Europa. Uma leva emigrou para os Estados Unidos. Não importa o quintal. Talvez sejam descendentes dos antigos gnomos.
A propósito, gnomo, como um pequeno Herkenhoff, é personagem, anãozinho, da mitologia nórdica e, em especial, do folclore germânico, mas o termo para designar anãozinho tem origem grega, gnosis, significando exatamente conhecimento.
Como o mundo é mesmo um pequeno e frágil jardim, e como pequenos são os homens diante de tanta grandeza para se descobrir, não é de estranhar que Herkenhoff, em qualquer ambiente que esteja, se sinta criança num quintal. Curiosamente, há pouca gente com o nome Herkenhoff na própria Alemanha tão séria e vetusta.
Ao contrário daquela boutade carnavalesca, o tal concentra mas não sai, Herkenhoff sai, mas não concentra. Ama a liberdade com a força daquele brocardo jurídico: tirem-me tudo, menos ela.
Ampliando a especulação, fica fácil explicar por que quase todos os Herkenhoff gostam tanto de trabalhar como se equivalesse a brincar de plantar e descobrir, compreendendo que viver bem, como eterna criança, é ver o mundo como se fosse um arraial, todo mundo cantando, olhando as estrelas, de mãos dadas com a solidariedade e com o fascínio pelas descobertas. Isso não quer dizer que sejam todos superinteligentes, mas sim que são todos abertos à generosidade, vivendo e deixando viver num espaço menor do que o todo, um jardim dentro da arquitetura maior.
São pacifistas que não fogem à luta, como a maioria da humanidade. Herkenhoff é um nome próprio absolutamente comum. É um nome que, no mundo, como todo mundo, não vive sem liberdade em nenhum quintal. Por isso que ainda não existe Herkenhoff na China. Mas logo, logo, os chineses, pacientes e nada bobos, convidarão os primeiros Herkenhoff a se misturarem por lá.
E como esses gnomos se misturam com todos os povos, essa estranha sopa de consoantes aos ouvidos brasileiros não tem formado um grande número. São poucos os Herkenhoff no mundo. Antes de uma explosão demográfica tribal, Her-ken-hoff vira Pe-rei-ra, vira Mon-tei-ro e vira Ba-da-ró com extrema facilidade, sem precisar falsificar nenhuma assinatura trissilábica. De tanto amar a liberdade, Herkenhoff, em nome dela, e da vida, abre mão até do nome próprio e se torna Santos ou Silva num constante processo de irmanação.