terça-feira, 2 de junho de 2009

Air France Airbus Brasil. Minutos globais. Tudo é nada

Arte, Morte, Airbus, Air France, Rede Globo, Ayrton Senna, Bispo Macedo, Homicídios, Caos

Longa é a Arte, curta é a jactância

Gago Coutinho e Sacadura Cabral, a primeira travessia aérea entre Europa e Brasil

1922, Rolls-Royce, Pedro Bial, poeta de olhos azuis, pagando o pato no dia de luto em que o Correio da Lapa homenageia os 228 mortos no Atlântico com críticas a tudo e a todos, incluindo ao próprio blog-jornal, aqui se dando como esta mistura pessoal de dor e ridículo de nós mesmos... Brasil, um país hoje sem graça. Mas amanhã...

By Alfredo Herkenhoff



Caiu um avião Airbus da Air France? E a sensação é a de que este tipo de aeronave, uma das mais seguras e modernas, parece o contrário, uma geringonça a jato, mas que não resiste a uma turbulência. Não foi um Airbus que se deu mal ao aterrissar na pista molhada de Congonhas? Mas também não foi um Airbus que desceu suavemente no Rio Hudson em Nova York, depois de um choque com revoada de gansos, sem dano para ninguém, só heroísmo e habilidade do piloto herói? Então fica uma hora a sensação de que Airbus é ruim, não importa o modelo, quando todo especialista sabe que é dos melhores. O presidente Lula não tem um Airbus? Tem porque é bom...


Tudo que penso significa que alguém tem a chance de estar pensando e pensa ao mesmo tempo, instantes antes ou depois. Essa tese, para alguns premissa, para outros, intuição, é uma ferramenta em mãos de intuitivos ou metodológicos atuando em campanha eleitoral ou marqueteira comercial. Sabem que num segundo um candidato vê escorrer para baixo dois pontos percentuais, ou alguns milhões de votos. O fenômeno estatístico e estocástico é de semiótica. Quando a gente não gosta de um lance na grande mídia, milhares de pessoas também sentem a mesma coisa que nós e não gostam. Assim por diante, quando alguém gosta, milhares estão gostando na mesma hora e indo na mesma direção.


Na verdade a sensação é uma, a realidade é outra. Desde 1994, são mínimos os acidentes com Airbus. Mas não nos esqueçamos:, na fase de voo experimental, um protótipo do Airbus ,no início dos Anos 90, se lascou ao tentar arremeter... Explodiu e pegou fogo.


A façanha da primeira travessia entre Europa e Brasil foi alcançada pelos portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, em 1922, contando com três aviões movidos pelo histórico motor P-R Eagle 8 da Rolls Royce, a famosa fábrica de Derby.


Este fenômeno de ser o humano um mero número de audiência é sabido pelas pessoas que trabalham nos meios de comunicação e, por saberem disso, usam isso. Ai que mora o problema. A sensação de quem domina a mídia é prazerosa, é como deter um poder político, quase como ser chefe de quadrilha, presidente de república, executivo, secretário, não é brincadeira.


Onde mora a contradição desta argumentação que faz a gente prosseguir adiante? Simples. Está na arte, só a arte garante a sanidade crítica quando se especula. Até para as ciências exatas a arte é componente de apoio a respostas e alcance de metas.


Oceano Atlântico, desafio à vida e às memórias mais afetivas, esperanças do Brasil, França, Europa e Bahia. De Portugal ao Vinho do Porto com rótulo da Inglaterra, do Mar Tenebroso ao Mar Desconhecido de outras vítimas, todo estamos convidados, neste momento, a perguntar por que a tecnologia falha e deixa morrer no fundo do céu turbulento?


Ouvimos na TV especialistas que todo mundo vê. E dizem: em um ano, 3 milhões 500 mil decolagens de grandes aviões comerciais no mundo, com média de uma hora e meia de voo... E apenas 20 acidentes, e destes, apenas 9% com mortes... Ou seja, tanto transporte, e por ano, um, dois, três com vítimas totais.


