Correio da Lapa e o Editorial do Xixi
Polêmicas do xixi restringido: com a prisão de Arruda, quem vai substituí-lo na Sapucaí? Um bom menino não faz pipi na cama. Ana Maria Braga dá um bom conselho como alternativa global para o terrorismo da proibição do xixi democrático na campanha de Eduardo Paes e Cabral em aliança com os meios de comunicação ... Xixi é necessidade ou ato de obediência? Mulher não faz na rua porque quer, mas porque não dá mais para segurar a onda... O prefeito botou 4 mil banheiros químicos no Rio de Janeiro, mas nem 15 mil resolveriam o problema. Os números... Ah! Os números... *
A televisão brasileira está parecendo a Central de Comunicação do Palácio de Versalhes ao tempo da âncora Maria Antonieta, aquela que sugeriu a massa querendo o seu pescoço por passar fome: Se eles não têm pão, por que não comem bolo? Haja brioche. Autoridades e mídia estão humilhando a plebe ignara no seu justo direito de pular o carnaval da guilhotina e fazer as necessidades. Urinar agora só quando você encontrar disponível um bom banheiro, de preferência limpinho com papel higiênico Neve. Mas quem disse que dá tempo? Mijar no carnaval de multidão não é uma opção, se no banheiro ou fora dele, mas uma necessidade problemática. Sempre foi assim.
Se todos os 4 mil banheiros que o prefeito Eduardo Paes, o Dudu, e seu secretário Rodrigo Bethlem, o Betoven, espalharam pela metrópole estivessem apenas na Avenida Rio Branco, ainda assim haveria dificuldade de atendimento para os 500 mil foliões que no ano passado foram atrás do Monobloco. O que dizer da multidão ainda maior na farra do Bola Preta? É fácil calcular. Se são 400 mil foliões, dá um banheiro químico para cada 100 pessoas. Imaginemos uma festa na casa de Ana Maria Braga com 100 pessoas e um único banheiro! Não haveria descarga bastante para tanto brioche... Imagino a cena antológica do filme Il Gattopardo, de Visconti, tema de Tommaso di Lampedusa, com Burt Lancaster, Alain Delon e La Cardinale. Era a baile fiscal da nobreza na Sicília às vésperas da unificação italiana no inicio da segunda metade seculo 19! Os nobres mijavam nos festejos no palácio rural. A urina em seguida era guardada em centenas de recipientes, penicos, vasos e outros vasilhames num grande salão adrede preparado para ser tal depósito. Era o carnaval com tonéis de xixi nobre e a curva da história de Garibaldi se aproximando. No Brasil entre Dilma Rousseff e José Serra, a curva também está próxima, dois tecnocratas, dois sistemas partidários e urinários comuns, sei não...
Com as enchentes em 45 capítulos diários de São Paulo, o xixi de São Pedro mostrou o seguinte: a candidatura de Serra desceu por água abaixo, fez água, desabou, já era. Vai dar Dilma Xixi Rousseff em primeiro turno, nada de pipizinho em segundo clichê, nada de novo aguaceiro, nenhum novo apagão para a gente fazer no escondidinho.
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Bem sugeriu nesta sexta de carnaval a Ana Maria Braga: se for difícil segurar, faça xixi numa garrafinha, discretamente, e entorne tudo depois num bueiro, mas garrafinha, genitália feminina, sei não... Depois de nove meses vem o resultado. De qualquer forma, Ana Maia é até agora a vedete ou a repórter mais verdadeira dessa falsa polêmica inventada como campanha pelo discípulo de Cesar Maia.
Hoje vemos a mídia anunciar que 50 mijões foram detidos horas antes do Carnaval começar no Rio de Janeiro. Temos uma forma perfeita de insultar o brasileiro folião, mais uma vez. Essa arrogância da política oficial é sinal de insegurança, medo de notícias talvez não tão boas sobre Copa do Mundo em 2014 e Olimpíadas em 2016. A mentira e o jornalismo chapa branca em muitos canais de TV não resolvem o problema óbvio: falta infra, sempre faltou. Mas agora sobra a propaganda e a docilidade midiática, como se essa política pudesse resolver tanto problema óbvio.
