domingo, 31 de maio de 2009

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De noite embalamos as nossas noites
By Alfredo Herkenhoff
Sou os fragmentos de uma hora suja. Sou coruja, uma granada desmemoriada, uma poética, sou coleta da maior Paraíba, a emoção das linhas obtusas. Por tanto amor, tentei amar a noite nos bares de então, onde a gente se amava com sofreguidão. E falávamos do céu risonho, do luar que cai sobre a mata porque a noite é alta. De manhã nossos planos de acordar porque levamos a vida a cantar. Fosse noite de são João, quando o céu fica iluminado, fosse fogueira da noite passada em que sonhei com você, cor de gema de ovo, luz, cor dourada do xixi.
Carolina minha, noite na janela, nesses delírios de ver a cidade a luzir, sabendo que o fim da história sustenta anúncios luminosos. Noite da orgia, que se acabou de tanta porrada, sob estrelas que esquecemos de contar, estrelas que se deixam surpreender em troca de um beijo que acende a luz na Pizzaria com tudo de bom.
Cada idiota da velha cidade vai se alembrar que aqui passaram ladrões e carnavais a enrolar todos na lama. Quantas vezes ninguém dorme porque as noites estão enfraquecidas e vazias, na solidão das horas mais frias? O amor é um azul, um enorme acontecer, entre o ser e o não ser.
Daquela noite nada esquecerei porque bebi à vontade. Mas, numa desgraça da dinastia, eu descobri que você me enganava. E veio a vontade de matar com o ódio implacável, o mesmo que senti quando me iludi pensando que você me queria outra vez.
Tudo cinza sem você, tão vazio, e a noite apita o amanhecer. Foi o açoite, o chicotear, a exploração exposta, como um colírio oftálmico, aliviando a cegueira de Zé Pereira, que era noivo e dançou nos dois sentidos a noite inteira.
Uma mulher louca pra uma vida torta, mas já não importa, pescador não vai pra pesca, não vai pescar, embora seja noite de pescador. O amor estica o seu arco, seis horas da tarde, não vendo a hora do sol deitar lá pro fim do mundo, só pra noite voltar.
As motos roncando na beira do mar, na tesão do gineceu o sino gemeu. É tanta alma penando na noite que é de nós dois. De tristeza não quero saber mais, quero só batucada, de noite e de dia, porque disseram que o sol ia nascer antes da grande trapalhada.
Quem bebe a noite toda, vomita na rua, passa mal sob a luz solar, e de nada adianta o perfume da roseira ou a lembrança da lua bordando sonhos no portão. Neste mundo de Deus, o botão da meia-noite chama o vento a brincar de leque na palha do coqueiro, aquele mesmo que dá coco nas noites claras de luar.
A luz do sol enfraquecia a luz da lua quando o samba se acalmou. Nossa esperança de outrora, a Lapa me diz agora.
Seu Beleléu bebeu a noite inteira até cambalear na calçada, sem vontade e sem mulher. Passou as últimas horas da sua vida na Praia de Copacabana, dançando até desmaiar. O cansaço ficou sem espaço no terreiro. Perdeu uma noite linda de luar.
Paisagem negra, calma e constelada, ternura que encantou, que esta noite serenou, mas não molhou. Eu rondava a cidade, a procurar hei de sentir a nova rosa que houver, a mais linda que vier a lavar os cabelos que quero enxugar com a água da fonte, numa cachoeira no jorro da noite sangrenta.
Que me tragam harmonia, a saudade de um amor que ainda fulgura no céu. A noite linda fica mais linda sem o véu da vaidade, nos prazeres dos momentos felizes, longe dos dias tristes, das noites de inverno. Eu comeria a noite inteira, dos seus cabelos aos pirilampos, das estrelas aos rios de águas claras que vão fazendo passar os peixinhos de nenhum anzol.
Mas uma saudade enjoada me impede de compreender por que insiste em partir em vez de ficar comigo esta noite.
Banhada pelo sol, a praia beija o mar, deixando a lua enciumada, mas a noite alta vai voltar. E a mulher de 30 ficará moça, mocinha, arrancando pedaços de solidão, sombras de uma paixão sem saber se vai voltar noutra noite louca.
A chuva chorosa fazia a cidade chorar também no lençol azul, na noite do meu quarto a entorpecer os meus pecados. Mas se você ficasse comigo, talvez eu não me sentisse tão só, porque reconheço quando é de dia ou e noite, mão na cabeça, um tormento, à noite inteira até o sol raiar. Não, quando você foi embora, fez-se noite, sem amor nem lua, noite escura, noite que o desejo se vê no escuro, de uma paixão cega.
Tudo passa, a vida aventureira de quem era feliz e não sabia fazer a dança das flores no pensamento, trazendo o canto da noite na loucura do vento, no perfume de Gardênia, que não encanta mais, não alisa a mão no pescoço, num tempo que se foi tempo rondando as noites vazias. E não me venha dizer o que será noite fria sem você.

Em outra ocasião, o céu estava assim em festa, São João no ar, dando tiro em baloeiro pra salvar a aviação acima do terreiro. Aquela noite de junho, amor estrelado beijando a imensidão subindo. Vai vai vai, diz que vai vai vai, diz que não vai mais, tira roupa da lua morena, cigana do ventre na noite que fez o sol da manhã. Sofri, ninguém sabe o quanto, quantas noites eu chorei acendendo a fogueira do meu coração.
Meu triste coração, minha amargura, o preço da traição, a noite negando perdão, noite torturando alguém que adora estar nos seus braços, sobre o nosso amor que no céu surgiu, mas só restou uma palavra, adeus. E assim vamos reverenciando a cosmogonia de um amor.
Convidei a saudade a se retirar da minha vida, mas ela não se ligou, transformada que estava em noite a me maltratar. Eu só, no cais do porto. Acreditando que a próxima noite iria ser boa. Mas será que vai rolar? Vai ficar comigo, balançando numa onda azul, na canção do mar?
A chuva cai em paz enquanto é noite num lugar e dia aceso noutro lugar que faz a flor brotar. Nem por isso, sem sofrimento, compreendendo o seu coração. Deixarei de fazer irreverências exageradas. Mas é tão tarde, e a manhã não vem. Já fiz o meu poema sobre a noite, nada sobrou na minha natureza de copulação copiadora, misturando meu queixume que faz a luz do dia transar com a luz da noite, apenas por saber que o ciúme me matava naquele instante, cada instante em que você estava dormindo tão bem com outro bem. A noite do meu bem é a minha noite de corno morno. Morro na noite para não amanhecer no ódio da sua ilusão. Deturpo a noite. Vomito as noites que ouvi porque nada mais ouço na noite do meu bem.
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