terça-feira, 10 de março de 2009

AUGUSTO HERKENHOFF É


ARTISTA PLURAL

Diante dos trabalhos de Augusto Herkenhoff temos a autonomia de um pintor largado, ou, numa redução singela, pintor neo-expressionista e desenhista arguto, uma singularidade plural. Constatamos, na sua profusão de estilo, profundidades, vibrações, planos, espaçamentos, linhas, formas, cores, massas, densidades, transparências, exercícios, conhecimentos, liberdades lúdicas, trajetórias, pontos, equilíbrios, dinâmicas, estruturações, explorações, tradições, contradições, tons, vestígios, invenções, objetos, composições, surpresas, luzes, deliberações, figuras, relações, formalismos, informalismos, expressões, impressões, ismos, descrições cotidianas, personagens, traumas, temas, texturas, abstrações, geometrismos em todos os espaços, segredos, totalidades, materiais, volumes, olhares, interpretações, articulações, diálogos, pausas, leituras, releituras, insinuações, pistas antigas e novas, circularidades, modos, meios, tensões, registros mais do que palavras, luminosidades, conjuntos, fases, máquinas cenográficas, mecânicas, flagrantes, angulações, fantasmagorias, caveiras, fantasmáticas, cabeças, lirismos, rosas, naturezas-mortas, Nossas Senhoras, mosaicos, orientações, módulos plásticos, auto-retratos, subjetividades, representações, mistérios, terrores, influências, fascínios, marcações, sínteses, escolas, evoluções, superposições, visões matéricas, desafios, codificações, sutilezas, intenções, máscaras, inserções, enxugamentos, soluções casuais, pretensões, ilusões épicas, ilusionismos óticos, técnicas mistas, impactos visuais, vazios metafísicos, percepções, camadas voluntariosas, construções, convergências, desconstruções, aberturas, direcionamentos, gradações, opções cromáticas, opções primárias, imersões, cerdas, pincéis, pop-pós, pinceladas, gestos, lápis, tintas, campos, imagens, símbolos, quase-monotipias, relevos dos violões, instabilidades, trenzinhos caipiras, denúncias, ídolos, questões sociais, contrastes, suportes, traços orgânicos, traços dispersos, cariocas, capixabas, pulverizações, repetições, corpos, condensações, membros, troncos, adereços, mobílias, logradouros, paisagens, enfeites decorativos, homenagens, ritmos, obsessões, opacidades, alteridades, distanciamentos, confissões, ligações, simetrias, assimetrias, historicidades pictóricas, aspectos sensoriais, raízes de tudo, têmperas, têmporas, respostas inconscientes, atualizações emocionadas, controles eruditos, descontroles propositados, instigações intermitentes, espelhos imaginados, palhetas, vidros, brilhos, botões, quinquilharia sintética, colares, cofres, livros, genitálias, pelames, sinais gráficos, explosões ondulatórias, pulsões datadas, intensidades, descobertas posteriores, intuições, fusões, deslocamentos, perversidades, detalhes toscos, perspectivas pessoais, molduras, doutores, carnavais, vidas passadas, mortos vivos, projeções, encantamentos, velhas artes.

Tudo é desenho e pintura se assim vi pare na arte de Augusto Herkenhoff emanando o prazer de fazer, a infância resguardada no envelhecimento precoce que não a impede de se perpetuar como criação emblemática de um tempo que dá voltas sobre si próprio, tempo histórico. Obras que acumulam números e sonhos, cores, riscos e poesia, ora quente, ora fria. Obras beirando o universo, a espiral, como uma eterna brincadeira de roda. Arte rodando o lápis e o pincel e se fazendo sem medo de crescer inteligente e feliz, mesmo quando aterrorizante ou trágica na origem. Cada obra como um teatro, um acontecimento único, seja trabalho único, seja serial. Arte como uma proposição ou gratidão de um olhar para outro olhar. Rigor na sujeira, rigor na pureza, rigor no fazer, rigor com uma visceralidade que parece destinada, já ao nascer, a se mostrar como fossilização antiqüíssima que não precisou pedir licença para invadir o século 21 e garantir o vigor dos novíssimos olhares.