Lula, o presidente evangelista, aplaudido por Obama e operários no Rio, disse que prefere dar dinheiro aos pobres do que cortar imposto e deixar que ricos guardem o troco nos bancos. Isso é simplório
Correio da Lapa. Notícia Comentada (*)
Palavras do Senhor: "Cada real que você dá a uma pessoa pobre volta automaticamente para o comércio, para o consumo. Voltando ao consumo, vai reativar a economia. Às vezes você dá R$ 1 milhão a uma pessoa e fica lá no banco. Ele não faz nada, só ele vai ganhar dinheiro. Na hora em que você dá R$ 1 a cada pobre, dando para mil pessoas são R$ 1 mil que voltam para o comércio meia hora depois. Nem que for para um boteco, para tomar uma canjebrina (cachaça). Ele não vai para derivativos. Vai para o comércio, e é isso que nós precisamos para fazer a economia deste País crescer."
O raciocínio do presidente Lula é simplista, simplório e caça-votos... Antes bico de pena, depois curral, depois coronéis, agora voto-cartão, voto cheque-família, voto-esmola... A Coreia do Sul, um país pequeno, mas estudioso, aplicado, tem uma indústria naval gigantesca, que humilha a brasileira. Só nos estaleiros da Hyundai tem mais de mil engenheiros... Já o Brasil, um país com tanto Atlântico...
A esmola não vai gerar riqueza de forma tão automática, gera antes cáries caras. Faz lembrar aquele filme: se eleito for, todo brasileiro vai ter o que mastigar: vou distribuir chiclete para todo mundo. Como o filme chamava mesmo? Matou a família e foi ao cinema? Ou era o Bandido da Luz Vermelha? Não importa. A caridade é um preceito cristão. Mas a caridade, que Lenine e Marx achavam que atrasava a revolução, também conota, implicitamente, que a miséria é inevitável. Talvez seja biblicamente isso mesmo.
Com a premissa evangélica da caridade, o cristianismo é resignado com a pobreza e a propriedade privada. A César o que é de César. Ou seja, ao imperador romano o império, que é dele. O significado de império no tempo de Cristo abrangia impostos, a lei, os centuriões, o bom senso, o manda quem pode, obedece quem tem juízo. E a esmola... Oh! As escadarias de tantas igrejas repletas de mendigos e xixi.
Lula fez a reflexão da caridade social na festa do sinal verde para revitalizar urbanisticamente a Zona Portuária do Rio de Janeiro. Lula recebia quase àquela mesma hora altos elogios de Barack Obama. Em coletiva, o presidente americano disse que o líder operário do Brasil era um exemplo de tolerância para o mundo, exemplo de bom senso, respeitador de contratos e da propriedade privada, disse que Lula está propiciando prosperidade para o povo.
O Correio da Lapa concorda com Obama, mas sim, Lula, não exagera. O capital também precisa de massa crítica para gerar riquezas em bases sólidas, e não apenas açucareiras ou açucaradas, caramelos. Desonerar é fundamental sim, gera eficiência, baixa preços sim, a concorrência é uma dinâmica inevitável. Num primeiro momento, o empresário pode até entesourar o valor da desoneração da produção, mas logo, no ciclo inevitável da eficiência, o dinheiro aliviado dos impostos reduzidos volta para a produção gerando empregos de forma mais rápida do que faz a esmola social. Esta também amplia a demanda agregada. Lula não está errado. Mas neste momento, Lula apenas defende a campanha eleitoral da ministra sucessora Dilma Rousseff. E dá um passo para trás quanto aos sonhos de maior eficiência industrial no Brasil.
(*) Por Alfredo Herkenhoff