segunda-feira, 30 de março de 2009
Lula botando culpa nos olhos azuis e inocentando os castanhos gera polêmica no The New York Times
Lula e Obama, os olhos azuis, a culpa pela crise e o fosso que se alarga entre as posições dos países emergentes e dos Estados Unidos
O influente The New Yokt Times publicou neste domingo uma artigo assinado por Maureen Dowd (foto) sobre a guerra de palavras em torno da crise financeira internacional. A colunista destaca o agravamento das disputas entre países emergentes e a elite americana, como se fosse uma loucura o que está rolando. Maureen observou que a fala de Lula causou mais impacto do que a agressão ao papa, que recebeu 65 mil camisinhas pelos correios, num protesto contra o condenação do uso de preservativo na visita que fez à África, onde milhões de pessoas pobres morrem com Aids. O destaque na mídia americana em geral foi a declaração do presidente Lula ao primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Gordon Brown, semana passada em Brasília.
Lula tossiu, cuspiu restos de pão de queijo com os quais se engasgara e abriu fogo, numa acusação com contornos raciais: a crise foi causada pelo comportamento irracional dos brancos com olhos azuis, que pareciam saber tudo sobre mercado e não sabem nada, disse Lula na descrição da colunista do Times.
Lula tem olhos castanhos como aliás Brown, continua a colunista para, em seguida, fazer um apanhado sobre ter ou não olhos desta ou daquela cor. Escreve ela que o premier visitante ficou pálido enquando Lula continuava dando o tom do que vai falar no G-20 na Inglaterra esta semana. Lula lembrou da pobreza na infância, da fome, de dividir espaço em casebre com ratos e baratas, das enchentes. Falou dos desperdícios dos ricos.
O artigo cita banqueiros de olhos azuis recebendo ajuda de Obama e lembra de presidentes quase todos de olhos azuis na Casa Branca, poucos de olhos castanhos como os de Lula e quase sempre, estes poucos, enfrentando sérios problemas para manter o Poder.
Resumindo: o artigo diz que Lula abriu, com certo humor, uma velha ferida que separa etnias nos EUA. Foram citados ex-candidatos à Casa Branca que desistiram rapidamente da disputa porque pesou, entre outros fatores, o fato de não terem olhos azuis, como Mario Cuomo e Collin Powell. Maureen cita pesquisa mostrando que a maioria dos americanos acredita que pessoas com olhos azuis costumam ser mais inteligentes. Ela comenta também os olhos gelados de Dick Cheney, ex-vice presidente de Bush. Os últimos presidentes com olhos castanhos foram Nixon e Lyndon Johnson, ambos eleitos nas década de 60.
Observa a colunista que a maioria da iconografia de Cristo mostra Jesus com olhos azuis, algo raro naquele tempo naquelas bandas da Galiléia.
Maureen cita o ator Paul Newman prevendo o que seria seu epitáfio: Aqui jaz Paul Newman, que morreu de falência ou falha (failure) quando seus olhos ficaram marrons (Nota de Alfredo Herkenhoff: brown em inglês é marrom - ou castanho na língua lusa, esta denotando positivamente a latinidade. Na língua inglesa, a palavra marrom parece ter afetação pragmática e negativa da cultura anglo-saxônica da colunista. ).
Mas Maureen ressalta que o presidente Barack Obama e sua família já causaram uma revolução na cultura e nos preconceitos, havendo hoje na mídia americana uma avalanche de publicidade que mostra pessoas negras como gente de olhos castanhos, gente que faz sucesso, com muito charme, elegância e roupas de griffe. No encerramento do artigo, ela diz que os olhos castanhos de Obama se tornaram "as janelas dos vencededores".
Cartas de toda parte comentam o artigo dos olhos azuis de Lula e a política americana
(Tradução livre, de um fôlego só, não exatamente literal, por Alfredo Herkenhoff, de algumas das ínúmeras cartas que estão chegando ao The New York Times).
Eu gostaria de propor uma moratória na avidez e na crocodilagem. Desafio Stewart e Colbert a começarem com isso. (...) Por que é engraçado um torneiro mecânico crescer e virar presidente? (... ) Lula deu voz a bilhões no mundo. O que eles estão pensando agora? Aposto que você não ia achar engraçado se sua família estivesse morrendo de cólera porque algum banqueiro em Nova York jogou irresponsavelmente e levou um país pequeno à falência. Você demonstra piedade e raiva para pessoas como Caroline Kennedy, que sinceramente não precisa de sua ajuda. É uma vergonha que trabalhadores pobres nos EUA e no mundo não tenham alguém como você para defendê-los
O B. Mull, Condado de Orange, California;
Fiquei perplexa com este artigo. As pesquisas que você menciona não tem valor metodológico. É verdade o fato de que as pessoas com olhos azuis sejam mais inteligentes? Ou tudo não passa de consequência de um privilégio porque, historicamente, tiveram mais acesso à educação e a atividades que as tornam mais hábeis no jogo do golfe? Não acredito que avidez ou propensão para a imoralidade estejam confinadas jamais a uma raça, muito menos à cor dos olhos. Olhe os sistemas de casta em torno do mundo. Quando a oportunidade é oferecida, poder e a cor castanha se tornam equalizadoes de fato.
