segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Sucessão de Lula e o governador Sergio Cabral


Queimação de etapa em 2010? *
Entre Dilma, Serra e a crise com Sarney, o nome de Sérgio Cabral, na surdina, desponta no páreo

O recesso do Congresso, férias de inverno, uma gazeta a mais, enfim, chega ao fim. A semana começa como terminou, nem parece que houve refresco; Temperatura máxima. O senador José Sarney a um passo do inferno, a presidência na Câmara Alta foi um inferno astral. E de quebra, tem-se o reinício da discussão sobre o que será a CPI da Petrobras.


O pano de fundo de tudo isso é a sucessão do presidente Lula. Nessa “brigolândia eleitoral” em que se transforma o Congresso numa antecipação da campanha, a imagem dos candidatos José Serra, tucano, e Dilma Rousseff, petista, ameaça sofrer desgastes já que seus principais apoiadores “jogam Senado no Ventilador”, e a mídia nova, a internet, repercute, turbinando os efeitos na grande mídia tradicional.


Na espreita, os candidatos de plantão, entre eles Heloísa Helena do PSol, a Heleninha do Paiol, e os governadores de Minas Gerais, Aécio Neves, e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Historicamente, mandatários destes dois estados quase sempre são candidatos em potencial à Presidência da República.


E os dois governadores têm algo em comum: são pragmatistas e, embora jovens, exibem um histórico vitorioso na arte de queimar etapas, não como Fernando Collor de Melo, que montou na garupa do azarão sem patas partidárias e, qual caçador de marajás, empalmou o Poder do Planalto, desprezando os congressistas, governando como se fosse mágico imperador. Por isso foi defenestrado pelos políticos com os quais mal conversava e depois absolvido pelo Supremo Tribunal. Sim, sentença do Supremo cumpre-se, repeita-se, mas é algo que muitas vezes não convence ninguém na política. A ficha de Collor é de idoneidade total. Mas a imagem de probidade foi para o espaço. Admira-se o trabalho dele para se re-erguer, o apoio dele a Lula etc, mas nada além de vaidade e ilusão no plano nacional.

Sérgio Cabral e Aécio Neves (tucano e um desafio de correligionário diante do governador Serra) têm na arte de queimar etapas um histórico bem ao contrário do Collor fura-fila. Os dois são exímios articuladores, conversam, fazem parcerias o tempo todo. Cedem, cobram, vislumbram soluções políticas. Serra não tem articulado bem no plano nacional, talvez prejudicado pela popularidade pessoal de Lula, que Aécio, ao contrário do paulistano, preza e respeita.

Seria preciso espaço amplo para enumerar os feitos na carreira do governador do Rio de Janeiro, aqui e agora desenrolada de afogadilho, sem maiores precisões ou pesquisas: Jornalista, mas ninguém se lembra de assiduidade dele na faculdade, Sérgio, aos 19 anos, ajudava a campanha do pai homônimo na era dos vereadores nos ventos da Brizolândia de 1982.

A partir dos 20 e pouquinhos anos, já tinha cargo executivo no setor de turismo sob o governo de Moreira Franco. Na década de 90, Sérgio, ainda com menos de 30 anos (nasceu em 1963), exerceu dois mandatos consecutivos na Alerj como parlamentar do PSDB. Presidiu os deputados estaduais. No interregno, perdeu uma eleição municipal para o arquiteto arrivista Luiz Paulo Conde.

E no articula-aqui-e-acolá, Sérgio logo apoiaria Conde em 1996 e o casal Garotinho em pleitos seguintes, conseguindo, nessa barganha política, ou por obra do destino, já pelo PMDB, a façanha de se tornar senador (sem jamais ter sido deputado federal) na eleição de 2002, com menos de 40 anos. O mandato de oito anos de Sérgio no Senado (renunciou em 2006 para governar e, em seu lugar, está lá no DF o Paulo Duque Pau Mandado), iniciado em 2003, termina só no ano que vem.

Desde 2006, já como governador eleito aos 43 anos de idade, e apoiando Lula e tendo o apoio do presidente, Sérgio (atualmente com 46 anos) vê dois cenários à sua frente: a re-eleição aos Palácios das Laranjeiras e Guanabara, ou uma viagem expressa, já em 2010, para o tão sonhado e até lá reformado Palácio do Planalto, isso apenas se o cavalo da sorte lhe passar selado logo adiante.

