segunda-feira, 15 de junho de 2009

Crescem os protestos em Teerã por suposta fraude eleitoral - Visão da mídia portuguesa


Irão: Terceiro dia de manifestações nas ruas de Teerão

Protestos fazem primeira vítima


Deu no Correio da Manhã, jornal de Lisboa nascido há apenas 20 anos e já o de maior circulação em Portugal, na madrugada desta terça-feira, horário local:


Abedin Taherkenareh/Epa Protesto que reuniu centenas de milhar de apoiantes de Mousavi ficou manchado pela violência

Protesto que reuniu centenas de milhar de apoiantes de Mousavi ficou manchado pela violência
16 Junho 2009 - 00h30

Apoiantes do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, abriram ontem fogo sobre manifestantes da oposição que participavam numa gigantesca manifestação no centro de Teerão, matando pelo menos uma pessoa, no mais grave incidente desde o início dos protestos contra as alegadas irregularidades nas eleições presidenciais da passada sexta-feira.


Os contornos do incidente são pouco claros, mas várias testemunhas indicaram que alguns apoiantes do candidato derrotado nas eleições, Mir Hossein Mousavi, que participavam numa gigantesca manifestação que reuniu centenas de milhar de pessoas no centro de Teerão, atacaram uma sede da milícia religiosa Basij, leal ao presidente Ahmadinejad. Ainda de acordo com os relatos, os membros desta milícia responderam a tiro, matando pelo menos uma pessoas e fazendo um número indeterminado de feridos. Foram ainda ouvidos disparos noutros três pontos da cidade.

Já antes da manifestação, alguns apoiantes da oposição tinham sido agredidos por elementos pró-governamentais armados com bastões e barras de ferro.

Os confrontos ocorreram horas depois de o líder supremo iraniano, o ayatollah Ali Khamenei, ter ordenado a abertura de uma investigação às alegações de fraude eleitoral. Recorde-se que Khamenei tinha anteriormente validado a vitória de Ahmadinejad.

EMBAIXADOR DIZ QUE PORTUGUESES ESTÃO BEM

O embaixador de Portugal no Irão, José Moreira da Cunha, disse ontem à Lusa que a situação em Teerão é “tensa”, agravada pela “falta de informação”, que faz circular todo o tipo de “rumores e boatos”. “Domingo à noite, a situação esteve muito tensa, com manifestações próximo da residência da embaixada”, relatou José Moreira da Cunha, assegurando que tem mantido contacto telefónico com os 22 portugueses registados no país, a quem tem aconselhado a que mantenham a calma e permaneçam em casa. O embaixador adiantou ser difícil avaliar a situação devido à falta de informação oficial, mas considerou que será pouco provável travar-se o “movimento de contestação e desânimo”.

APONTAMENTOS

VIAGEM ADIADA

O presidente Mahmoud Ahmadinejad, que ontem deveria ter partido para Moscovo em visita oficial, decidiu adiar a viagem por causa dos protestos.

UE PEDE CLARIFICAÇÃO

A UE pediu ao Irão para “clarificar” a vitória de Ahmadinejad, e a chanceler alemã Angela Merkel afirmou que existem “indícios de irregularidades”.

JORNAL PARADO

O jornal ‘Kalameh Sabz’, que apoiou Mir Hosein Mousavi, foi suspenso pelas autoridades.

“A SITUAÇÃO NO IRÃO PODE VIR A AGRVAR-SE”: GENERAL LOUREIRO DOS SANTOS, Ex-CEME (R)

Correio da Manhã – Pensa que a situação pós-eleitoral no Irão se pode agravar?

Loureiro dos Santos – Pode agravar-se ainda mais porque dá a impressão de que os líderes reformistas não estão a conseguir conter os ímpetos dos seus apoiantes.

– O que poderá vir a acontecer?

– Pode dar-se uma reacção brutal das forças da ordem do Estado, chefiado pelo vencedor das eleições. É uma situação extremamente complicada que poderá resultar no endurecimento do regime. Uma situação destas poderá levar à continuação da contestação, tipo resistência, por parte de jovens urbanos apoiantes de Mir Mousavi.

– Teria feito diferença se Mousavi ganhasse as eleições?

– Para os objectivos nacionais não me parece que tivesse feito grande diferença ter sido eleito presidente um ou outro líder, até porque não houve divergência entre eles durante a campanha eleitoral, nomeadamente no que respeita à questão nuclear.

– Mas uma outra liderança poderia facilitar o diálogo?

– Admito que o diálogo com o regime iraniano fosse mais fácil com uma outra liderança, embora um presidente Mahmoud Ahmadinejad fortalecido possa vir a encontrar uma plataforma de entendimento com o Ocidente.

Ricardo Ramos com agências / Paulo Madeira