terça-feira, 15 de setembro de 2009

Porrada na História: 1ª visita de Lula a Roraima


O Brasil está crescendo, apesar da guerra civil em Roraima, e o Correio da Lapa encolhendo, apesar de você que nos lê!

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta segunda-feira, que ele é o dono da verdade e que são maus brasileiros estes que espalham mentiras contra o seu governo. Lula, claro, não usou estas palavras, mas foi o tom. Lula participou de festejo por um novo aeroporto em Roraima enquanto, a poucos metros do palanque, a polícia batia em meia dúzia de arrozeiros expulsos de terras indígenas por ordem do Supremo Tribunal Federal do Poder Executivo Paralelo.

Lula, otimista, não vai a velórios de adolescentes assassinados a cada dez minutos, Lula, que não visita doentes pobres em enfermarias de hospitais públicos degradados, diz que o Brasil é uma ilha de prosperidade no mundo, saindo da recessão. Vai entrar em 2010 numa situação de crescimento econômico. Lula não usou, claro, estas palavras. Mas parece o general Geisel falando ao tempo em que era presidente na ditadura, anos 70.

Lula não diz que, pela primeira vez, em quase 30 anos, a pauta da balança comercial brasileira registra um dado estarrecedor: vendemos mais commodities, produtos a granel, comida não tratada e minerais etc, do que serviços ou bens industrializados. Ou seja, o Mundo dá voltas, mas, mais uma vez, as forças dos mercados globalizados mostram que o Brasil, se não se cuidar, vai continuar derrapando no mesmo dilema determinado pela divisão internacional do trabalho: ser ou não ser uma nação exportadora de produtos primários, quase sinônimo de pobreza. Não que o agroenegócio seja ruim, aliás a maior potência agrícola do mundo são os EUA. Mas é o que está se delineando para o futuro do Brasil: um quadro de vender muito e barato. E dispor de bons serviços só para uma minoria. O resto é cascata na mídia.

O Brasil só é moderno nas imagens de TV e na vaidade que ela espelha, como por exemplo a do Nordeste, região das mais pobres e ainda assim ostentando o primeiro lugar no consumo per capta de produtos cosméticos. Hoje, o sertanejo é antes de tudo um perfumado.

Os melhores quadros do Brasil saem das melhores universidades e vão para o exterior; é só ir ver o que ocorre com os melhores jovens cérebros do Ita, da USP, do Impa etc. Exportamos cérebros em estado bruto de desaproveitamento interno.

Mas Lula defende sim o livre uso da internet em campanhas eleitorais. Já foi informado que é impossível proibir, como insinua querer fazer o Senado, que aliás delibera sobre o tema esta semana.

Lula também defendeu neste início de semana a distribuição igualitária dos royalties do pré-sal. Está irritando o coleguinha Sérgio Cabral e o adversário José Serra. Aliás, este governador tucano de São Paulo que tome cuidado: o playboy tucano Aécio Neves está armando o bico para dar uma porrada nas expectativas mais óbvias: o governador das Alterosas sabe que o Brasil jamais elegeu, democraticamente, um candidato careca para presidente. Seu tio Tancredo Neves, por vias indiretas, subiu a rampa morto. A faixa lhe foi fúnebre. Lula fica com 50% dos royalties. Mas quer que o pouquinho a mais que vai para os Estados produtores, e poluídos pela indústria, levem menos. Lula quer votos no Congresso. Usa a Federação como arma contra o bom senso. Isso é perigoso.

As manifestações contra Lula na primeira visita do presidente a Roraima desde que tomou posse do governo, em 2003, na verdade eram para os ministros do Supremo. O escritor Oswald de Andrade dizia que, quando a massa enfurecida num estádio de futebol xingava o juiz, na verdade estava xingando o presidente da República. Como o Supremo é que está deliberando de fato sobre politicas estratégicas da Nação Brasileira, Lula, num deslocamento freudiano, está pagando o pato.