Uma re-eleição no Rio em 2010 é dada como certa, apesar das insinuações de que o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, poderia, pelo PT, desafiar o governador. O Rio tem o PAC em seis das 600 favelas, tem a Copa do Mundo assegurada em 2014 - e a final do Mundial será no Maracanã, que entra em reforma já no ano eleitoral de 2010. O Rio vai ter o trem-bala ligando a Sampa e a Campinas, o Rio ou Sérgio tem o pioneirismo na política assistencialista de remédio barato para os velhinhos - Sérgio é o mascote da terceira idade. Sérgio tem a ocupação comunitária da PM com esforços sociais em seis das 600 favelas. Sérgio tem a UPA substituindo hospitais, apesar das crises pontuais como a da gripe suína etc.

Não importa quão eficiente ou não seja esse estoque de feitos, são ações que ganham mídia e dão votos. O povo vê, se reconhece e gosta dos postos de saúde 24 horas, dos serviços sociais em cinco ou seis favelas-antes-só-tiroteio.

Sérgio apoiou e foi peça-chave na virada do prefeito Eduardo Paes no auge do crescimento vertiginoso e fugaz do candidato-deputado “zé-serranista” Fernando Gabeira no ano passado. Sérgio trabalha para fazer de Lula um vitorioso num retorno em 2014. Mas...

Sérgio, com o histórico de homem de ação, pode pensar que, além de se garantir na re-eleição no Rio, não precisa afastar a possibilidade de buscar logo o Planalto em 2010. Se não consegue isso, e Lula volta pós-Dilma em 2014, Sérgio teria que esperar mais 13 anos no mínimo para sonhar com a máxima magistratura do Poder Executivo.

Se entra agora, o que só seria possível com apoio de Lula, ou como consequência de uma explosiva barafunda na esteira dessa crise moral do Senado, ainda assim Sérgio teria de costurar uma aliança para garantir o retorno do presidente-operário em 2014. A barafunda teria de ser um re-embaralhar de cartas, com imagens impossibilitadas por quaisquer desígnios, seja a de Dilma, que tem câncer, ou a de Serra, que é careca e anti-Lula (hoje tão popular que já costuma ser comparado a Getúlio Vargas e Dom Pedro II em matéria de galeria de mandatários estadistas que entram para a História), ou a de Heloísa Heleninha, o azarão guerrilheiro de partido mínimo no estilo misto de Evo Morales e Collor de Melo.

Com este pragmatismo que a biografia não desmente, e como também é um viajante (tal como Lula e Fernando Henrique Cardoso, os três são de uma mesma linha macroeconômica), Sérgio refaz alianças, rompe com velhos aliados, faz política e não rejeita cálculos. Se Lula voltar ao Planalto em 2014, pode assegurar a re-eleição em 2018, quando Sérgio será ainda jovem: teria 55 ou 56 anos de idade.

Se tudo “der errado” nesse histórico de queimação de etapas, Sérgio só chegaria ao Planalto ao fim do segundo (na verdade quarto) mandato de Lula, em 2022, quando o nosso atual governador terá ou teria apenas 59 ou 60 anos de idade. Dá para esperar. Sérgio sabe disso, mas o histórico...

E além de tudo, nesses tempos de internet, e-mail e twitter, há o exemplo de Barack Obama queimando etapa: conseguiu, como senador federal em primeiro mandato, e sem jamais te sido deputado federal em Washington, ser eleito para a Casa Branca com 47 anos de idade. Advinha, depois de tantos números, qual a idade de Sérgio Cabral no ano que vem? Simplificando a resposta: Obama é exatamente um ano e meio mais velho do que Sérgio.

Apesar dos adversários, das críticas, de pertencer a um PMDB, que é Mula-Sem-Cabeça, federação de caciques regionais, Sérgio Cabral desponta como uma força nacional na campanha de 2010. Para os que voam muito não importa o quanto voam, mas o quão alto. Sérgio Cabral mantém o pé no chão, voando baixo como Lula e os grandes nomes do futebol.

Apesar de queimar etapas, de viajar em jatinhos e negociar com empresários, num tete-a-tete para trazer investimentos ao Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho não se parece com janotas e almofadinhas arrivistas. Embora more no Leblon, tenha gosto pelo que é bom, casa boa em Angra ou Búzios, tem também a tradição e a alma do subúrbio carioca. Aprendeu a ler os corações dos mais humildes em rodas de samba com o seu pai, o querido bom-caráter Sérgio Cabral, o velho jornalista, musicólogo e sonhador de coisas e pessoas boas que possam ajudar a melhorar o dia-a-dia na sociedade brasileira.

Resumindo, a queimação de etapa é apenas possibilidade, nenhuma certeza.

* Por Alfredo Herkenhoff