quarta-feira, 6 de maio de 2009

Fidel Castro, 1959 - 2009: 50 anos da visita ao Brasil, ao Rio de Janeiro, o Distrito Federal dos tempos de JK

Fidel e uma gargalhada no

Rio de Janeiro meio século atrás


Hoje, 6 de maio de 2009, é o aniversário de 50 anos da primeira visita de Fidel Castro ao Brasil. Há exato meio século, o chefe revolucionário, que chegara ao poder em Havana no dia 8 de janeiro de 1959, desembarcava no Rio de Janeiro, então Distrito Federal.

A alta burguesia brasileira estava alvoroçada. No Palácio Laranjeiras, o presidente Juscelino Kubitschek ofereceu um almoço formal a Fidel, que chegava como um herói. Fidel, que saíra do México para fazer a revolução a partir das montanhas de Sierra Maestra, ainda não havia se proclamado “marxista leninista hasta la muerte”, como faria um ano depois. Era apenas o rebelde que tinha derrotado o velho e corrupto ditador Fulgêncio Batista, depois de décadas mandando e demandando na Ilha. Fidel chegou como um já mítico comandante, sua figura como imaginada pelos anfitriões, o revolucionário de uniforme militar, barba grande, charuto e 1 metro e 90 de altura.

Naquela mesma noite de 6 de maio de 1959, outra recepção festiva, desta feita na mansão de José Thomas Nabuco, o famoso advogado em sua luxuosa mansão do Humaitá, no sopé da montanha que vai emendando com o Corcovado. Numa das rodas de papo, e eram muitas que se formavam em torno do ilustre visitante, Adhemar de Barros (foto acima), então prefeito de São Paulo, cujo estado ele governaria por duas vezes, ousou dar uma de preocupado diante do Comandante. Na ocasião, Fidel já frequentava as manchetes do mundo pelo famoso “Paredón” em que fuzilava os remanescentes da ditadura de Batista. Adhemar disse a Fidel Castro: “Admiramos a revolução, mas nós, no Brasil, não gostamos de derramamento de sangue”. Sem conhecer o interlocutor nem sua fama, Fidel respondeu de bate-pronto:

- Pero solo estamos fuzilando a los grandes ladrones del diñero público.

Antes que Adhemar (já então conhecido como político que “rouba, mas faz”) pudesse responder, uma gargalhada geral sacudiu o ambiente. Quem começou foi um jovem repórter do Correio da Manhã, Marcito, sobrinho dos anfitriões, mais tarde eleito deputado federal Márcio Moreira Alves, famoso pelo discurso na Câmara que lhe valeu a cassação e gerou o AI 5, em dezembro de 1968. Fidel não entendeu o motivo das risadas.

A festa se estendeu pela noite com muito uísque e champagne. Ex-aluno de jesuítas em Cuba, Fidel não seguiu o catecismo. Mostrou a sua fama de queda pela mulher brasileira. E ao fim daquela festa, apesar do protocolo, o jovem revolucionário ganhou e foi “acostarse” com uma linda representante da alta sociedade nacional. Quem foi? Todo mundo que estava na mansão sabe. Mas em respeito a uma senhora hoje na terceira idade, vivinha da silva, prefiro não comentar....

Este texto começou a nascer a partir de um bate-papo, dias atrás, com o jornalista Nilo Dante, que participou da cobertura da visita de Fidel ao Rio de Janeiro. Nilo, a quem convido desde já, de público, a enviar material mais detalhado sobre aquele 6 de maio de 1959, lembrou ainda que Fidel, naquele dia movimentado, também se reuniu com o ministro da Guerra e discursou num comício no Centro do Rio, no Castelo. Nilo Dante conversou com Fidel naquela noite de 6 de maio e, cerca de uma semana depois, o então jovem repórter voltaria a fazê-lo em Buenos Aires, mas isso é outra história, é para outro dia de surpresas do Correio da Lapa.

Da conversa com Nilo Dante tiro uma ilação que tenho certeza: ele ao ver aqui neste blogue-jornal vai rechaçar. Mas me pergunto, depois do bate-papo com o Nilo: será que aquela gargalhada do jovem Márcio Moreira Alves teve importância política ou histórica? Será que naquele momento, muitos riram, imagino que meio nervosamente, porque eram tempos de Guerra Fria e pressentiram algo vexatório? Será que alguns convidados, inconscientemente, riram porque descobriram que Fidel não seria mesmo um líder romântico como alguns brasileiros ilustres ainda torciam para que fosse?

Naquele momento, imagino, isso dias depois da conversa com Nilo Dante: será que alguns naquela mansão compreenderam que, entre os ali presentes, havia personalidades que, se estivessem em Cuba, estariam correndo perigo de vida? Será que compreenderam que alguns ali presentes, se fossem de Cuba, seriam executados no Paredón? Apenas imagino, mas fui bem inteirado pelo papo com o amigo Nilo Dante de que a festa no Humaitá foi uma agradável noite de confraternização e que, provavelmente, terminou com Fidel Castro fazendo sexo com uma mulher brasileira...

Fidel veio à capital do Brasil mostrar a que veio, era sedutor, mas o tempo... Ah... Essas cinco décadas mostram que a história é complexa e talvez até absolva Fidel, como ele disse no início que o absolveria. Talvez... Não tenho certeza nenhuma, nem tenho autoridade nenhuma nem para especular, mas especulo, sim, porque tenho liberdade no Brasil para especular. E, de especulação em especulação, me vem à mente que talvez Fidel tenha errado ao se transformar em comunista radical, me vem à mente que, por ter o Comandante tanta certeza da luta pela igualdade entre as pessoas, a História não o absolverá.

Fica o registro e a espera de que Nilo Dante, certamente discordando de mim, lance flashes de suas memórias neste Correio da Lapa e sepulte de vez essa recém-nascida especulação sobre uma gargalhada do Márcio Moreira Alves, um jornalista que, pessoalmente, não tive – que pena! - o privilégio de conhecer, mas que, como o Brasil sabe, percorreu uma trajetória brilhante, antes e depois da cassação. Brilhou da juventude até o fim. Ao Nilo Dante, o desafio para esclarecer essa especulação meio irresponsável sobre a gargalhada geral. Ao Comandante Fidel, votos para que recupere a saúde combalida e a lucidez, certo de que coragem não lhe falta para nada.

Por Alfredo Herkenhoff - Contato> alfredoherkenhoff@gmail.com