Mas é difícil a gente aceitar que, para além da característica humana, traços pessoais, caráter etc, somos, cada um, uma pequena quantidade, um grão, pecinha num cargueiro. Quem vai se aceitar como tal ou quem se aceita ser visto como um pedacinho negociável qual commodity, gota de commodity?


Comemorando o feito num momento de luto no Rio de Janeiro, o Correio da Lapa, em homenagem a tanta gene bacana que pereceu no jato da Air France, como Silvio Barbato, a cantora Juliana de Aquino, os três italianos que viajaram ao Brasil para doar dinheiro próprio às vítimas de enchentes em Santa Catarina, reaviva a belíssima história, que merece relatos e reflexões, aqui impossíveis, sobre o primeiro voo direto do Velho Continente para o Rio.


Como escapar da indução da mídia que torna o consumidor de informação uma vítima da própria informação? Só a criatividade nos liberta da mídia impingidora de posicionamentos. A arte é a razão da liberdade do pensamento científico ou não. Nunca a arte e a ciência exata estiveram tão juntas, nunca antes em tempo algum estiveram totalmente separadas, mas sim, juntas como hoje, nunca... Ambas se mostram sob controle, uma multiplicando linguagens, leituras. outra certificando ou fechando linguagens.


Assim como aquela espaçonave da antiga União Soviética, a Buran, equivalente ao ônibus espacial da Nasa, subiu ao espaço e orbitou, sem tripulação, algumas voltas na Terra, retornando para nunca mais exercer nenhuma missão, porque era o fim daquele programa espacial do decadente regime imperial de Moscou, e a Buran virou apenas uma carcaça para atração turística nos Urais, as mais modernas aeronaves do mesmo modo poderiam hoje voar sem tripulação, apenas com passageiros tranquilos e confiantes no controle remoto. Mas todas essas modernas aeronaves viram peças de museu como a Buran soviética.


Lisboa conserva em seus museus tudo sobre a travessia, incluindo o hidroavião Fairey 3 F, batizado de Santa Cruz, e o motor Rolls-Royce, que a companhia considera uma de suas peças simbolicamente mais importantes, segundo palavras do próprio Mike Evans, presidente do Rolls-Royce Heritage Trust, organização que tão bem promove a história de excelência dos fabricantes ingleses.


Por isso tudo, pela inevitável superação tecnológica ao longo do tempo, dá pena ver gente achando que pintar bem é Salvador Dali, é habilidade manual, tanta gente vendo a decoração e o rigor técnico das mãos, o movimento fabril artesanal como prova de sapiência criativa de artista. Hoje, mais do que em qualquer época, a arte não tem quase nada de manual. Talvez a única perspectiva de manifestação em que a mão ainda tem alguma função fundamental na criação é a escultura. Também se exige mão em certo tipo de pintura que, por caminhos transversos, ainda funciona para saciar nostalgias decorativas.


Grandes jatos nada têm de manual também. Poderiam voar com segurança como a inútil Buran soviética ou como esses pequenos aeromodelos que vemos nas manhãs de domingos nos parques das cidades... Mas as companhias aéreas mantêm lá nas cabines os comandantes e copilotos apenas para duplicar a segurança já duplicada tecnologicamente. A tripulação está lá para o pulo do gato, para dar a resposta diante do imprevisto, diante da formação de situações sequenciais que possam produzir não um risco, mas a ameaça de um risco desconhecido.


Vale lembrar que, de acordo com a própria Rolls-Royce Heritage Trust, a travessia de 1922 foi a terceira grande façanha da aviação após a Primeira Guerra Mundial. As duas anteriores são a travessia do Atlântico Norte e o voo entre a Europa e a Austrália. Esses três feitos contaram com o motor Eagle, desenhado pelo próprio Henry Royce, cofundador, com Charles Stewart Rolls, em 1907, da famosa firma.


Do ponto de vista de arte valorizada pela vaidade de bolso cheio, entre banqueiros e peruas, corporações e publicidade institucional, sem maiores considerações sobre arte como função do instante em que se inventa como nova forma de conhecimento, o acidente com o Airbus que não podia cair produz outras quedas, ou quedas mentais. Mergulhos em reflexões inesperadas da Air France.


