Recessão chega ao Cartel da Rocinha e às Tabajaras
Parece que para Sérgio Cabral, Lula e Henrique Meirelles, o Brasil está a caminho de se tornar uma sociedade guerreira como a Holanda.
Nessa confusão toda, peneire o ouro do cascalho. E salve-se quem puder na crise dos ativos podres.
- (*) Eu bebia um vinho sozinho na Rua Santa Clara quando começou o tiroteio. Eu havia ido lá para trocar a lente dos meus óculos. Todo mundo fugiu do bar, muita gente sem pagar. Não me mexi. Fiquei sozinho. Só bem depois soube que havia cinco mortos... Mantive a calma com o corpo. Mas a cabeça deu um nó. Entrei num transe. Concluí que a loucura da crise financeira mundial tinha invadido Copacabana. Eis o que passou por mim naqueles minutos terríveis:
Ra- ta- tá- tá...
Ra- ta- tá- tá..!
Ra- ta- tá- tá..!
O que é um ativo podre? Um papel derivativo? O que é isso? Um papagaio que não fala? Que só chora porque ninguém vê mais valor no bico dele? Nada disso... Ativo podre, ou "um bem tóxico", no jargão de certa imprensa dos EUA, é o que está na origem da crise financeira, que nasceu na competição desenfreada das apostas bancárias e empresariais sobre valor futuro de bens não garantidos devidamente nem por produtores, nem por devedores também apostadores.
Os bancos americanos, com ajuda de seguradoras, financiaram casas para classe média baixa e para pobres. Depois, os bancos pegavam esses papéis e os revendiam para quem acreditasse que aquilo era uma ciranda bacana e sem fim. Os próprios bancos negociavam entre si uma papelada sem devedor capaz de honrá-la. E a cada negociação surgiam lucros fictícios, como o do Fundo Madoff. Aquilo era na verdade uma pirâmide, uma corrente da felicidade.
O presidente Obama está aprovando nesta semana um plano B para brecar a crise mediante recompra desses papéis podres que ninguém quer. Obama segue injetando centenas de bilhões de dólares nos bancos privados e nas seguradoras. A ideia básica da Casa Branca é recapitalizar esses setores para fazer o crédito voltar e a economia crescer novamente. Mas, à primeira vista, injetar bilhões, quiçá uns dois trilhões, nos bancos cujos executivos nadam em ouro, nadam em bônus e nadam no quentinho das mansões, parece premiar os ladrões com dinheiro dos contribuintes.
Obama e seus assessores no Fed (no Banco Central) e no Tesouro não estão tão certos de que esses ativos podres ficarão para sempre podres. Com a volta do crescimento da economia, muitos papéis voltarão a ter valor razoável, não se sabendo quanto, e para que não pareça uma socialização dos prejuízos dos bancos patrocinada pela Casa Branca, embora os ricos quebrados mantenham mordomias, Obama quer comprar só a metade dos papéis podres. Assim, se 50% derem lucro, o governo Obama, o povo dos EUA, lucra recuperando empregos. Se a recompra de parte dos papéis podres for mesmo um grande erro, como muita gente acredita, incluindo governantes europeus, Obama perde os trilhões nos 50%, e os bancos quebram de vez perdendo a outra metade, perdem a primeira e talvez última chance de não serem socializados, isto é, estatizados, justo pela potência que mais guerreou pelo liberalismo, apelido para a política de deixar o mercado jogar à vontade, especular e apostar o que não tem na cotações futuras.
Tudo estourou com a crise da tais hipotecas, aquele empréstimo de casa própria nos EUA valendo nada, porque a própria casa não vale mais nada. Há bairros inteiros, quarteirões inteiros em cidades do estado de Michigan, abandonados. Os bancos pegaram as casas dos mutuários falidos e agora as oferecem a um dólar porque naquela rua ninguém quer morar, só tem assaltante e viciado. Os mutuários se foram. Os bancos tem que pagar o IPTU local e outras taxas de manutenção. Assim, a hipoteca micou.
Mas se a economia voltar a crescer, se Obama decretar moratória geral de cinco anos na amortização para essa massa sem dinheiro, as casas voltarão a ficar cheias, e todo mundo será de novo feliz
CRISE TAMBÉM NO MEIO AMBIENTE
Ra- ta- tá- tá...
Ra- ta- tá- tá..!
Ra- ta- tá- tá..!
Todo mundo feliz, meno a natureza, que o meio ambiente, apesar de toda essa crise, continua a ser dilapidado pelo consumo. A natureza chora não a crise financeira, mas a pequenez da crise no que esta tem de incompreensão do problema ainda mais grave da degradação ambiental.