Mulher não mija na rua porque quer. Mija porque não aguenta mais, mija por necessidade. A fila do banheiro químico, para quem está com a bexiga cheia, se converte numa tortura. Vai mijar nas calças, vai ser preso, não importa. A conversa fiada da propaganda de Dudu Guerra e Driguinho Betoven não equaciona a urgência urológica.
No balacobaco do Bola Preta, camelôs vendem agua mineral de dois litros. Mulheres apertadas, fingindo que bebem orgiasticamente dois litros, entornam o precioso H2O sobre o rosto e os seios, urinado mililitros ao mesmo tempo, confundindo os dois líquidos. Camelôs vendem até folhas de papelão para que o folião faça paredinha em cima de bueiro. Estes buracos são até alugados ou sobre eles colegas fazem paredinha para colegas mijarem com um mínimo de privacidade.
Os meios de comunicação, as ameaças da arrogância municipal , nada disso pode parar o óbvio. Se desceu redondo, vai continuar obedecendo à lei de Sir Isaac Newton. Muito a propósito, 30 anos atrás, vi o velho Sérgio Cabral comentando uma grande reforma em Mangueira. O Palácio do Samba, de forma pioneira, oferecia uma quantidade de vasos sanitários compatível com o volume da Brahma distribuída na quadra da Verde e Rosa.
Para cada folião mijão de rua exibido pela mídia, estima-se, neste Correio da Lapa, que haja outros 5 mil urinando naquele mesmo momento, fora das lentes e escapando das garras municipais e estaduais. Assim como se diz que o número de ratos em Nova York é maior do que a população de nova-iorquinos, que há mais ratos paulistanos do que paulistanos eleitores de Serra e Dilma somados, podemos dizer que há mais gente fazendo necessidades do que sonha a vã filosofice da Maria Antonieta do Palácio da Cidade, ou do pauteiro da grade de rede de TV Municipal-Estadual.
O gênio do Rô Betoven ainda teve o desplante de usar a seguinte imagem: se necessidade pudesse justificar o xixi na rua, então quem passa fome poderia roubar. Ora, pois o único caso em que o roubo não é crime, está no código, é o chamado furto famélico. Mas seria querer demais que essa turma de jovens tecnocratas entendesse de fenômeno de massa. O que eles querem é esvaziar o Rio, sua espontaneidade, aterrorizar a população justo na hora da liberação meio irracional do carnaval.
Cachorros podem fazer xixi na rua. Não é conduta afrontosa em logradouro público. Mas gente não pode fazer necessidade, tem de escolher um bom lugar pra se mijar, Copacabana. Para a prefeitura, mijar é supérfluo, é como o pão de Antonieta.
Claro que a campanha tem seu lado bom. Convencer muita gente que faz xixi na rua apenas por comodidade a fazê-lo somente em caso de necessidade que não se posterga sine die.
Mas está claro que por trás dessa campanha de higienização há o medo de o Brasil e o Rio perderem na undécima hora o prêmio de terem sido escolhidos como sede do Mundial da Fifa e dos Jogos de 2016. Dudu Paes acha que se re-elege e quer sim o Rio bem bacana já em 2014. Por isso, sem pessoal qualificado o bastante, joga para a arquibancada, governa para a mídia, opta pelo modo mais barato de fazer sucesso efêmero.
Hoje muios meios de comunicação evitam críticas aprofundadas a Dudu, Cabral Filho e Lula. Os três governos são três grandes anunciantes. Daí para se ter a sensação de que a mídia em geral escorrega perigosamente pela trilha unsafe do jornalismo chapa branca é um pulo.
Quero brincar e dizer ao mundo inteiro a alegria de mijar num bom banheiro.
