domingo, 30 de junho de 2013

MANIFESTAÇÕES NAS RUAS E UM CONSELHO DE CANOSSA








CONSELHO DE CANOSSA

(Brasil, domingo, 30 de junho de 2012: Você vai ler a seguir um longo esboço de sugestões para a democracia, que está capenga neste momento, encaminhar de forma pragmática as vozes das ruas. Se você achar que essa proposta abaixo é absurda, inviável, tente então explicar por que e também pense outras possibilidades práticas e democráticas)




AS RUAS E UM CONSELHO DE CANOSSA

Cinco integrantes para um Retiro Político e Espiritual:
Joaquim Barbosa
Cármen Lúcia
Renan Calheiros
Henrique Alves
Dilma Rousseff

Dilma quer participar da voz das ruas? Ou quer domá-la?

(Se você, internauta, considerar as sugestões abaixo uma contribuição positiva, ajude a levá-las diretamente à chefe do governo e aos demais quatro integrantes de um conselho sugerido para ser criado emergencialmente com o objetivo de encaminhar a nossa voz nas ruas sem nada de influência de partidos políticos)

Estima-se, com toda a fragilidade de uma reflexão/especulação pessoal, que a voz difusa das ruas até aceitaria a participação da presidente Dilma Rousseff numa negociação por uma democracia que contemple mais justiça, mais eficiência e mais oportunidades.

Dilma está como a chefe do Planalto hoje negociando com a tal governabilidade que está no foco do furacão. Nossa democracia depende de um troca-troca com o Poder Legislativo que garanta o dia a dia do Poder Executivo. É mais ou menos assim nas democracias do mundo inteiro.

Mas a multidão, multidões, jovens inexperientes na maioria, não quer nem ouvir falar desses terríveis deputados da governabilidade, agora bonzinhos votando tudo a favor.

Dilma não dá sinais de que possa captar esses sinais, essas vozes. Ela parece não acreditar que ficaria mais forte, agora que está tão fraca, se baixasse a taxa de governabilidade, com um apoio das vozes difusas das multidões. Seria dar um sinal às multidões. Cortar o gabinete de 40 pela metade.

E dentro da fragilidade inicial de uma reflexão que começa aqui tão individualmente, dá para descortinar cenários para uma agenda que contribua ao diálogo que vai desembocar provavelmente num plebiscito.

São aqui especulações de uma pré-agenda para definição de pontos polêmicos de uma agenda verdadeira, agenda concreta a merecer em breve decisões das multidões que somos nós, os eleitores. O que não dá para pensar como factível é um plebiscito engendrado sob influência acachapante de partidos políticos rechaçados nas ruas e sob influência da grande mídia, idem.

Como separar o joio do trigo nesse ambiente de rua sem lideranças visíveis?

A ideia aqui é um plano, a criação desse conselho para discutir possibilidades emergenciais nesse momento histórico fazendo não uma tábula rasa do passado antigo e do passado recente, mas deixando respeitosa e momentaneamente de lado a imensa e burocrática estrutura do Estado.

Parece complicado e é. Mas não é hora de punição atabalhoada de corruptos no poder, que isso é coisa de revolução. Você quer revolução? Aí rola muito sangue, literalmente. Então é não, hoje é o Brasil cantando o Hino Nacional e exigindo melhorar a democracia, que era bacaninha, deu comida e algum consumo, mas estragou muita coisa no dia a dia, exibiu e exibe muito ladrão.

Você quer mais bem-estar e dignidade naqueles pontos já consagrados: quer na educação, saúde, no trânsito e na segurança, ou escolas boas para as crianças, hospitais idem, tráfego seguro nas estradas e transporte inteligente nas metrópoles e, claro, uma nova polícia, um que não se confunda com assaltantes armados nas ruas.

Tudo isso depende da política, que é a arte de produzir e dividir a riqueza, e o que é gerado em comum deve ser gerido em comum. Claro, os mais competentes ganhando pelos próprios méritos a nossa admiração e fazendo jus ao máximo conforto que é um estímulo para quem valoriza a eficiência.

Somos 100 mil enterros anuais, metade com a violência, metade com o trânsito, esses dois itens que são consequência da carência do nosso sistema educacional para as crianças da imensa maioria das famílias brasileiras.