Cristine, San Francisco
Pessoas de olhos azuis causaram muitos danos nesta terra, mas não estão sozinhas. Li sobre alguns líderes africanos que viveram em escritório só para enriquecer, sem nada fazer para os cidadãos de olhos castanhos, pessoas não-brancas vivendo em condições miseráveis enquanto seus líderes de pele morena acumulavam fortunas pessoais enormes. Um pequeno país asiático, a Coréia do Norte de olhos castanhos, enfrenta a fome vivida por seu próprio povo há décadas. Líderes que encarceram toda uma população. A crueldade existe de todo tipo, formas e tamanhos, em todas as cores da pele e do olho.
Kathleen, San Juan.
Meus cumprimentos Maureen. Isto reflete uma expressão típica do Brasil. "Lindo, louro de olhos azuis". Refere-se mais a europeus, uma expressão anti-colonial. Significa basicamente aquela expressão "nah nah smarty pants, you think you are so smart and look what you did." (você se acha tão bacana e veja a lambança que você fez). É para ser usada quando alguém esnobe e arrogante comete um erro grave. A expressão é totalmente apropriada nas circunstâncias.
Kathleen - Kathleen, El Pso.
Senhora Dowd, como uma proprietária de olhos castanhos, faço uma ressalva na sua referência a LBJ; Jonhson teve sim suas falhas, mas igualmente um sucesso impressionante em muitas áreas, incluindo na aprovação de leis. Pode-se alegar que elas tonaram a eleição de Obama possível. Interessante nesse tema de olhos azuis/castanhos é ver o trabalho de Jane Elliott, que usou a mesma questão lecionando sobre discriminação durante muitos anos. Vale a pena dar uma olhada no seu site, em http://www.janeelliott.com/
Finalmente, para aquelas de nós com olhos marrons, se os olhos azuis derem uma impressão melhor, você pode usar lentes de contato com essa cor e fazê-los ficar azuis (...).
B. Starks, Austin, TX
A avidez não reconhece cor da pele. Quando o machado veio à floresta as árvores disseram: "Olhe lá, o punho era de um de nós". Precisamos de um paradigma alternativo para o desenvolvimento. Apontar para A's (porque Michelle Obama incentiva) é louvável, mas não o bastante porque a lição permanece a mesma. Onde estão os incentivos para a paz, para viver livremente? Onde está o tempo e espaço para que as pesoas pensem, compartilhem de ideias, participem na democracia local? As pessoas estão com um medo sempre crescente de perder empregos, planos de saúde, hospitais e aposentadoria (...)
Aravinda, Mumbai, India.
Artigo excelente sobre o que o mundo sente atualmente com relação ao branco anglo, os do high society, os que exploraram historicamente a carne e o dinheiro dos olhos castanhos. Como o comércio escravagista esteve nas mãos quase inteiramente de americanos britânicos, tem-se esta confusão em que todos acordam de repente para o problema da corrupção. Muito dinheiro desapareceu. Nós, naturalmente, queremos tempo para aprender, se Barak puder realmente fazer a diferença… Ou se decide simplesmente que é mais fácil se juntar a um partido que esteja chegando para permanecer no poder por muito tempo...
Michael, Rochester
Sua interferência chama certamente a atenção para uma apresentação complexa da identidade racial, étnica e pessoal, talvez melhor apresentada por Toni Morrison no "O Olho Mais Azul". Contudo, seu artigo é alarmista. Você parece comemorar a ascensão final das pessoas com os olhos castanhos sobre as de olhos azuis. Na minha mente, não é isso que a eleição do presidente Obama representa. Cada vez que presto atenção ao presidente Obama, tenho um sentimento grande de esperança que nossa sociedade esteja caminhando para um lugar onde nós vamos julgar as pessoas por seu caráter, não por atributos físicos. Espero que em textos subseqüentes, você se concentre no espírito de inclusão social de Obama, atenção nele como oportunidade para construir um sentimento de comunidade e integração de todas as pessoas nos EUA.
(...) Por favor não reduza a grandeza desta possibilidade para o progresso sem senitdo de um mero exame da cor dos olhos.
- RI, Durham, NC
Vejo no comentário de Lula muito mais uma acusação aos europeus e a americanos não-indígenas do que discussão séria de um assunto importante como a cor dos olhos. Já que estamos tratando disso, da cor, veja atenção os americanos africanos na publicidade. Há um número desproporcional deles com os olhos azuis. Tenho a pele branca e os olhos azuis, mas espero que algum dia paremos de acreditar que essas coisas têm algo a ver com minha capacidade de atuar na economia. Minhas dificuldades com a Matemática só serviriam para me reprovar. Fico triste por aqueles que sofreram na infância por não terem a cor azul nos olhos. Passei por isso aos nove, dez aos de idade, quando vi que havia um abismo entre a minha aparência branca e a aparência ideal para o nazismo.
Lila, New Haven
Como um velho homem branco de olhos azuis, saúdo o presidente Lula. Ele está certo. Mal posso me lembrar do tempo em que pessoas como eu estavam na guerra matando gente de olhos castanhos. Estamos fazendo isso agora mesmo no Paquistão. E teve o Quência, a Malásia, Burma, Árica do Sul, Rodésia, Vietnam, Palestina, Iraque, Afeganistão, Congo, Granada, Panamá, Argélia, Abissínia, Filipinas, Moçambique, Angola. Isso é só a lista parcial do meu tempo de vida. É hora de parar com isso.
Andrew Smallwood, Cordova, Alaska