terça-feira, 14 de julho de 2009

Vergonha tipo exportação: sequestro-relâmpago na Espanha, com brasileiros no crime

VISTO DE FORA

Todo brasileiro carrega o Brasil nos ombros

Por Bruno Garschagen
JORNAL i (informação), de Lisboa, em 14/072009

Quando ouço falar em comunidade brasileira (ou em qualquer outro tipo de comunidade) tendo a desembainhar a espada. É um horror natural diante de minha incapacidade completa de considerar civilizado o encontro de quatro pessoas ou mais de mesma nacionalidade num país estrangeiro.
O Código Penal brasileiro, em seu artigo 288, é taxativo: formação de quadrilha é a associação de mais de três pessoas para o fim de cometer crimes. No meu Código Penal Individual o crime está na reunião em si com o objectivo de conversar em voz alta sobre o país de origem, ouvir música nativa e fazer uso de comidas e bebidas típicas. Se houver equipamento de som e dança, não me resta senão defender a pena capital.

Exagero? E quando imigrantes formam um "gang" para cometer crimes com maior potencial ofensivo e abuso da violência? No fim de Julho três brasileiros (Anderson, Sidnei e Talles) e um argentino (Victor Sebastián) foram presos em Barcelona pela polícia espanhola acusados de integrar uma quadrilha que assaltava bancos e realizava sequestros relâmpago. Detidos quando saíam de um carro para roubar um banco na região metropolitana da cidade, os quatro criminosos vestiam uniformes de pintores de parede (seriously?).

De uma só tacada, o grupo conseguiu duas proezas: unir brasileiros e argentinos num mesmo objectivo e macular um ofício comum entre imigrantes, que usualmente encontram no sector da construção civil uma chance para trabalhar e iniciar a vida no país escolhido.

Uma desgraça nunca vem sozinha, não cansa de repetir o Barão, meu bulldog inglês. No dia 7 deste mês, Wellington Rodrigues Nazaré foi condenado a onze anos de prisão efectiva. Lembram-se do cavalheiro? Junto com Nilson de Souza tentou assaltar a dependência do Banco Espírito Santo (BES) na Rua de Campolide em Agosto do ano passado.

O assalto foi detectado e a dependência cercada por efectivos da Unidade Especial de Polícia (UEP) da PSP. Para tentar fugir com o dinheiro, Wellington e Nilson, armados com uma faca e uma pistola, usaram uma bancária e o gerente como escudos humanos. Quando estavam na porta do banco, atiradores especiais da UEP agiram com precisão: Nilson teve morte imediata; Wellington sofreu ferimentos graves e foi submetido a cirurgias na cara. Ficou detido até ser julgado e condenado não só à prisão, mas a pagar uma indemnização de 10 mil euros a cada um dos dois reféns e mais 15 mil euros ao BES. Também será deportado para o Brasil logo após cumprir a pena.

As reacções mais indignadas que ouvi sobre o caso não foram de portugueses, mas de estudantes brasileiros que moram em Lisboa. Todos manifestavam a revolta dos justos: "Malandro, em vez de trabalhar decide roubar.

Se o preconceito contra brasileiro aqui já é o que é, imagine agora?" É claro que a indignação leva ao exagero retórico, mas é interessante notar como imigrantes, digamos, qualificados (na comparação com a maioria dos imigrantes das Terras de Vera Cruz) reagem a esse tipo de situação e ao preconceito contra os brasileiros, hostilidade que quase todos eles nunca sofreram directamente.

A indignação dos estudantes é uma reacção demasiado humana: uma forma de estabelecer diferenças entre ser brasileiro e ser criminoso, vício que ignora nacionalidades. Eis o problema: num país estrangeiro o brasileiro é o seu país. Mesmo que não queira, mesmo que rejeite com todas as forças, mesmo que renegue a pátria por três vezes, como Pedro a Cristo, como Garschagen o Carnaval, ele carrega sobre os ombros os vícios e as virtudes de sua nação. Se for honesto, será invisível; se criminoso, será o brasileiro que cometeu um crime.

Você, caro leitor, que chegou até aqui ainda se lembra dos nomes dos assaltantes presos na Espanha e daquele condenado em Portugal? E da nacionalidade? Os nomes de Anderson, Sidnei, Talles e Wellington já viraram pó na história. O que fica, o que ficará, será o facto de serem brasileiros. Ser brasileiro potencializa o crime e tempera a história.

Eu? Nasci com a vocação consagradora dos invisíveis sem pátria e sem nome.

Jornalista brasileiro e mestrando em Ciência Política e Relações Internacionais no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica


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