Percorrendo as frases
Jaime Leitão *
O assunto do momento é a sucessão presidencial. O crescimento das intenções de voto na ministra Dilma Rousseff, pela Pesquisa Datafolha, que praticamente encostou em José Serra, esquenta o debate.
O cientista social Marco Antônio Villa afirmou ontem na “Folha”: “Será um trabalho de Hércules transformar Dilma em candidata popular. Mesmo assim, a oposição vai ter muitas dificuldades”. Dilma está crescendo pela popularidade de Lula, não pela própria, que praticamente não existe. E a oposição está perdendo espaço porque não se define. Serra, claudicante, acaba vitaminando a candidatura de Dilma.
A articulista Dora Kramer, no “Estado”, escreveu: “Até agora, o que sustenta o ânimo da oposição é a dianteira de Serra, a despeito da campanha explícita, diária e poderosa do presidente Luiz Inácio da Silva em prol de sua candidata”. Não estou vendo nenhum ânimo na oposição. Muito pelo contrário. Esse desânimo é tão poderoso quanto o esforço de Lula para dar ainda mais fôlego à candidata do governo.
Fernando de Barros Silva, na “Folha”, afirmou: “Aécio Neves faz questão de deixar claro que não quer ser candidato a vice numa chapa com José Serra. Isso não significa, necessariamente, que não será”. Na verdade, Aécio não quer se queimar. Ele sabe que, se for candidato ao Senado, está praticamente eleito. Como vice de Serra, corre o risco de perder e de ver a sua candidatura a presidente daqui a quatro ou oito anos ameaçada. Mesmo assim, tudo é possível. Em política, o impossível se torna possível de um momento para outro, depende dos interesses em jogo. No caso, são muitos. É uma presidência da República, com centenas de cargos de confiança e com muitos políticos interessados nas suas cotas.
Merval Pereira, no “Globo”, disse: “Ainda existem bolsões de resistência à candidatura Serra, que veem nos resultados das últimas pesquisas um sinal de fraqueza, embora ele continue na liderança”. A liderança de Serra a cada dia se torna menos sólida, e um dos motivos é a indecisão do governador de São Paulo de definir a sua candidatura.
O vice-governador Alberto Goldman, sobre o mesmo tema, opinou: “É surpreendente, é heroico que Serra tenha mais de 30% depois da exposição de Dilma”. Não há nenhum heroísmo em Serra. Ele está deixando o barco de Dilma navegar livre e, numa dessas, poderá morrer afogado bem antes da hora.
Há mais bastidores na política do que possamos imaginar. Até outubro, muita água e muita lama devem correr embaixo e em cima da ponte. Nenhum dos dois candidatos me comove, ambos são inexpressivos. O problema é suportar um deles quatro ou até oito anos. Estamos precisando de políticos melhores, principalmente para cargos majoritários. Infelizmente, eles não vêm se apresentando, e nada sinaliza para o surgimento de um, com novas ideias e com chances reais de se eleger.
* - O autor é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação. O texto acima saiu publicado no Jornal Cidade, de Rio Claro, interior de São Paulo.