sexta-feira, 6 de março de 2009

A CANTORA DO JARRO DA SAUDADE

Carmen Costa aprendeu a cantar em igrejas. Veio para a Cidade Maravilhosa aos 15 anos e foi parar justo na casa do maior astro da época: Francisco Alves, em 1935. O resto é um conjunto de aventuras e música de primeira grandeza entre o Brasil e os Estados Unidos.
Filha de um casal de meeiros da fazenda Agulha, Carmen Costa aprendeu a cantar hinos religiosos ao trabalhar para uma família protestante. Tinha nove anos de idade. Freqüentou programas de calouros. Em 1937, conheceu o compositor Henricão (Henrique Filipe da Costa), que lhe sugeriu o nome artístico de Carmen Costa.
Em novembro de 1945, Carmen Costa se casou com o americano Hans van Koehler. Viveu vários anos nos Estados Unidos, entre New Jersey e New York. Apresentava-se também em Caracas, Bogotá, etc. Lançou em 1952 a marcha Cachaça não é água (Mirabeau Pinheiro, Héber Lobato e Lúcio de Castro), um dos grandes sucessos do carnaval de rua de todos os tempos. Passaria a viver com Mirabeau, segundo ela, o grande amor de sua vida. Mirabeau, alfaiate capixaba radicado em Niterói, era exímio arranjador e compositor.
Foram casados por 15 anos. Entre os sucessos de Carmen Costa, destacam-se ainda Eu sou a outra (Ricardo Galeno), de 1953; Quase (Mirabeau e Jorge Gonçalves), de 1954; Obsessão (Mirabeau e Milton de Oliveira), de 1956; e Jarro da saudade (Mirabeau, Geraldo Blota e Daniel Barbosa), sucesso no carnaval de 1957. Apareceu nos filmes Carnaval em Marte; Depois eu conto e Vou te contar, todos dos anos 50. Excursionou nos EUA com o sanfoneiro Sivuca. Apresentou-se regularmente em boates paulistas. Atuou num espetáculo na Igrejinha da Glória do Outeiro, no Rio, sob direção do saudoso Artur Laranjeira e Antônio Crisóstomo. A propósito, o padre Sérgio, capelão da igrejinha, diz que a acústica ali é uma das melhores do Brasil. Carmen Costa interpretou hinos sacros, benditos e rezas, com arranjos do saxofonista Paulo Moura. O disco teve edição pequena e se esgotou logo. Realizou recitais sacros em várias cidades, como na igreja do Embu, na catedral de Brasília e no Teatro Guaíra. A discografia de Carmen Costa se encontra dispersa. O último CD, Tantos Caminhos, é dos anos 90, lançado pela Som Livre. Uma jóia rara.
Silézia Koehler (apesar do sobrenome, é filha de Carmen com Mirabeau), vive modestamente com a mãe em Jacarepaguá. Carmen Costa, apesar de preservar o vozeirão por nunca ter fumado nem bebido, enfrenta problemas para subir escadarias. Mas a filha faz um apelo: a mãe precisa trabalhar, precisa cantar. Silézia se queixa muito dos agentes da cultura no Rio, dizendo que na cidade falta grana e sobra falta de criatividade.
Mulher que tanta alegria e emoção deu ao Brasil, Carmen Costa é um escândalo diário: o mensalinho dela é coisa de 700 reais por mês. Muito já se queixou sobre esta injustiça, mas como se trata de cultura... Carmen Costa disse que nunca viu um tostão de direitos autorais. Nada mal para quem teve como marido o craque Mirabeau, que pontificou em muitos carnavais. Alô Ecads da vida...
Talvez o Sesc de São Paulo a homenageie neste dia 5 de julho com um show de surpresa na capital paulista. Talvez a Rede Globo a exiba de surpresa. Qualquer coisa que se faça por ela, será ainda muito pouco. Talvez Nelson Motta faça menção a ela logo mais no Municipal, dando-lhe um Multishow de surpresa. Qualquer homenagem, mesmo de improviso, é a certeza merecida. Por ora, só podemos gritar: Viva Carmen Costa! Parabéns para você com muito amor! E quem puder, que lhe envie um dinheirinho...
Banco Itaú Agência 6021-5 -- c/c: 14821-5 – Correntista: Carmelita Madriaga Koehler Banco 341 - Telefone de Carmen e Silézia: 021.3342.1820)