segunda-feira, 23 de março de 2009

Editorial: Lula, Meirelles, Alencar, Petrobras, greve, crise, juros, E todo mundo no Jobi, o boteco de luxo no Leblon

Editorial do Correio da Lapa

Comentando com bom mau humor as notícias num papo de botequim de luxo, com Lula falando da crise, Vera Fischer, do silicone, Meirelles e Alencar, dos juros, José Gabrielli e outros clientes enfrentando a greve e os preços altos...

O presidente Lula em muitos aspectos se assemelha ao presidente Obama. A crise mundial começou oficialmente há mais de seis meses, exatamene em 15 de setembro. No início, quase todo mundo notou que era megacrise e todo mundo se sentiu meio desnorteado. Agora, o mundo inteiro adota políticas semelhantes... Com alguns perigos e algumas teimosias: na Argentina, por exemplo, a Cristina Kirchner presidenta quer impor barreira para reduzir o déficit comercial com o Brasil. Ou seja, quer gastar menos, menos comércio, para que gastemos mais. Uma idiota... Obama quer barreira para proteger empregos dos americanos, ou seja, quer barreira. Não, idiota não é ainda não, mas é uma idiotice o que defende. Lula não quer barreira nenhuma no exterior, mas o Brasil impõe também muitas barreiras. Sonhador, mas com bolsa-família, Lula garante o emprego de Dilma Roussef e a sua volta, dele, Lula, ao Poder formal daqui a seis anos. O poder de fato ele não perde botando Dilma para guardar a vaga.

Petroleiros na bacia das almas de uma greve e as lutas de José Alencar

Os petroleiros querem vantagem, como se não soubessem que ter um emprego na estatal é estar num dos melhores cenários da economia brasileira, pois é monopólio, se não mais na perfuração e posse de poços, pelo menos o é na fixação do preço dos combustíveis na bomba dos postos, fixação em comum acordo com o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto. Resultado, preço do litro no país quase sempre pela hora da morte e entre os piores do mundo.

José Alencar, o vice que há mais 11 anos enfrenta câncer na estômago e intestino, trava uma guerra ainda mais difícil contra o presidente do BC, Henrique Meirelles. Esta guerra começou há seis anos. E vem perdendo todas as batalhas contra os juros altos. Lembremos a Merielles que, como dizia o poeta Ezra Pound, a usura é um câncer no azul.

A discussão que rola nos botequins do Rio é a seguinte: os juros são altos por que Meirelles e sua turma do Copom temem a volta da inflação? Coisa que a juventude de hoje nem sabe mais o que foi na prática? Ou Meirelles e o Copom gostam mesmo de juros altos para deixar os bancos brasileiros sólidos como destacou esta semana a revista britânica The Ecnomist?

No Brasil há muita demanda reprimida. Com dinheiro e crédito fáceis, a inflação volta sim. Todo mundo quer trocar de geladeira, quer trocar a TV velha por uma moderníssima digital, todo mundo quer trocar a velha carroça por carro com air bag, agora obrigatório, segundo lei sancionada por Lula esta semana.

Mas cabe apenas ao Congresso, ao verdadeiro Lula e a Meirelles a responsabilidade pela impossibilidade de tanta troca e mobilidade social. Eles não deixam o Alencar trocar o padrão do Brasil.

Tolerância, Bispo Macedo, destinos do Brasil no boteco, quem tal Jobi?

Alencar é voz dissonante, é reserva emocional da serenidade e do trabalho total, intelectual e braçal, sofisticado e humilde. Alencar, no entanto, é o mais saudável dos quatro. É aquele mineirão da lavoura e a realidade têxtil... Ele não tem nenhuma intolerância de ordem alguma, nem religiosa nem de modas e vaidades. Sua mulher, por exemplo, fez promessa por um filho do casal e, há décadas, nunca mais usa nenhuma jóia, embora com dinheiro para comprar a caverna inteira de Ali Babá. Alencar até se associou partidariamente a a um bispo que se inventou e criou uma igreja depois de sair do emprego na Loterj. E hoje Edir Macedo tem um jato quase igual ou melhor do que o AeroLula. E tem a TV Record agora só fazendo proselitisimo religioso de madrugada, para audiência quase zero. O bispo Macedo avança nos calcanhares do Ibope da Rede Globo nos horários nobres. Sílvio Santos virou múmia da terceira idade enquanto a Record fica cada vez mais parecida com a Globo.

Isso não é de todo ruim. A Record está melhorando pela simplicidade e pela imitação. A Globo podia correr um pouco mais rumo a novos padrões de qualidade... Existe uma mesmice na Globo, um auto-afago, um eterno videosshow, um eterno big brother da juventude mais inexpressiva. Ou um eterno eu te elogio, tu me elogias, nós nos elogiamos... Celebridade global virou moeda fácil até no Restaurante Botequim Jobi. Lá ninguém pede autógrafo a ninguém famoso. Claro, os melhores artistas estão mesmo na Globo, no Leblon, no Jobi e noutros poucos cantos e recantos... Alguns de mala e cuia para a Vênus Universal do Bispo.

O destino do Brasil passa pelo Botequim. No Jobi tem juizes do Supremo, tem petroleiros em greve, já teve a ex-primera-dama Ruth Cardoso e família, teve a Vera Fischer... Só falta botar numa mesa, num sábado à tarde, os três: Lula, Meirelles e Alencar. E de carona, o José Gabrielli, presidente da Petrobras. E o Planalto ficaria mais relax, e o Brasil talvez se encaminhasse mais depressa rumo a um futuro imediato do bom senso, com mais dinheiro para educação e saúde, com juros mais baixos para trocar a geladeira por uma menos poluente e com mais rigor na condenação dos corruptos ladrões do dinheiro suado dos contribuintes.

Deputado do Congresso no Jobi não convém, mas se chegar será bem chegado, de preferência um romântico Fernando Gabeira, um idealista Cristóvão Buarque, um laborioso Chico Alencar, um ex-confuso José Genoíno, um janota ACM Neto. O Jobi aguarda o início do mundo.
Por Alfredo Herkenhoff
fim