quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O melhor Guignard queimado em Copacabana


 ARTE TERRIVELMENTE PREMONITÓRIA
 Por Alfredo Herkenhoff
 Correio da Lapa

Minha visão do quadro pintado nos primórdios da ditadura do Estado Novo... O fundo montanhoso, meio bíblico e meio cheio da mineiridade do artista, bem Brasil, verde amarelo. é meio apocalíptico.
 A flora e a fauna mais nítidas aparecem  em primeiro plano, no pé da tela e, ao mesmo tempo, este lugar mais baixo parece um penhasco, um abismo panorâmico, um clima de arca de Noé, como se a vida estivesse por um  fio apocalíptico.
 E existe insinuado um espaço, um vazio meio ovalado onde estão as montanhas de Minas, a composição, e o nome da obra, Floresta Tropical, evoca Jardim das Delícias, que na historiografia da arte tem mil exemplos, de Bosch, em especial, aquela fartura de vida longe de quaisquer restrições políticas e religiosas, mas sempre como contraponto com o perigo do Inferno que enfim consumou as nossas flores, os nossos animais e a própria arte na casa de Jean Boghici, arte terrivelmente premonitória estas flores e bicharada de Guignard, sem nenhuma proteção, tal qual a Floresta Amazônica, com Monte Belo, tal qual a nação Ianomâmi, tal qual tudo por aqui...    Tacamos fogo sem pena nem dó, é bala pra tudo e pra todo lado, em gente, na natureza, na arte...

Rio de Janeiro, 15 de agosto de 2012