O concreto é criação, é resposta sempre criativa, mesmo que a criatividade seja a repetição científica, a confirmação, a comprovação de teses, conceitos, premissas, desafios, incógnitas.


Arte, ciência, estado da arte, segurança, ineditismo, compreensão do ineditismo, a criação é sempre mental, o Airbus é uma nave mental. Da Vinci em “pinta-se com cérebro”, antes de Michelangelo repetindo, “arte è una cosa mentale”.


Arte, Airbus, todo valor desses leilões midiáticos, cifras inalcançáveis, desaparecimentos de grandes linguagens ou aeronaves, tudo isso é “historiotragicograficamente” apenas sublime, é espetáculo no qual diluímos nossas próprias dificuldades pessoais. Melhor chorar a dor os outros.


A primeira travessia Lisboa Rio abrangeu percurso de 4.527 milhas e foi feita em 62 horas e 26 minutos de voo com uso dos três aviões, sempre com motor Eagle da Rolls-Royce ao longo de 79/80 dias, entre 30 de março e 17 de junho de 1922.


Chorei muito com a morte de Ayrton Senna. Uma semana chorando na frente da TV.


A informação, a imagem, a tragédia do herói, a frustração pessoal, o conjunto da brasilidade internacionalizada chorando dia e noite. O choro da multidão. Mas nem no auge do velório midiático me esqueci: Ayrton Senna, naquela busca do tetra, fazia na mesma ocasião publicidade para o automóvel Audi, e o fazia espetacularmente, incensando a velocidade que só nas pistas tem segurança garantida pelo estado da arte, no estado Airbus. Pois o Brasil, que chorou rios de café na morte de Senna, não chora uma gota de champanhe nas 40 mil mortes de um trânsito muito louco, com ou sem lei seca.



Quando Gago e Sacadura caíam no mar, um navio tinha de trazer um novo hidroavião, e eles decolavam do mesmo lugar onde haviam descido com pane. Ficavam ora em algumas ilhas ou praias, ora a bordo de navios, mas voaram de Lisboa a Rio sem usar outros meios, apenas o apoio de barcos que o levavam para o mesmo lugar onde o aparelho anterior se desgastara ou quebrara.


Tristes números: três tristes tigres.


O acidente que ganha a mídia, e agência Reuters, Portal CNN e outros botando em tempo real que o Airbus da Air France foi de longe o destaque nas manchetes no mundo inteiro. É a tal espetacularização da tragédia. Do mesmo modo que exibe, escarafuncha e chafurda na lama dos detalhes, a mídia esconde, omite e ilude com a oferta da facilidade do sentimentalismo em cima da hora da novidade


Eis a rota de 1922, Las Palmas de Gran Canaria - Ilhas Canárias, Ilha São Vicente - Cabo Verde, Ilha São Tiago - Cabo Verde, Rochas de São Pedro e São Paulo ,Ilha de Fernando de Noronha, Recife, Salvador, Porto Seguro, Vitória, Rio de Janeiro. Os ingleses têm o maior xodó com a façanha. Há uns dez anos, reformaram o motor e não cobraram nada de Portugal. E os principais dirigentes da Rolls-Royce deitaram muita falação elogiando o motor e o feito lusitano.


A informação que se impinge nos leva a chorar com a dor dos parentes dos passageiros mortos. Eu choro. Tenho a minha solidariedade preservada no choro individualista. Mas não perco a minha velocidade cruzeiro, minha cabeça ungida pelo caos de seguir navegando rumo ao porto seguro da reflexão livre, desígnio do meu turismo e lirismo de lapiano do Correio da Lapa da porrada. A informação que se nega também é espetacular, mas é espectral, é fantasmática, é como se não existisse, é buraco negro, é vitral das Bermudas, é desaparecimento da carcaça de sua própria verdade interior. É carlinga que se lixa para quem é vítima da sonegação da própria emergência do fenômeno do desaparecimento.


