terça-feira, 13 de abril de 2010

Dilma e Serra em editorial do jornal O Globo


Hora das propostas de Serra e Dilma

Com o lançamento da pré-candidatura tucana de José Serra à Presidência da República, depois de o PT já ter sacramentado o nome de Dilma Rousseff, indicação de Lula para sucedê-lo, a campanha de 2010 entra em novo estágio, em que se espera a primazia do confronto de ideias, propostas, sobre tentativas de golpes da baixa política e jogadas de marketing desprovidas de qualquer conteúdo.

Dilma e Serra têm origem comum, na resistência de esquerda à ditadura militar. A ex-ministra, oriunda de grupos armados, e vítima dos porões do regime; o ex-governador de São Paulo, presidente da UNE em 64, exilou-se no Chile, onde escapou de ser fuzilado no Estádio Nacional, no golpe de Pinochet.

Apesar de todo o discurso político-eleitoral, não se vislumbra uma volta ao passado a partir das urnas de 2010, possibilidade que também não esteve presente em 2002. Nesse sentido, o Brasil dá mostra de maturidade institucional, característica de regimes republicanos sedimentados: não é devido à possibilidade da chegada da oposição ao poder que se esperam mudanças radicais.

Mesmo porque a oposição de hoje foi situação entre 1994 e 2002, período em que se instituíram as bases da estabilidade econômica, sensatamente preservadas por Lula ao vencer em 2002.

A festa tucana em Brasília, no sábado, indicou que o PSDB decidiu assumir seu passado, o que não fizera no segundo turno de 2006, quando, de maneira equivocada, se acabrunhou diante da pecha de "privatista" bradada por Lula, e não soube mostrar as enormes vantagens do desmantelamento de monopólios estatais.

Nem irá, como também ficou claro, esconder o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, símbolo de um período de reformas as quais conseguiram o feito histórico de debelar a superinflação crônica, de que se beneficiariam todos, inclusive Lula e sindicatos hoje no poder.

Ao assumir a candidatura num evento em que, com Aécio Neves à frente, o PSDB deu importante demonstração de unidade, Serra, que se mantivera em silêncio diante de todo o foguetório lulopetista na fase em que o presidente usou e abusou do cargo e da máquina pública para promover a candidata, passa a dividir com Dilma espaços antes monopolizados.

Além de trazer o saudável contraditório para esta fase prévia à formalização das candidaturas pelas convenções partidárias, a chegada do ex-governador de São Paulo ao embate eleitoral permite que se comece um real e objetivo debate sobre propostas concretas de governo.

No seu discurso, Serra tratou de apontar alvos conhecidos: falta de investimento em infraestrutura, na educação básica, ética na política, gastança, corporativismo e aparelhamento da máquina pública.

E ainda fez rápida referência ao setor externo da economia, ligado de maneira umbilical à taxa de câmbio, tema inflamável e diante do qual Serra foi dissidente mesmo no governo FH.

Dilma se diz estatista e Serra não pode ser tachado de "neoliberal". Nenhum dos lados defende o "Estado mínimo". Por trás do lema tucano do "Brasil pode mais" há algum protagonismo do Estado; e a visão de Dilma está exposta no projeto de mudança do modelo de exploração do pré-sal, inspirado no dirigismo geiseliano. Chegou a hora de, sem artifícios e tergiversações, estes temas serem esmiuçados pelos candidatos.

(Avistado via blog do Noblat)