segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Estátua na cara de Berlusconi nocauteia oposição


Dizem que os estadistas merecem uma estátua. Berlusconi, dias depois do Non B-Day, recebeu uma estatueta de bronze no rosto. O agressor, um desajustado mental, chama-se Massimo, um parente distante de César Tartaglia. Seu golpe, premeditado ou não, atingiu mais a oposição do que os conservadores do Cavaliere de tantos escândalos. A direita fala em terrorismo, quando só se sabe que o clima de ódio atingiu o ápice no frontal do símbolo midiático de uma política de preconceitos raciais.

Diversamente de Bush, que se esquivou de uma sapatada, o líder italiano não tinha como evitar o cruzado com luva de bronze, no souvenir mais popular da catedral de Milão. O Duomo é encimado por uma outra estátua que, na réplica em miniatura, assemelha-se a uma agulha. Massimo Tartaglia, com duas fotos neste Correio da Lapa, é o pivô de um distúrbio social. A solidariedade à vitima ensanguentada não a exime de desprezo por sua governança que mistura performance midiática, suruba na mansão Vila Certosa na Sardenha e suspeitas de que a Máfia tem seus vínculos na elegância do Cavaliere. Acusações nebulosas recheadas de prostitutas de mil euros a noite.




Berlusconi, qual guerreiro árabe, saiu do carro minutos depois de ser atingido. E antes que em segundos os seguranças o botassem de volta na limusine a caminho do São Rafael, deixou claro que o Youtube é dele. Tartaglia foi apenas uma gota de ilusão envenenando o jardim da oposição. Milão nem sempre dita a moda. Às vezes, importa a violência, repete os mesmos chavões do desespero político.
Se não há palavras lúcidas num gesto de um maluco psicótico, sobram possibilidades de compreensão do seu terrorismo individual. Qual manifestante árabe arremassando sapato, o protesto violento do italiano de 42 anos de idade entra para a História como mais um sinal de que onde tem fumança tem fogo. O chefe do governo de Roma mostrou que não está blindado. O Homem de Ferro sangrou no choque com um metal mais macio. A tentativa de homicídio irrigou a ideia de que não adianta bater o tempo todo. Mas, como vítima, Berlusconi nocauteou a oposição e agora caminha rapidinho para a beatificação, qual mártir do Século XXI, o Século das Luzes da Corrupção.
Por Alfredo Herkenhoff