A travessia de 1922, um exemplo não apenas da coragem mas também demonstração do engenho português, que criou à época, o sextante Gago Coutinho, revolucionando, mundialmente, a navegação aérea, até então sem orientação noturna. O sextante, com o uso de bolha de ar e água, criava uma linha imaginária de horizonte, permitindo ao aviador medir, em plena noite, pela primeira vez, a altura das estrelas e se localizar em plena vastidão dos céus onde se estava no mar.


A apresentadora de notícias Ana Paula Padrão morreu depois que abandonou a Nave Louca do Jardim Botânico? Saiu da Globo? Morreu. Mas o bispo Boninho J. Macedo Sobrinho da Loterj não concorda. Saiu da Globo, é peixe, é fama, é taxa de celebridade, é zapear, é ibope nosso precioso de cada dia. A Rede Record da Igreja Universal do Macedo vai mordendo o calcanhar de Aquiles de Bial e Boninho BBB faturadores. A última versão da casa vigiada aumentou o faturamento e, ao mesmo tempo, registrou importante queda de ibope com relação a edições anteriores. Tudo tão mediano, faturam e fatiam as dores. BBB 10 vai mudar de nome... big brother brazil será cinco vezes B: Boninho 1, Bial 2, Big 3 Brother 4 e Bosta 5.


Nenhum grande acidente é produzido por uma única falha. Todo acidente grave é resultado de uma sequência de situações que criam um impasse inédito e, infelizmente, uma tragédia a mais. Mas cada sofrimento destes torna ainda mais segura a navegação no futuro imediato. Isso vale para a arte, Airbus e artistas das casas confinadas.


A travessia de 1922 lembra Luís Vaz de Camões como uma referência de literatura da coragem e de epopeia da cultura e lusofonia.


Multiplicado por dez, os cinco BBBBB serão 50 anos de nada. Bons vinhos de audiência lhe dêem mil ressacas de diarreia linguística, ou cinematográfica.


É melhor morrer feliz amando e sendo amado, sorvendo um bom vinho, sonhando que vai amanhecer em Paris? Ou morrer como reles número de uma estatística infame num Brasil de tantas coincidências: 40 mil assassinatos também por homicídios qualificados, não apenas 40 mil culposos nas estradas dos velhos pneumáticos.


Sacadura Cabral, que estudara na Inglaterra, morreu jovem, em 1924, desaparecendo no mesmo Atlântico que ora sepulta tanta gente bonita no Airbus da Air France.Sumiu o navegador Sacadura no Mar do Norte, quando iniciava volta ao mundo em avião comprado na Holanda. O almirante Gago Coutinho morreu em 1959, aos 90 anos. Ambos estão entre as figuras mais homenageadas no Brasil, dando por exemplo nomes a ruas de inúmeras cidades.


O programa BB Boi Boninho Bial é exposição de juventude a peso, como se fossem os jovens aqueles escravos do século 19, quando os negros traficados da África eram vendidos, comercializados, sob um dos arcos do Aqueduto da Carioca, ali onde hoje é esplanada da boemia hip hop. Pois até no século 19 ainda era sede de um dos pregões da escravidão, uma espécie de Bolsa de Valores da Vida Humana, lugar da cotação da pessoa como tantas arrobas de músculo, dignidade zero, lugar da venda leiloada da Força Física da Humanidade, oferta de gente sofrida como se fosse carne de bater.


Só aqui no Correio da Lapa e em outros poucos sites você vê a insolência da crítica livre e poética com dignidade. Crítica leve, louca e anônima você vê aos milhares nos comentários em milhões de blogs da vida. Aqui a crítica é pesada por ser escrava de sua liberdade, mas leve por não ter nada de pessoal. E ataca os melhores. Mãe mata um leão por dia, porque ela sabe que o leão é feito dos carneirinhos que digere.


Aqui é uva de caminhão: Bial, belo poeta, teria sido melhor jogador de basquete se soubesse encestar. Preferiu o incesto do óbvio. Vai se perder no mapa, seus googles não valerão uma referência no futuro imediato de nenhum Museu da Marinha. Será tão importante quanto os critérios das escolhas dos jovens que vão mostrar bíceps, nádegas e virilhas sob o edredon do ridículo. Pensar que foi correspondente de guerra. Hoje é apenas correspondente de Boninho, cujo pai, Boifação, dizem, adora o ibope do nosso querido Restaurante Jobi no Leblon.


