A briga no Clube dos 13
e a guerra entre a
Rede Globo e a Rede Record
O assunto é complicado: o racha no Clube dos 13. A população não sabe com clareza o que está acontecendo. |No fundo, a briga entre os clubes apenas reflete a briga entre a Globo e a Record, que no ano que vem transmite com exclusividade de TV aberta as Olimpíadas de Londres. Todo mundo sabe que o dono da Record, Edyr Macedo, é também dono da Igreja Universal, que capta dinheiro numa centena de países e traz para o Rio de modo a injetar de meia-noite às 7h da matina na televisão, via aluguel, de horários para propaganda de religião. Macedo paga a si próprio o minuto mais caro do Brasil no horário menos nobre. Com isso, o dinheiro que entra livre de impostos, via doação de fiéis de boa fé, é, digamos, lavado ao pagar impostos que a Record recolhe para o governo. Até aí nada de mais, apenas dois empreendimentos de sucesso: uma TV e uma Igreja Telecaptadora. O problema se agrava porque a Globo, que sempre apoiou o governo, do qual provém O grosso de seu faturamento publicitário, está ameaçada pelo Macedo, QUE tem mais bala, mais grana e também apoia o mesmo governo. Os políticos ficam em cima do muro. Por mais defeitos que a Globo possa ter, é de longe a melhor televisão do continente. É ruim que comece a perder terreno nas licitações para transmissão de grandes eventos. Será que Dilma Rousseff vai conseguir convencer Macedo a ceder à Globo direitos de também transmitir as Olimpíadas? Será que o Cade, que aparenta regular a concorrência, considera legal o enriquecimento da Record, que começou via dinheiro de fiéis, e que agora ganha um surplus dos anunciantes públicos e privados?
Essas minhas reflexões são superficiais, não tenho, não temos elementos completos para equacionar o problema. São os clubes do Rio, os mais endividados - e mais o Corinthians que apenas rompem com o Clube dos 13 porque apenas querem mais dinheiro? Ou será que apenas viram uma forma de faturar mais com as dificuldades da Globo diante do poder financeiro da Record? O Cade passou a atrapalhar a Globo ao não ver o que ocorre na Record. Este poder do Macedo vai começar a ficar mais visível nas futuras licitações para as grandes transmissões.
Cerca de um ano atrás, na ocasião de uma daquelas brigas de cachorro grande, trocas de denúncias entre Globo e Record no horário nobre, Macedo deu uma entrevista na Florida dizendo, entre outras coisas, que tinha um sonho: entrar com a sua propagação da fé cristã no mundo islâmico. Vi na declaração que ele é capaz de levar o reality Fazenda - arremedo obsceno do enjoativo BBB de Pedro Bial, também simpaticamente obsceno - a qualquer lugar, invadir os lares até da Líbia hoje conflagrada. Vi que Macedo, com tanto dinheiro, apoio dos políticos em Brasília e uma massa de fiéis, está se tornando o homem mais poderoso do Brasil. Tenho medo disso.
No ano passado, Macedo paralisou o Rio de Janeiro de forma escandalosa, humilhou o choque de ordem do prefeito Eduardo Paes. Depois do chute na imagem de Nossa Senhora, passei a não ter mais dúvidas que se trata de fundamentalismo ambicioso, com Macedo e seus obreiros vendo no dinheiro a ferramenta teológica para fazer avançar planos que ainda desconheço, mas que me causam apreensão.
Como o jornalismo brasileiro vai mal das pernas, Macedo, mesmo sem oferecer excelência, oferece alternativas para tantos colegas dependentes de trabalho com patrão.
A guerra Globo versus Record está só começando. Envolve basicamente um caminhão de dinheiro. Gostaria que envolvesse mais qualidade na programação em ambas as redes.
A própria forma como as duas emissoras estão tratando dessa guerra pela transmissão do futebol mostra que por enquanto só podemos especular, e talvez temer. Bom seria se houvesse mais transparecia e o Brasil saísse ganhando, ganhando civilidade, mais qualidade e mais oportunidades. Mas onde está a transmissão do futebol feminino na TV aberta? Onde a transmissão do vôlei, do basquete?
Chega! É muito angu no meu café da manhã. Por isso estamos cada vez mais na internet.
Declaro de público que torço pela Globo contra a Record e faço um último apelo: oremos. Amém.
(Por Alfredo Herkenhoff, Correio da Lapa)