Então esqueça por enquanto quem, hoje, ocupa cargo no poder público como um corrupto, ou quem, atuando no mercado na condição de milionário ladrão, não vai preso. Esqueça isso momentaneamente. Corruptos e assaltantes irão para a cadeia amanhã. Este amanhã é mais à frente. Querer punir na marra e depressa é revolução. Aí é muito sangue, é outra história.

O Brasil está num processo de quase convulsão, que é quase revolucionário.

O cenário de julho neste último dia de junho é este nesta sugestão:

Eu, manifestante, esqueço quem é PT, quem é tucano, esqueço quem se diz de esquerda, quem crê ainda em esquerda e direita, quem não crê e tal.

A hora agora é da nossa democracia travar um diálogo com todos os segmentos. Esquecer por exemplo que Renan Calheiros, que teve ou tem votos nas Alagoas, é foco do meu protesto. Mas agora ele não será mais só um reles senador de sexo, bois, notas fiscais, renúncia e retorno. Não, você pode esquecer essa biografia por enquanto. Renan até está votando bacaninha nas últimas horas do Senado. Mas, por sua condição de presidente desta casa, ele é aqui neste cenário dessa sugestão um integrante não das vozes das multidões nas ruas, mas será de uma das vozes diversas desse imenso Brasil, uma das cinco a participar de um núcleo no Caminho de Canossa.

Os cinco vão se ajoelhar simbolicamente diante de um novo rei, o povo brasileiro e sua vontade de democracia forte, que é democracia com educação e justiça de fato, não só de direito, só no papel.

Esquecidos, com dificuldades, esses problemas recentes que estão na raiz das manifestações de rua, esquecidos, não, mantidos à parte momentaneamente, vamos à agenda pragmática para o Conselho, que na verdade, por sua vez, vai produzir uma pré-agenda para mudar o Brasil.

Renan, na condição de presidente do Senado, é voz deste Poder, mas também será voz dele, voz pessoal de um alagoano. Renan deve integrar o Conselho de Canossa com um igual aos outros quatro integrantes. Ele não falará em nome do seu partido.

O mesmo vale para Henrique Alves, voz de presidente da Câmara, voz dele mesmo, pessoal. No conselho, ele não falará em nome do seu partido.Será voz pessoal de um representante do Poder Legislativo.

Joaquim Barbosa é voz dele mesmo e voz do Poder Judiciário. Não falará em nome dos outros dez integrantes do Supremo.

O mesmo para Cármen Lúcia, será voz dela mesma e voz também como Barbosa, do Judiciário, mas não falará em nome dos demais juízes do TSE por ela presidido.

Há que se descorporativar essas vozes no conselho. Eles saberão disso quando se retirarem para pensar e produzir respostas que provavelmente vão ao encontro das ruas.

Dilma será voz dela mesma e voz da Presidência, isto é, voz dos 200 milhões de brasileiros, mas não será voz nem do conjunto de integrantes da base aliada no Congresso, não será voz dos seus 40 ministros, nem voz será ela do Partido dos Trabalhadores.

Isso está parecendo um grupo hardcore do Poder para substituir a voz das ruas? Não. Isso é o menor denominador comum do Poder Público. As questões estaduais e municipais ainda não entram em campo neste momento. Vamos esquecer essas questões apenas momentaneamente.

O que deveriam fazer esses cinco nomes essenciais da nossa representação da democracia? Eles são o Poder Público em sua máxima grandeza!

Mas vão se reunir com a máxima humildade.

Eles vão fazer um caminho de Canossa, se reunir não num imponente palácio ou dentro de um quartel, mas num bom e simples hotel numa cidade pequena, que tal Ouro Preto? A pequena cidade simboliza o ouro colonial que seduziu Portugal, enfim, o dinheiro da História, dinheiro que sempre seduz tanta gente, dinheiro que ergue e destrói coisas belas, e a cidade simboliza a República, a esperança nasceu ali, esperança na revolta contra o mal-estar decorrente dos impostos pesados que incidiam sobre a atividade aurífera.

Esses cinco vão conversar como seres humanos. E descendo do Poder Máximo que lhes foi concedido por nós, eleitores no espaço da Constituição Cidadã, eles humildemente saberão vislumbrar respostas para as nossas vozes nas ruas.

