Depois do Chocolate
Correio da Lapa - Notícia interpretada
Por Alfredo Herkenhoff
Flamengo pega o Cruzeiro na quinta-feira no Maracanã. Daqui para a frente, Mengão é só porrada
O Flamengo perdeu por 4 a 1 para o Grêmio neste triste domingo de 16 de agosto de 2009. O resultado sinaliza para algumas ilusões de curto prazo: parece que o rubro-negro ganhou um chocolate do tricolor gaúcho no Estádio Olímpico. Engano, o Flamengo tomou um chocolate produzido por si próprio. O Flamengo botou leite, Toddy e acúçar. O Grêmio apenas ofereceu a xícara e a mexidinha no saboroso chocolate. O Flamengo foi melhor entre aspas quase o tempo todo nas duas etapas. Mas por que o placar?
A mídia - Gazeta Press - amanhece dizendo: "Victor, Victor, Victor, um milhão de vezes Victor. O goleiro gremista foi o herói na vitória gremista sobre o Flamengo" (...) "O resultado, válido pela última rodada do primeiro turno do Campeonato Brasileiro, não mostra o que foi a realidade da partida" (...) Segundo a mesma mídia, "foram, pelo menos, seis intervenções extraordinárias do camisa 1 do Grêmio"
Quando se diz que o Flamengo perdeu meia dúzia de gols não significa que chutou para fora ou na trave quando um atacante estava sozinho diante da meta. Todas as finalizações do Flamengo foram em cima do goleiro do Grêmio. Parecia não existir explicação, que era uma macumba pela qual Adriano, Emerson e Everton Silva só finalizavam no lugar exato onde Victor estivesse. Ou será que os atacantes apenas provaram que existe inferno astral?
Será que Victor, o herói do jogo, defendeu uma sucessão de finalizações cara a cara apenas porque a bola o queria? Seria cruel tirar os méritos do goleiro que, no intervalo do primeiro tempo, já advertira; se estou aparecendo muito é sinal de que algo vai mal no Grêmio. Na etapa final, Victor apareceu ainda mais. Goleiro de Seleção de Dunga, Victor tem seus méritos, claro.
O colombiano Perea, que não começava como titular havia oito meses, inaugurou o marcador com gol de cabeça. Quem não faz gol de cabeça em Bruno é incompetente. Qualquer ataque aéreo mostra a fragilidade da zaga rubro-negra, zaga fraca também ao rés do chão. Mas o Flamengo empatou com Everton. Na segunda etapa, Réver fez 2 a 1, falha de Bruno, e o Grêmio ampliou com Jonas fazendo dois gols de pênalti, duas infrações bem marcadas pelo senhor juiz e pelo menos uma delas cometida sem a menor necessidade.
A dura realidade de Andrade (treinador do Flamengo pela sexta vez, ou seja, já foi afastado cinco) é que o elenco rubro-negro não é lá essas coisas. Tem talentos e juventude, mas tem a interferência do mercado que parece exigir escalação de jogadores fora de ritmo de jogo.
E num contraponto a Victor, o incensado mas nunca convocado goleiro Bruno (esta semana ele foi homenageado como cidadão do Rio de Janeiro) viveu uma jornada também de inferno astral na ensolarada tarde de inverno em Porto Alegre. Bruno falhou no chute de perto da meia lua: deu um salto na linha do gol para um nada, com a bola rasteira passando sob seu corpo. E nos dois pênaltis, tudo bem, goleiro nunca foi obrigado a agarrar a penalidade máxima, mas nas duas vezes Bruno se precipitou: na primeira, avisou antes do chute que já estava caindo para o lado, e Jonas mandou tranquilo para o canto oposto,. Na segunda cobranca, Bruno se conteve um pouco mais na hora de escolher um dado errado, mas, do jeito que se mexeu, demonstrou que faria a opção do salto radical, e Jonas, desta vez, chutou forte exatamente no meio, porque sabia que ali, o lugar mais fácil de não errar a meta, o goleiro do Flamengo não estaria.
Chocolate armado, a imagem de Bruno de joelho, no quarto gol sofrido, mostrava bem o que é o Flamengo de hoje: time que tem Adriano Imperador precisando dar uns conselhos não só aos jogadores dentro de campo, mas também aos dirigentes, e em especial, ao próprio Andrade.
Bem comentou dias atrás o presidente da ABI, Maurício Azedo, que também é conhecido rubro-negro e amante das músicas dos antigos carnavais: o Flamengo não tem um elenco confiável. Falta armador. Falta tranquilidade. E a cartolagem não parece que vai garantir uma coisa ou outra.
Flamengo em décimo lugar na tabela ao encerrar o primeiro turno do Campeonato brasileiro de 38 rodadas. Rubro-negros sabem que estão no lugar certo, numa exata meia distância entre os quatro primeiros colocados, todos na zona de classificação para a Libertadores, e da zona de rebaixamento, com os quatro últimos. com destaque para a presença marcante do triste Fluminense, derrotado no domingo pelo fraco Coritiba, no Maracanã, por 3 a 1.
O Grêmio enfrenta na quarta-feira o Santos na Vila Belmiro. O Flamengo pega na quinta
-feira, no Maracanã, um Cruzeiro ainda traumatizado com a perda do título na final da Libertadores. Ou seja: é hora de uma virada. Daqui para a frente, o Mengão é só porrada.
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