Jamil Chade, enviado especial - O Estado de S.Paulo
A Fifa mantém intacta sua posição de que a tecnologia não deve entrar em campo para ajudar o árbitro em suas decisões. Mas, ironicamente, os juízes tornaram-se as pessoas que menos veem o que ocorre em campo. Com até 40 câmeras espalhadas pelos estádios, a Copa da África do Sul é a mais dissecada nos 80 anos de história dos Mundiais.
A estimativa da Fifa é de que a Copa de 2010 será o evento mais visto da história, com um público acumulado de quase 30 bilhões de pessoas, cinco vezes a população do planeta. Para atrair ainda mais a atenção dos espectadores, a entidade adotou duas estratégias principais: levar o público para dentro de campo e garantir que todos os detalhes sejam minuciosamente mostrados.
Uma nova tecnologia teve de ser desenvolvida para atingir tais objetivos. Para levar o público para as quatro linhas, a Fifa apostou na difusão dos jogos em três dimensões. A Copa é a primeira a ser mostrada nessas condições. Para muitos, é uma revolução como a passagem da TV preto e branco para a colorida.
Nesta semana, a Fifa comemorou o projeto de difusão dos jogos em 3 dimensões, indicando que supera todas as expectativas, mesmo com os atrasos na transmissão das imagens. Canais na Espanha, França, Austrália, Oriente Médio, Coreia do Sul, Japão, Estados Unidos e Canadá estão sendo os primeiros a mostrar a nova tecnologia. Além disso, 300 cinemas em 30 cidades do mundo estão mostrando as imagens.
"Filmar eventos esportivos em três dimensões está ainda na infância. Mas isso mostra que ainda há muito que podemos fazer pelos torcedores", afirmou Niclas Ericson, diretor de TV da Fifa. Há ainda problemas de imagem e atrasos em relação à difusão tradicional. "Mesmo assim, a resposta que estamos tendo é muito positiva", disse Peter Angell, diretor de programação da HBS, colaboradora da Fifa.
A tecnologia para garantir essa transmissão exige oito câmeras, além do equipamento já usado para a transmissão tradicional. O posicionamento de cada uma simula a visão humana, dando a sensação de profundidade.
Outra estratégia para levar o público até a África do Sul é a "câmera aranha", pendurada sobre o campo, que faz o acompanhamento aéreo do jogo.
A Fifa também buscou garantir que todos os detalhes sejam mostrados em câmeras superlentas. O resultado, porém, tem sido a geração de polêmicas ainda mais intensas, já que dificilmente um lance escapa de uma das 40 câmeras espalhadas pelo campo.
Polêmica. Em alguns jogos, a Fifa repetiu os lances duvidosos no telão do estádio, momentos depois do apito do árbitro. Em alguns casos, ficou claro o erro do juiz, o que provocou vaias nas arquibancadas. Um exemplo foi a carregada de bola de Luís Fabiano com o braço no segundo gol contra a Costa do Marfim.
Vendo a pressão aumentar sobre o árbitro, a Fifa optou por suspender as imagens "complicadas" e apenas mostrar lances considerados mais "tranquilos". Apesar das polêmicas, a entidade indica que a revolução de imagens chegou para ficar.
No fundo, a Fifa troca a ideia de construção de grandes estádios ? que acabam se transformando em elefantes brancos ? por arenas menores e mais sustentáveis. A renda que não viria de entradas é multiplicada por contratos milionários de transmissão. No total, são 400 canais de todo o mundo com contratos acumulados de US$ 2,2 bilhões com a Fifa para ter o direito de transmitir as partidas.
A estratégia já dá resultados. A audiência tem batido todos os recordes. Nos Estados Unidos, 3,3 milhões de pessoas, em média, estão assistindo a cada jogo, 64% acima dos índices de 2006. No jogo entre Inglaterra e Estados Unidos, há duas semanas, 13 milhões de americanos acompanharam a partida pela TV, recorde absoluto no futebol.
O mais incrível, segundo os cálculos da Fifa, é que mesmo uma partida entre Camarões e Dinamarca, no sábado passado, atingiu a audiência de 8,7 milhões de pessoas na Alemanha e 6,7 milhões na Itália. A taxa na TV italiana foi 50% superior a qualquer outro programa naquele fim de semana.