Joaquim Barbosa, negro, você quer mais representatividade da nossa realidade social do que ser isso? Ser negro num país que foi o último ou penúltimo a acabar com a escravidão de africanos e filhos de africanos? Um país que ainda hoje mantém negros na base da pirâmide social, no sopé da pobreza.


Você tem Cármen Lúcia, que nasceu nas Gerais, ela é mineira da banda do Norte, quase Bahia, é das veredas, aqueles descampados numa das regiões mais pobres do Brasil. Era criança de família humilde numa cidadezinha chamada Espinosa, 30 mil humildes brasileiros. A reunião de Canossa poderia ser realizada também ali. Cármen Lúcia é hiper constitucionalista. Ela é um talismã dessa República de uma bela Constituição Cidadã, de um Brasil que quer ver a Carta respeitada, que quer mudar os hábitos da República que nos envergonham.

Renan Calheiros representa bem um Brasil de gente que sabe que a vida é luta renhida, tem que ser esperto, matar um leão todo dia. Não, ele não é exemplo de bondade. Mas é um retrato de boa parte do Brasil. Ele é o chefe do Senado Federal e é um ser humano esculachado pela grande mídia diariamente, esculachado por nós, por mim, por todos na internet, mas é um legítimo representante que está lá no Poder sempre mediante votos, primeiro os de Alagoas e depois da maioria dos demais 80 senadores.

O mesmo para Henrique Alves, também um legítimo representante do Poder Legislativo.

E temos a Dilma, a búlgara mais brasileira do planeta, a terrorista mais amada, não importam os elogios, os deboches, os que a amam e os que a odeiam. Ela está ali, eu a botei ali. Eu a quero ali. Revolução quem fez foi ela na própria juventude, indo à luta, sofrendo e lutando, sem parar. Não importa se é tecnocrata, se é arrogante, se é isso ou aquilo. Se foi do PDT e ainda está no PT.

Partido é tudo o que não se quer nesse momento de transição de uma democracia para uma democracia melhor.

Seria muita pretensão continuar aqui sugerindo o que devem fazer esses cinco nomes tão importantes numa discussão que se pretende ver produzir uma resposta histórica para as reivindicações que já confluem como itens convergentes, ou itens básicos nos pleitos das manifestações de rua.

Estima-se que os cinco mais poderosos da República saberão ser brava gente, vão conversar em dois planos amplos: o político de médio prazo e o imediato, que é emergencial, uma nova governabilidade para Dilma poder caminhar de volta com o povo nas ruas e impedir qualquer tentativa louca de ruptura institucional.

Como fazer uma reforma política para o país atacar frontalmente questões difíceis, problemas que veem de décadas, séculos, injustiças encravadas em tantos maus hábitos, nossas piores tradições?

As pautas convergentes que terão a reforma política como pano de fundo são aquelas já mencionadas mas que não custa repetir, isso aqui, mais que um manifesto, é também uma oração, quase uma ladainha:

Melhorar a segurança nas ruas, menos violência.

Investir em escolas de qualidade para a massa de crianças e adolescentes do Ensino Fundamental.

Investir em hospitais, capacitá-los a produzir cura e saúde.

Buscar uma nova engenharia no transporte dentro das cidades. Por que privilegiar um carro de 700 quilos que leva um único passageiro e engarrafa?

Nesse Retiro Político Espiritual, os cinco nomes de Canossa poderiam se reunir durante uns cinco dias, levariam três ou quatro assessores cada um para que conversassem numa sala ao lado e dando apoio eventual quando chamados.

Jornalistas mantidos à distância.

E o povo nas ruas cantando o Hino Nacional, ou indo atrás de um pastor, ou saudando a chegada iminente do papa.

Poderiam se reunir já nesta semana que está só começando.

Se você acha que essa proposta é absurda, que isso tudo aqui é mirabolante e infactível, produza então uma sugestão menos absurda, menos mirabolante, mais factível, mais pragmática.

Por enquanto Dilma Rousseff está tentando encaminhar perspectivas em tratativas com a governabilidade e com consultas a Joaquim e Cármen Lúcia. Mas há sinais de que isso não vai acalmar as ruas.

Se você, colega internauta, endossar essa sugestão, parte dela, ou se tiver outras sugestões de caráter pragmático, na linha de um Caminho de Canossa, participe, todo mundo é bem-vindo a essa discussão.