Texto do jornalista Jorge Antonio Barros no Globo Online:
Mais de 24 horas depois ainda estou me recuperando da ressaca afetiva que é assistir à morte de um jornal que foi um patrimônio histórico, político e cultural de um país. A felicidade é que o "enterro" do Jornal do Brasil, ontem de manhã, virou uma cerimônia fúnebre ao melhor estilo de Nova Orleans, com muita conversa, emoção, abraços, reencontros, almoços dos colegas e, à noite, prosseguiu na festa de lançamento do livro de Alfredo Herkenhoff (Memórias de um secretário - pautas e fontes), que me brindou com uma dedicatória inesquecível, na qual me chamou de "eterno estagiário do JB". Chorei.
Apesar da perda fiquei orgulhoso de fazer parte da equipe de um jornal que reservou nada menos que duas páginas para contar a história do fim do JB em papel, em elegante reportagem de Paulo Thiago de Mello, redator da economia, sentado aqui praticamente do meu lado. Thiago achou até leitores com mais de 80 anos, que se uniram aos jornalistas e ex-funcionários do JB na Cinelândia. Cerca de 150 pessoas foram até lá participar do Dia de Afeto ao JB, que se transformou num encontro inesquecível. Queria ter feito essa reportagem, mas estava emocionado demais, vendo rostos antigos e personagens que já nem sabia estarem vivos, como Carlos Alberto Teixeira, o redator da seção de cartas do JB, onde dei meus primeiros passos em direção ao jornalismo, como assíduo missivista.
Ao final do encontro, o grupo posou para fotos na escadaria da Câmara dos Vereadores. Na hora "h" ainda consegui me afastar para fazer imagens para um vídeo que ainda estou editando. A foto é histórica porque reuniu num só lugar o maior número de integrantes de várias gerações de jornalistas, que nasceram, cresceram ou já chegaram grandes no JB. Vi Celina Cortes, Mônica Freitas, Fernanda Pedrosa, Sandra Chaves, Rose Esquenazi, Iara Cruz, Débora Dumar, Joelle Rouchou, Elisa Ramos, Gloria Alvarez, Teresa Cristina Levy, Ana Lúcia Madureira de Pinho, Márcia Penna Firme, Beth Marins, Maria Alice Paes Barreto, Aguinaldo Ramos, Evandro Teixeira, Humberto Borges, Antonio Athayde, Mário Pontes, José Emílio Rondeau, Orivaldo Perin, Ancelmo Gois, Alberto Jacob, Rogério Reis, Maurício Menezes, José Luiz Alcântara, Zé Sérgio, Israel Tabak, Sérgio Fleury e José Silveira - prestes a completar 80 anos - entre tantos outros. Leo Schlafman chorou.
O melhor da manifestação - que não foi protesto contra nada - foi justamente a capacidade que os ex-funcionários do JB tiveram de não se calar em casa, diante da tragédia. Foram para a rua manifestar seu afeto pelos amigos, velhos e novos companheiros, que em algum momento de suas vidas contribuíram para a história do Jornal do Brasil. Esse episódio, para nós deste blog, que acompanhamos a questão da segurança pública, guarda uma pequena lição, mas fundamental para o exercício da cidadania e da democracia. Temos que nos unir mais para estarmos sempre prontos a ir às ruas, seja para manifestar nossa dor, nosso drama, mas também resgatar nossa própria história. Foi um gesto simples que, tenho certeza, com o passar do tempo vai comprovar a sua importância.