quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Guerra dos Caças: Lula mais Sarkozy é igual a Dassault mais Embraer contra Boeing e Obama


O caça francês Rafale não tem nenhum componente americano

CORRIDA LATINO-ARMAMENTISTA
Franceses avaliam prós e contras em acordo


Dos sete construtores de aviões de guerra no mundo (Dassault, Boeing, Saab, EADS, Lockheed Martin, Mig e Sukhoi), apenas dois devem sobreviver dentro de 15 anos, segundo analistas

Não faltaram adjetivações na França para celebrar a provável venda ao Brasil de 36 aviões de caça Rafale: “sucesso político, diplomático e industrial”, “contrato histórico”, “o lobby do presidente Nicolas Sarkozy rendeu frutos”.

Depois de quatro fracassos sucessivos na disputa com os americanos – que conseguiram entabular negociações com Holanda, Coreia do Sul, Cingapura e Marrocos –, o Rafale parece bem encaminhado para superar a maldição do “avião militar de combate francês até hoje nunca exportado” e até estimular o interesse já manifestado de países como os Emirados Árabes.

Mas nem só com entusiasmo a notícia foi recebida e divulgada na França. A principal crítica ao acordo costurado com o governo brasileiro se refere à transferência de tecnologia, exigência do comprador que foi negada pelos suecos e, ontem, admitida pelos americanos.

– A França quer vender seu Rafale a qualquer preço – disse o especialista em economia de armamentos Claude Serfati à revista L’Express.

Após o chamado “fiasco” das negociações com o Marrocos, em 2007, o governo francês constituiu uma “war room” no Palácio do Eliseu: uma célula exclusiva para impulsionar a exportação de armamentos militares. “Sarkozy colocou como objetivo fazer o que seu predecessor, Jacques Chirac, jamais conseguiu: vender aviões de combate face aos americanos”, escreveu o jornal Le Monde.

Os franceses, claro, apreciaram o anúncio da criação imediata de 6 mil empregos no país se o acordo for fechado. Mas salientam que, depois de quatro anos, esse número diminuirá para entre 1,5 mil e 2 mil, quando os aviões começarão a ser montados no Brasil, que terá o direito de exportá-los.

Philippe Escande, editorialista do do jornal de economia Les Echos, lista duas razões para o fato de a França estar “prestes a pagar o preço que for” para, enfim, obter um contrato de exportação para o Rafale. A primeira delas diz respeito à independência. Há, atualmente, sete construtores de aviões de caça no mundo (Dassault, Boeing, Saab, EADS, Lockheed Martin, Mig e Sukhoi). Estima-se que, em 15 anos, apenas dois sobreviverão. A França é um dos raros países a ter desenvolvido um avião sem nenhum componente americano. “O país quer manter essa competência na lógica do pensamento gaullista. É isso, aliás, que agrada aos brasileiros. Mas, para isso, é preciso exportar”, escreveu.

A segunda razão é econômica: por trás de Dassault, há empresas como Thales e Safran e centenas de outros serviços terceirizados de uma linha de produção de armamentos que irriga um setor econômico fortemente exportador (7 bilhões de euros neste ano).
FONTE: FRANCE-PRESSE, FERNANDO EICHENBERG - PARIS