Cesar Battisti, assassino safado, merece o que já recebeu: asilo político, merece confirmação deste asilo. O guerrilheiro comunista é buscado com altivez pelos representantes diretos do gabinete do premiê Silvio Berlusconi. E o STF está a um passo de conceder um sim a Il Cavaliere e um sonoro não rotundo ao presidente Lula. Nesse momento, o menos importante é a culpabilidade de Battisti. O Supremo está desmoralizando Lula, isso é um absurdo.

Por maior que seja a porradaria aqui a atingir Lula, o Correio da Lapa apenas reflete o tititi das ruas, classificando o presidente como um dos três estadistas da História do Brasil, ranqueado na galeria ao lado do Imperador Pedro II e do caudilho Getúlio Vargas.

Mas, nesse ritmo, ao presidente Lula, daqui a pouco, com tanto Supremo Desmoralizador, caberá triplicar a compra de helicópteros para proteger as fronteiras da Reserva Raposa do Sol. Porque, no futuro, esta nação indígena, independente do Brasil, será uma espécie ou de ameaça, uma cabeça de ponte de forças alienígenas com apoio de conjunto de ongs insidiosas, ou será um presépio, um lugar para visitar, lugar parar gerar divisas via indústria do turismo de extinção, ou de curiosidade excêntrica em torno de povos que desaparecem.

Dos 5 milhões de índios que havia no Brasil em 1500, dizem os antropólogos e sociólogos, só restam 300 e poucos mil. Quanta mentira idealizada. Tem mais índio hoje do que ao tempo de Cabral. Apenas ostentam sobrenomes novos: Silva, Santos, Pereira. Estão misturados, somos cafuzos, curibocas, caburés, mestiços e caboclos de todo tom. Os portugueses, com suas pirocas giratórias, multiplicaram a nossa espécie.

O resto é papo de ong ingênua ou mal-intencionada. No Mercado Ver-o-Peso, nós, os silvícolas mentirosos, somos maioria. Quase não usamos mais cocar nem toga, preferimos a nudez do desemprego e a verdade da cachaça barata, em Roraima ou Copacabana. Dá no mesmo.

A pequena guerra civil que se viu nesta segunda-feira em Roraima é mais grave do que a grande mídia faz ver. Hoje a guerra civil endêmica nas grandes cidades mata 40 mil por ano. Os americanos perderam pouco mais de 50 mil soldados em dez anos de Vietnã. Perderam uns 4 mil em seis anos de Iraque. E aqui a gente brinca de achar que a guerra civil é só para os outros, a gente finge acreditar que, por estar a guerra civil em clave de sol, nunca irá para a clave de fá. Mas todo cuidado é pouco. Falta pouco fermento para a crise moral na politica liberar, além da internet, a borduna, a clava, a adaga, a rebelião civil generalizada.

Pela via da internet livre, é possivel canalizar a violência do narcotráfico para algo mais sério como a violência política. Um redirecionamento das balas perdidas para objetivos mais preciosos, cabeças coroadas dos mais poderosos como os juizes, algo que já ocorreu por exemplo na Colômbia e Itália. Máfias atacando magistrados encapuzados, julgamentos secretos em bunkers. Lá nessas duas nações as autoridades conseguiram contornar o redirecionamento. Mas, tempos digitais, 100 anos depois de Os Sertões, o Supremo pode forçar Lula a se tornar não um templário petista, ou um autobispo Edir Macedo trabalhista telecaptador, mas um Luiz Inácio Conselheiro.

Aqui, tudo ainda é pura especulação. Mas o risco parece bater à porta ou aos cordões de isolamento do presidente Lula.

A cada dia, mais e mais carro blindado. Todo mundo quer se blindar. De Nelson Tanure do Jornal do Brasil ao dono da padaria ali do lado.

O remédio é simples diante desta degradação: educação, educação, educação. Dinheiro para professores e professoras!

A batata social está assando. Apoio de 80% de ibope vira gordura saturada num piscar de olhos.

Abre o olho, Lula, o monopólio da mentira não está na multidão de seus críticos. A massa que tanto apoia seu governo é a que mais sofre com ele, é a que ainda se ilude com as fantasias da televisão. Mas, até quando?
Por Alfredo Herkenhoff