quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Assange, dois estupros mal contados e uma execução a caminho


Assange, dois estupros mal contados 
e uma execução a caminho


A transa com duas mulheres suecas em agosto passado produziu o pedido de prisão do fundador do WikiLeaks, o australiano Julian Assange, e o pedido de asilo político na Embaixada do Equador em Londres. Seu advogado qualificou a acusação de "golpe político" e os admiradores suspeitam de uma trama governamental  por trás do que seria uma armadilha para Assange. Diariamente se vê em torno da missão diplomática o mesmo cenário:  um bloco de manifestantes favoráveis a Assange, um bloco de policiais de plantão e um pelotão de cinegrafistas.
 Foto diante da Embaixada de Quito em Londres:


As duas suecas alegaram que não têm nada a ver com o vazamento dos “cables” e sim apenas com a forma como o australiano trata as mulheres.
 Os advogados de defesa sustentam que o caso nasceu em Estocolmo apenas depois que as duas mulheres descobriram que tinham transado com o mesmo homem com diferença de poucas horas e que o caso envolve apenas sexo consentido que descambou para o desentendimento por causa do uso de camisinha.
Assange, quando o caso veio à tona, fez o seguinte lamento: já fui acusado de tudo nos últimos anos, mas nada tão grave assim.

Segundo o jornal londrino  Daily Mail, com base numa advogada sueca, Gemma Lindfield, atuando como promotora da Justiça de Estocolmo, o caso tem os seguintes contornos:

11 de agosto:  Assange chega em Estocolmo, onde ele será  o principal orador num seminário organizado por um grupo chamado Movimento da Fraternidade.
O Daily Mail informa que o contato de Assange no seminário é uma feminista radical que já foi professora universitária num evento chamado "campus oficial da igualdade sexual." Ele e ela não se conheciam, mas ela convidou Assange a se hospedar em seu apartamento. A mulher foi identificada pelas autoridades suecas apenas como “A” de Ana Carla Dascouve.

14 de agosto: Os dois foram jantar e voltaram para o apê para transar. Durante o ato sexual a camisa estourou. Ana Dascouve depois diria à polícia que Assange usou o peso do seu corpo para transar e que portanto ela foi foi vítima de "coerção ilegal".

15 de agosto: Assange fez o seu discurso no seminário e conheceu outra mulher com quem foi foi almoçar com uma turma de colegas. Depois o casal foi ao cinema onde a mulher se insinuou dizendo a ele que os dois já eram “íntimos”.  Esta mulher foi chamada pelas autoridades apenas como “W”, de Wilza Dascouve.
 Naquela noite, Ana Carla Dascouve deu uma  uma festa para Assange em sua casa, depois de twittar se gabando para os amigos, manifestando sua surpresa de estar com uma das pessoas mais legais do mundo.

 16 de agosto: A segunda mulher, isto é, a Wilza Dascouve, chama Assange e os dois voltam a se ver em Estocolmo. Eles vão de trem para a cidade natal dela, vão para o apartamento dela, onde transam. Segundo seu depoimento à polícia, Assange usou camisinha.

17 de agosto:  Wilza Dascouve diria à polícia que Assange naquela manhã  transou com ela sem camisinha enquanto ela ainda estava dormindo.

18 de agosto: Assange é acusado de ter deliberadamente molestado Ana Dascouve de modo intencional para violar a sua integridade sexual.
Logo depois que Wilza e Ana Carla se conheceram no seminário, Wilza Dascouve afirmou que teve relações sexuais sem proteção com Assange. E  Ana Carla, em seguida, disse que ela também tinha dormido com ele e que depois teria dado telefonemas para sua própria casa dizendo a Assange que queria que ele saísse do seu apartamento.

20 de agosto: Assange deixa o apartamento. As duas mulheres vão à polícia em Estocolmo para obter orientação sobre como proceder com uma queixa  contra Assange.  Wilza Dascouve queria saber se era possível forçar Assange a se submeter a um teste de HIV. Ana Dascouve disse que ela estava na delegacia  apenas para apoiar Wilza, mas também acabou dizendo à polícia que ela, igualmente, tinha  enfrentando um problema com Assange na cama.
 Uma policial de plantão, que pode ser aqui mantida anônima com o codinome de Greta Garbo  Dascouve, depois de conversar com as duas mulheres, concluiu que Wilza havia sido estuprada e Ana sofrido assédio sexual.
 O caso passou então a requerer que um promotor público concordasse com as queixas e decidisse intimar o suspeito de estupro.