Produzimos energia retirada da natureza em áreas quase sempre distantes das grades cidades, que apenas brincam de se preocupar. O consumo é o verdadeiro vilão e ninguém o imagina em outras bases. Tudo é homeopático entre ongs e essas governanças com manias de responsabilidade social, pelo menos até hoje. Extraímos recursos da natureza numa velocidade maior do que a capacidade do ambiente de se refazer da agressão. A curto prazo não há saída. A longo, talvez não dê mais tempo...
VIOLÊNCIA HOLANDESA NA RUA SANTA CLARA?
Ra- ta- tá- tá...
Ra- ta- tá- tá..!
Ra- ta- tá- tá..!
E não é só em Detroit e Los Angeles que o problema da violência social e ambiental se agrava não. Acabo de saber que aqui na Rua Santa Clara em Copacabana umas cinco ou dez pessoas foram mortas a tiros e, num tiroteio que nunca será bem explicado nem pela polícia do governo Sergio Cabral nem pela imprensa pressreleaseana.
Na Holanda, onde ninguém usa droga, a polícia quase não tem trabalho. Lá os homicídios se multiplicam aos borbotões, mas ninguém liga no Tribunal de Haia. A Justiça de Rotterdam ou Le Havre vira as costas, apenas soma e soma e anuncia a sentença: Oba! Pelo menos não estão matando juizes da casa de Orange. Já no Brasil, e na Terra de Santa Clara, tudo é proibido, ou na verdade nada o é? Mentira na rua é proibida no Brasil? Onde está escrito que é?
No Brasil, os bancos são fortes porque os juros com que o governo os remunera é alto? Ou são fortes porque os juros que cobram do consumidor é mais alto ainda? Não, no Brasil os juros são baixinhos. Enquanto Washington hoje cobra a exorbitância de menos de 1% de juros ao ano, e em alguns casos nem cobra isso, empresta sem ônus e até disposto a perder, no Brasil os bancos oferecem cheque especial com juros de dez cento ao mês. Mas aqui não tem problema pagar ou não pagar. Aqui não faz muita diferença desde que você tenha amigos ricos na Zona Sul do Rio de Janeiro, nos Jardins em São Paulo ou numa daquelas asas perpendiculares à Esplanada dos Inválidos Ministérios de Brasília.
Então estamos conversados: pouco importa se os bancos americanos vão conseguir honrar os prejuízos que tiveram com a quebradeira das apostas especulativas nos papéis derivativos. Nos EUA, existe disposição para ir à luta. Lá tem guerra civil se preciso for.
Aqui se fala muito, se morre pouco, pelo menos nas páginas de jornal, a morte é curta, é guerra silvícola, e os parentes dos mortos temem falar ou não são sequer ouvidos porque talvez não interesse ouvi-los.
Mas na rua, nesta Rua Santa Clara, onde a mentira não é proibida de fato, e o pessoal aqui da Santa Clara sabe bem disso, a violência é culpa dos holandeses que ficam exportando exctasy e importanto ouro e diamantes há séculos.
Vocês não acham que o Rio de Janeiro, com tão poucas mortes a tiros, onde quase nunca assaltante mata, onde nunca a polícia mata, está virando uma cidade tão segura quanto Teerã de madrugada/ Tão segura quanto Tóquio de madrugada? Ou tão segura quanto Oslo de madrugada?
Nesse momento a situação já está quase tranquila, claro que estará logo voltando a ser tranquila em todo o Rio de Janeiro. Se houver guerra de polícia e narcotráfico na sua rua, não se importe. É coisa passageira. Fique quietinho. Se correr, pelo menos não pague a conta. Se você não morrer com uma bala cruzada, não se incomOde. Essas guerrinhas também não incomodam Gilmar Mendes do Supremo nem Henrique Meirelles do BC.
E o que você vir no jornal será a pura expresão da verdade dos fatos, iguais a esses que embuti nesse monte de mentira.
Ra- ta- tá- tá...
Ra- ta- tá- tá..!
Ra- ta- tá- tá..!
Caraca! Essa guerra por dinheiro e derivativos da polícia e derivativos do narcotráfico já está ficando chata...
Seu Manoel, vê minha conta aí. Vou encarar a calçada... Acho que já tranquilizou... Peguei as anotações e saí...
fim
(PS - Saí feliz pensando no show de Liza Minelli que eu iria ver na dia seguinte... E vi!)
(*) By Alfredo Herkenhoff