Na certeza de que internautas que chegaram até aqui vão querer Porto Seguro, penso na velha fábrica de Derby mostrando o que está produzindo de mais sofisticado, hoje, em sua linha de motores de altíssima confiabilidade. O que estará fazendo para que não morramos quando começarmos a embarcar nos jatos Legacy ou no Emb 170 da Embraer?


Fica zangado não Bial, você ainda não atingiu o pior de você mesmo. Simpatia tem limite, audiência querendo se dar não pelo animus poeticus, mas pela taxa de olhos azuis da celebridade celerada e acelerada. Tem coisa pior na televisão, Bial. Sábado à tarde é o território cativo da simpatia e da mesmice. Não há confete pedagógico capaz de ludibriar aquele clima abelardiano da buzina do escracho, do bizarro, do pior do cinismo nacional, do fazer cortesia com marketing, pegando ibope em troca da encenação de atores da vida real no ato de dores esperançosas buscando melhorar um pouquinho de vida. Sinpatias à parte, que me perdoe o casal fofo do século 21 Angelica Estrelas e Huck Baú, dois lunáticos apaixonados entre si e pelo marketing que os contrata.


A Globo tem tudo de melhor, os melhores atores, melhores diretores, apresentadores, pedagogos, músicos, programação, plano de saúde etc. Mas também tem um algo de pior excepcional... A jactância reversa, a vaidade suprema de ser melhor e de achar que não precisa de crítica. No tempo do patriarca, o redator-chefe conversava com os coleguinhas do jornalismo. Hoje a jactância reversa subiu no telhado.


Tal qual na vida, tal qual na arte, a Globo é como um avião, faz a arte voar longe. A Globo é Arte, o Airbus é arte, mas os funcionários são meros passageiros... Lula é voo, Lula é Arte, Lula é Globo, mas na nave louca chamada Terra, Lula também passa à condição de mera dor esperançosa em melhorar um pouquinho de popularidade, aterrissando seu Aerolula sem problemas.


Índices, ora índices, index deplorabilis... Ontem no dia da explosão da manchete da queda do Airbus, relatório do FBI sobre violência nos Estados Unidos mostrava decréscimo de homicídios em 2008: cerca de 3%. Para um país de 300 milhões de almas, Barack Obama pode comemorar herança do bicho George Bush: menos de 10 mil assassinatos.


Os EUA têm 100 milhões a mais de habitantes do que o Brasil. Tivera a Pátria Amada a mesma população do Norte, nossos crimes de tiros e faca deveriam ser um terço a mais, ou quase 53 mil em vez dos 40, tudo grosso modo. Tivéramos a mesma educação de respeito ao amor, ou temor ao crime urbano dos americanos, o Brasil matava pouco mais de 6 mil assassinatos por ano. Só o Estado do Rio mata mais do que isso. E tivera a violenta sociedade de Hollywood e Los Angeles a mesma educação de desapreço à vida que nós, teria registrado em 2008 a bagatela de quase 60 mil assassinatos.


Em compensação, Londres, que matou o brasileiro mineiro Jan no dia do boom do terror na City, registra anualmente menos de 200 homicídios, a maioria dos crimes cometida por migrantes.


Em 1959, eu soube disto nesta segunda-feira, isto é, ontem 1 de junho de 2009, pesquisando na Biblioteca Nacional: um novo recorde de voo direto Lisboa e Rio de Janeiro fora batido: voo sem escala em menos de 20 horas. Depois, os jatos a partir dos anos 60 com autonomia ampliada fizeram desses números uma velha piada da História.


Entrou em qualquer empresa das Organizações Globo? Ótimo, você é bom, talvez um bamba, um craque, ou amigo de um craque, mas, automaticamente, está proibido de criticar qualquer coisa dos bambas, dos craques, dos bons profissionais colegas... Está proibido de criticar vírgula, está proibido de mencionar o nome de qualquer rival... A Globo é refém da própria liderança no ibope agora ameaçado como nunca.


