Arte, trabalho e política *
Hoje à noite, no Rio de Janeiro, depois do show de Marceu Vieira, Tuninho Galante, Roberto Menescal e Wanda Sá, vou direto para o Aeroporto embarcar direto para Nova Iorque. Vou participar de um seminário envolvendo arte e política, no Bookforum, The New School.
Sei que o avião só vai decolar na hora e se tornar uma realidade se não houver um novo apagão, se não jogarem uma pedra no meu veículo, como a de 25 quilos que matou horas atrás a Dona Irene Moreira da Silva Pereira, Irene que não ria enquanto morria, Moreira da Silva que não teve malandragem para salvar o Pereira da dinastia afro-cristã-nova. Morreu Irene, Irene dormia e morria. Sobrevivi à última bala perdida.
O seminário no auditório Tishman (66 W. 12th Street, New York), na próxima sexta-feira, 19 de novembro de 2009, envolve arte e política. A Nova Escola fez o convite prometendo um encontro para investigar questões como as mudanças na mão-de-obra americana, como o trabalho pode ser recompensado com um mínimo de justiça numa economia pós industrial e como os direitos do trabalhador podem ser preservados.
Vou para Nova York de olho em Pequim e Copenhague. Na China, Obama e Jintao falando grosso, como os dois maiores poluidores do planeta. Obama meio tímido, pela primeira vez recebendo um tratamento não-estelar. A China está tratando Obama como um presidente sem tantos poderes. Os dois chefes prometeram surpresinha na Dinamarca, onde o Brasil ecológico vai de Lula, Carlos Minc e Dilma Rousseff cheios de números e arrogância. O estilo é Minc, o alvo é Dilma na Sucessão. A despoluição são números para bem depois. Mas o Brasil exala otimismo, e isso é positivo num encontro que estava fadado para ser um fracasso.
Mas em Nova York a discussão no Bookforum se pergunta: diante da roda crise econômica, o trabalhismo americano arregaça as mangas e parte para uma reforma. Como está hoje a organização do trabalho? Os trabalhadores americanos reduziram suas expectativas a fim de competir no mercado mundial? Os trabalhadores americanos já se perguntam se podem se unir a detentores de postos de trabalho em países para onde corporações dos Estados Unidos exportaram inúmeros empregos? Ou os americanos estariam condenados a competir em meio a uma tendência decadente com relação a perdas de direito, incluindo o de se organizar? A grande maioria dos trabalhadores americanos terá sido abandonada por Washington? Num mundo interligado em todos os níveis, será cada um por si?
Os ilustres participantes do seminário são Kim Bobo, especialista em trabalho e religião e autor do livro O roubo de salários na América, e também, do estudo Por que milhões de trabalhadores americanos não estão sendo pagos e o que fazer sobre isso?
Thomas Frank, ensaísta, fundador e editor da Baffler e colunista contratado do Wall Street Journal e autor do livro Como os conservadores ganharam o coração da América.
Thomas Geoghegan, advogado trabalhista de Chicago, autor do livro Te vejo no tribunal, mas de que lado tu estarás?
Andrew Ross, que leciona na New York University e escreveu o livro Bacana se você conseguir um bom emprego: vida e trabalho em tempos precários.
A moderação na mesa fica a cargo do editor do Bookforum, Chris Lehmann. O evento tem participação do Centro Vera List for Art and Politics.
Ainda sobre o show desta terça-feira, dia 17, no Teatro Carlos Goomes, lembrar que Wanda Sá e Menescal têm histórias incríveis de sucesso e aventuras, incluindo gravação em estúdio no dia do golpe de março/abril de 1964...
Vou viajar pensando na crônica A família Silva, de Rubem Braga, Dona Irene e Luiz Inácio. Um dia todo mundo se reencontra.
* Por Alfredo Herkenhoff
Correio da Lapa nas asas da Pan Air