21 de agosto: O procurador-geral rejeitou a acusação e negou pedido de prisão, dizendo: ocorreram apenas delitos pequenos.

Nos dias seguintes, depois de novas queixas das duas mulheres, um promotor especial reabriu o caso e expediu mandado de prisão contra Assange.
 À esssa altura, a imprensa caía em peso na história. Ana Dascouve chegou a dizer  a um jornal sueco que em ambos os casos o sexo tinha sido consensual no começo, mas que acabou descambando para o abuso.
"As acusações não foram criadas pelo Pentágono nem por ninguém”, alegou Ana Carla acrescentando: "A responsabilidade pelo que aconteceu comigo e com a outra mulher é de um homem com uma visão distorcida sobre nós, porque ele tem um problema em aceitar a palavra 'não'.

Agora resta a Assange:

  
Passar 15 anos na Embaixada de Quito em Londres.
Ganhar um salvo-conduto e ir morar no Equador, onde a Justiça pode reabrir o caso da acusação de estupro, mas jamais entregaria Assange à Suécia que, com facilidade, o entregaria aos Estados Unidos onde, por acusação de espionagem, a pena seria tranquilamente a capital, a execução. Por ora, Londres está anunciando que não vai dar salvo-conduto ao homem que desmoralizou dezenas de governos, botando na internet as mensagens cifradas de embaixadores, presidentes, primeiros-ministros, generais, parlamentares e até mensagens de espiões de todos os matizes, do mundo inteiro.
 Assange pode ser preso por qualquer vacilo na Embaixada ou em seus contornos, pode ser executado dentro da missão diplomática. Londres, por ora, insinua que busca meios legais para prender Assange mesmo dentro da missão diplomática, que é território equatoriano.
 Assange pode morrer misteriosamente numa rua qualquer no seu futuro como cidadão equatoriano. 
Rafael Correa, o presidente do Equador, é um Hugo Chávez mais comedido, não é impulsivo. Ele pensa muito antes de tomar as decisões mais loucas. Ele sabe que Assange protegido contra os serviços de inteligência de Washington lhe rende preciosos votos para a reeleição.
 Para nós, latinos, mal educados que somos com aquele clichê de que na Suécia existe o amor livre, as duas mulheres, que convidaram o estrangeiro famoso para transar em suas casas, estariam ignorando a máxima que diz: ajoelhou, tem que rezar. Acenderam o pavio, brincaram como a Monica Lewsinsky brincou com Bill Clinton e descobriram que o salão oval não era tão confortável assim. Mas Monica não se queixou. Fez, gostou e fez acordo com o acusado acuado. Ela faria tudo de novo. Hillary perdoou a pulação de cerca do marido em plena Resolute Table, a histórica mesa de trabalho de tantas decisões históricas de chefes dos Estados Unidos.
 Mas americanos não perdoam espiões nem traições. Assange é um homem marcado para morrer.
 As duas suecas, bem, não creio que estejam tão traumatizadas. São profiláticas. Disseram ambas: não, sem camisinha não, mas o negócio já estava escorregadio. Uma delas disse, não, agora não, estou com muito sono, mas a chama já estava acordada.
 Assange errou sim. Ele sabe disso. Mas não sabemos, ainda ao certo, com bases nessas informações preliminares, a coisa corre em segredo de Vara de Justiça, se o crime foi tão grave assim como pintam.
  É bem possível que Assange, se Londres não puder impedir a sua saída, venha a trabalhar para o governo do presidente Rafael Correa. O Mister Wikileaks sonhava em ser senador na Austrália. Assange, embora fomado em ciências exatas, notabilizou-se por divulgar a melhor notícia, as mensagens secretas dos governantes do mundo.
 E aqui de novo repito o meu bordão: jornalista não tem que se meter em política. O jornalista é um ser político, investiga e tal, mas, se entrar no jogo da safadeza pública, na roda dentada, fuuudeuuu!

    Por Alfredo Herkenhoff
Correio da Lapa
Rio de Janeiro. 16 de agosto de 2012