A Globo não noticia ibope, vive dele, mas silencia.... É uma ressonância magnética estilo dinástico, tudo em casa, cachorro chique, a grande família, mas, reunindo os melhores... A maior parte do Brasil vive a Globo de maneira medíocre. Daqui a alguns anos, ninguém se lembrará mais do juízo que omite por estatuto, omite por interesse de pontos de audiência.


Em 1927, rolou o famoso pioneiro vôo noturno Lisboa-Rio, com um aparelho alemão Dornier Wal. Vejo uma foto com Gago Coutinho, Sacadura Cabral e Santos Dumont juntos. Façanhas e sonhos. Mapas e riscos de vida.


A Globo vive em estado de choque de autoelogio. É tanta autopaparicação que perdeu a graça. Caetano elogia Bethania que elogia Caetano? Ah, frase idiota! Excelente o cantar dos dois irmãos, a poesia dos dois baianos, a música dos dois santos, a beleza amarga dos dois maravilhosos doces bárbaros. Não é proibido nem proibir, quanto mais elogiar. Mas criticar é preciso. Se não fosse, não navegaríamos por essas marolinhas do Correio da Lapa.


Por mais vociferantes que possam parecer algumas palavras aqui encadeadas, e como atraem essas previsões sombrias de que o texto longo vai desaparecer na internet, que tudo ou quase tudo no futuro vai virar twitter, caldeirão de vídeo, música, performance rápida e reprodução clonada, predatória ou sobrevivente, ainda assim, o Correio da Lapa reverencia a Globo, e espetacularmente, falando mal dela, a assiste, e assiste aos seus programas, porque são os melhores, mas quase todos dispensáveis e precisam ser comparados com o que não são... E são fracos pelo potencial que a estrutura desperdiça.


Ninguém discute a Globo, com raras exceções como Alberto Dines, Nelson Hoineff e uns outros poucos mais. O que se discute é por que, tendo tudo isso, tanta gente bamba, ainda assim, a Globo se apresenta como uma singela telinha para o comércio das quinquilharias industriais, vendendo consumo num país que consome pouco, país viciado em merda, se não for a própria merda educacional.


Rotas, mapa, amerrissagens, tempos de vôo, de espera, os perigos, os acidentes, a chegada apoteótica ao Rio, o desfile em carro aberto para 100 mil pessoas pela Av. Beira Mar e a Av. Rio Branco, a importância do feito e a volta apoteótica a Lisboa, a bordo do paquete Porto. Eram terríveis as dificuldades e a tecnologia da época de Gago Coutinho e Sacadura Cabral.


A tradição da Escola de Sagres, da época dos Descobrimentos, confirmou-se com Gago e Sacadura justo num Brasil de espírito pioneiro em matéria de aviação, com inventores geniais como Bartolomeu de Gusmão, Augusto Severo e Santos Dumont.


O Rio de Janeiro era um luxo que a Lapa miserável de hoje apenas revive como uma caricatura a época da chegada de Gago e Sacadura. Mas permanecem as belezas naturais de um lugar que é um verdadeiro cenário. Em compensação, a calçada diante da Biblioteca Nacional e do Centro Cultural da Justiça Federal é uma vergonha de choque de desordem em plena Av. Rio Branco. Alô prefeito Eduardo Paes, ali não é sujeira só, é buraqueira, armadilha para os velhinhos num ponto histórico fundamental.


Em 1922, comemorava-se o primeiro centenário da Independência do Brasil. A aventura sobre os ares do Atlântico era também uma homenagem à data tão importante para o Brasil e para os laços afetivos e econômicos que unem os dois povos irmãos. 1922 foi também ano da Semana de Arte Moderna em São Paulo, da consagração de Pixinguinha nos palcos da Europa e de Villa Lobos como o maior compositor erudito do país. Era ano ainda da revolta do Forte em Copacabana, num prenúncio de que alguns tenentistas fariam para a modernização das instituições políticas do Brasil. Outros militares fizeram mais... Mas chega de xingar!