segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Gremista agride time por tentar vencer Flamengo

Jogadores do Grêmio foram agredidos ao voltar para Porto Alegre por torcedores inconformados com o fato de o time ter tentado vencer o Flamengo e quase ajudado o Internacional a se tornar campeão do Brasil.


E veja o que deu no jornal gaúcho Zero Hora:

DIRETO DO MARACANÃ

Surreal à carioca

Eram 17h25min de um certo domingo, 6 de dezembro de 2009, quando aconteceu algo realmente inacreditável em um século de rivalidade na Província de São Pedro. Em nome de um título brasileiro para o Inter, o Grêmio fez 1 a 0 no Flamengo, calando quase 85 mil no Maracanã. Inclusive gremistas misturados aos rubro-negros na insólita luta por uma derrota do seu time. Estava começando um filme surrealista que talvez demore outro século para se repetir.

Os colorados vibraram no Beira-Rio. Vibraram com um gol do Grêmio, de Roberson. E com mais entusiasmo do que no primeiro gol do Inter no Santo André, ocorrido quase ao mesmo tempo. Outro episódio incrível, diga-se. David, aos 29, empatou para o Flamengo, mas o empate ainda dava o título ao Inter. E agora?

Veio o intervalo no Maracanã.

Os dirigentes do Grêmio passavam à frente das posições de imprensa, em direção ao bar do Maracanã, com rostos tensos. Nervosos. Pânico, na verdade. Não desceram até o vestiário. O vice de futebol Luiz Onofre Meira voltou para o seu lugar com dois copos de água nas mãos. Mudo. Depois passou o presidente Duda Kroeff, igualmente mudo.

Era claro o que estava acontecendo.

O time quase todo reserva mandado à campo pela direção do Grêmio lutava pelo resultado que daria o título ao Inter. E com um desempenho raramente obtido pelos titulares. Podia até perder, como de fato perdeu com o gol de Ronaldo Angelim, aos 29 do segundo tempo: 2 a 1, Flamengo hexacampeão. O estádio tremeu apenas antes do jogo, com carros de som tocando Ivete Sangalo e notícias da presença de Boban Petkovic capturando imagens para o filme que produz sobre o irmão, o sérvio Petkovic.

Durante a partida, os cantos flamenguistas silenciaram de pavor. A explosão só veio rigorosamente após o apito final do árbitro. Explosão de rubro-negros e tricolores, vale dizer. A festa foi ecumênica. O filme é surrealista, não esqueçamos disso. A cada desarme ou dividida vencida durante a partida, os jovens jogadores do Grêmio vibravam. Thiego e Fábio Santos batiam as mãos espalmadas no alto.

Os poucos gremistas que permitiram de bom grado o acesso dos rubro-negros ao espaço destinado ao visitante, em clima de camaradagem, não entendiam mais nada. Para que aquele sofrimento todo? Por que o goleiro Marcelo Grohe pegava tudo, às vezes salvando chutes à queima-roupa de Adriano, imagine, logo de Adriano? Qual o motivo para Mário Fernandes arrancar feito búfalo em direção ao gol de Bruno, driblando quem aparecesse na frente? E Roberson, por que marcou aquele gol?

Encerrado o jogo, derrota no campo e o Inter vice, os dirigentes desceram para o vestiário. A tensão agora dava lugar ao semblante de alívio. Era apenas o epílogo de uma história que começou a ser contada no instante em que o Grêmio pisou na Cidade Maravilhosa. Ainda no aeroporto, torcedores do Flamengo se misturaram aos jogadores e cantaram o hino. Depois, nas cercanias do hotel, os pedidos de autógrafos eram precedidos de um apelo emocionado, quase uma súplica:

– Vão entregar, né?

Orientados pela direção, os jogadores silenciavam. Viram torcedores comprando camisetas do Flamengo no Rio. Impossível não escapar um sorriso disfarçado, ao menos. Mas ninguém falou nada antes da partida. Mesmo diante de brincadeiras como a de Antônio Carlos, funcionário do hotel onde está a delegação.

– O gringo aquele não veio, né? O argentino... – perguntou ele, festejando ao saber da ausência de Maxi López.

– Tivemos que aguentar tudo quietos, mas acho que demos uma boa resposta. Perdemos, mas não entregamos – desabafou o volante Adilson.

E assim terminou o filme surrealista que talvez demore mais cem anos para acontecer na rivalidade Gre-Nal. Ainda não foi desta vez que um rival ajudou o outro a ser campeão. Mas alguém esperava gremistas arrasados e colorados vibrando, ambos sinceramente, com um gol do Grêmio? O domingo, 6 de dezembro de 2009, não será esquecido tão cedo na Província de São Pedro.

diogo.olivier@zerohora.com.br