quarta-feira, 11 de março de 2009

CORREIO DA LAPA NA GLOBALIZAÇÃO

DEU NO MONITOR MERCANTIL

Coluna Primeira Linha: artigo Comunismo e capitalismo tremem no mundo moderno
(assinado por S. Barreto Motta)


No fim do século XX, como que da noite para o dia, desabou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Junto com ela o sonho de muitos pelo comunismo, com a forma de decisão chamada centralismo democrático, o planejamento unificado nas mãos de burocratas - que foi ruim para a indústria e péssimo para a agricultura. Também faleceu o internacionalismo, uma das bases do modelo vitorioso em 1917. A realidade mostrou que a religião permaneceu viva após décadas de governos comunistas e, mais do que tudo, o nacionalismo voltou exuberante. A Alemanha Oriental se reanexou à Ocidental, muitos países que formaram arbitrariamente a URSS se desligaram de Moscou e, para surpresa geral, pequenas nações como Estônia, Letônia e Lituânia, após décadas de lavagem cerebral a favor do poder central, se recompuseram como nações independentes, como se nada houvesse acontecido.

Embora se diga comunista, a China criou um sistema especial. Mantém a estrutura rígida de antigamente, mas sua economia se baseia em estágio inicial do capitalismo, com poucos direitos trabalhistas e muitas horas de jornada. Com isso, os Estados Unidos tiveram seu período de potência totalmente hegemônica. Com o retorno de bancos privados e busca pelo lucro na Rússia, a terra dos ianques via seu modelo vencer em todo o mundo. Dos mais longínquos rincões chegavam royalties para a nova Roma. Até no Vietnã a juventude procura imitar o modo norte-americano de vida. Tudo parecia caminhar como um sonho para os norte-americanos: domínio econômico e ideológico da terra.

Os erros de uma política externa baseada apenas na força - conforme admitido por Hillary Clinton, ao declarar que a diplomacia voltaria a dialogar - o excesso de gastos militares, a força crescente das grandes corporations foram sinais de problemas. Após o 11 de Setembro, o presidente Bush desenvolveu um sistema peculiar de retaliação, mais baseado em raiva do que em contra-ataque racional. Até a tímida Inglaterra ousou recriminar os excessos da prisão de Guantánamo.

Ao ser criada, no Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), dizia-se que o modelo era o perfeito sistema norte-americano, comandado pela SEC. Mas a realidade mostrou que não havia controle mínimo do mercado. Na área imobiliária, um apartamento em Nova York, comprado por US$ 100 mil, em pouco tempo passou a valer cinco, seis vezes mais. E o dinheiro não ficava parado. Os donos refaziam hipotecas, para dispor de dinheiro em mãos, enquanto as instituições repassavam as garantias umas para as outras, inclusive no exterior.

Outra prova de que vinha uma tempestade estava no mercado derivativos. O petróleo triplicou de preço em pouco tempo, chegando a incríveis US$ 150 por barril - verdadeira loucura, como que a anunciar a crise. As agências de risco - um ícone do capitalismo - tremeram com os problemas da AIG, que tinha cotação máxima: "AAA". A crise é não apenas econômica e social, mas também moral. Bancos falidos davam-se bônus, até mesmo após pedir ajuda estatal. Dirigentes das gigantes automotivas foram pedir dinheiro a bordo de luxuosos jatinhos. Viu-se que a autogestão pelo mercado era uma brincadeira e os instrumentos de controle muito frágeis.

A participação do governo norte-americano no Citibank, de 36% - que pode ser ampliada - corresponde a uma nova queda do muro de Berlim, agora na parte ocidental. Toda a filosofia de livre mercado, de eficiência privada, precisa ser revista. A queda nas bolsas já está reduzindo aposentadorias da classe média norte-americana, o que põe em cheque todo o sistema. Antes, era comum ver-se em carros norte-americanos: " Não roube, o governo detesta concorrência". Hoje, constata-se que, sem a mão forte do governo, não restariam bancos privados nem as grandes GM, Ford, Chrysler e, quem sabe, até a ainda lucrativa Exxon Mobil - a maior empresa do mundo.

Cabe aos pensadores econômicos e filosóficos identificar qual o caminho do mundo. Afinal, comunismo e capitalismo sofreram fortes terremotos. Hoje, em qualquer país, se houver uma campanha publicitária a favor de bancos estatais, pouco sobrará para os gigantes privados - nacionais e externos. Se a derrubada de estátuas de Lênin marcou o fim do comunismo, a forte presença estatal na liberal economia norte-americana abalou, do mesmo modo, os pilares do capitalismo no século 21.