Dudu quer “miamizar” ou “melbournizar” o Rio de Janeiro a toque de caixa. Isso não é viável. O carnaval não é Time Square. Em Salvador, no Recife e noutra grande cidade, o fenômeno da urinação nacional nas ruas do carnaval se repete. Nenhuma lei revoga a necessidade. E a polícia, como se não tivesse o que fazer, é convocada a prender mijões alegres que consumiram a cerveja da Ambev, que inunda a grande mídia de publicidade. As cervejarias não cuidam do óbvio, os rejeitos dos produtos que elas vendem devem integrar o processo de produção. Alô Ministro Carlos Minc! Falta seu dedo nessa enrolação!.
Mas quanta obviedade nessas linhas políticas. Vamos mijar menos, galera. Mas se a coisa apertar, faça a escolha. Mijar nas próprias calças, mijar num bueiro, atrás de uma igreja ou diante de um prédio público fechado, com banheiros fechados. Ou então correr à delegacia mais próxima e mijar junto dos presos, depois é só dizer bye bye para eles e para os guardas de plantão. Ou então pegar um táxi e mijar no Piranhão da prefeitura em dia de plantão. Ou ainda mijar nas instalações refrigeradas dos grandes meios de comunicação. Se der tempo.
Dom João VI sem tempo mijava no logradouro público. Dom Pedro I fazia sexo em logradouro público, 18 filhos com dez mulheres, comeu escravas, nobreza e até uma freira. Dom Pedro II comeu poucas, mas numa delas fez a filhota Isabel, que mandou construir banheiro público no centro do Rio por causa do asco que a fedentina das redentoras mijadas lhe causavam. Mas resolver a xixizada geral que é bom, que nada. Nem a princesa resolveu.
Cada bueiro é um banheiro. Cada necessidade é uma constatação fisiológica. E é puro terrorismo esse delírio de condenar o folião humilde que já vive condenado o ano inteiro. É isso aí, justo na hora em que a massa se diverte e solta a franga, vem a dupla Dudu e Betoven dizer que é proibido fazer xixi, dizem que xixi não é uma necessidade, e sim um ato político de boa aceitação.
Bexigas de Evoé, restrinjam-se, reprimam-se, evitem o óbvio. Que nada, minhas adoráveis bexigas, evitem acreditar nas autoridades do Rio de Janeiro. Bons modos não se impõem com cascata midiática. Bom jornalismo oportunista não convence o espectador brasileiro que, diversamente do telespectador britânico, é bombardeado com publicidade de cerveja. Em Londres, com o frio, é difícil botar o pau para fora. Congela e quebra. Lá não há demanda reprimida pelo consumo de loura gelada nas ruas abaixo de zero. Em Time Square, nem se pode beber. Aqui pode tudo, beber até cair, me dá um dinheiro aí, só não pode mijar na rua porque Dudu, Betoven e os meios de comunicação disseram que é muito feio e decretaram guerra às exigências urológicas. Preferiram abolir o senso crítico de mostrar que é muita gente, muito liquido, muita necessidade, sem nenhum verdadeiro atendimento. Nem 15 mil banheiros químicos resolveriam a premência do xixi da multidão carioca. Tem que ganhar a cidade, corações e mentes, os botequins, os hotéis, os serviços públicos com banheiros abertos nos dias do reino da folia. O resto é papo de brioche de Dudu e Betoven. Quem beber, verá, ou mijar-se-á.
Agora, com a prisão do governador Arruda, quem vai ocupar o lugar dele no desfile da Sapucaí em homenagem aos 50 anos de Brasília, tema da Beija Flor? Sugestões? Qualquer outra autoridade mijona é bem-vinda... Quem, então?
Um bom menino não faz xixi na cama
Meus oito anos:
Oh! que saudades que tenho
Da urina da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Que urina, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã.
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberto ao peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
Oh! Que saudades que tenho
Da urina de minha vida
Oh! que saudades que tenho
Da urina da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Que urina, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã.
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberto ao peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
Oh! Que saudades que tenho
Da urina de minha vida
* Coluneta Temporã by Alfredo Herkenhoff
Correio da Lapa a meia bomba, a meio pau!