terça-feira, 22 de abril de 2014

João Vicente Goulart se anima a disputar a sucessão de Dilma Rousseff



Será que dá?

João Vicente Goulart, em conversa informal com os amigos mais chegados, vem manifestando interesse em desafiar o chefe do PDT, Carlo Lupi, e sair candidato à sucessão de Dilma Rousseff  por esta sigla fundada por Leonel Brizola ao fim do seu exílio no início da década de 80. Esta informação foi dada pelo militante José Francisco Rodrigues,  que é filho do falecido coronel de Exército Dagoberto Rodrigues, exilado em 1964 por seu apoio incondicional ao presidente João Goulart e seu cunhado Leonel de Moura Brizola.  

Embora se lançando candidato a candidato a presidente do Brasil, João Vicente sabe, presumo eu, que suas chances são mínimas. Mas sabe também que ninguém faz uma bela caminhada sem dar o primeiro passo.

O primeiro é superar Lupi, uma liderança inventada por Brizola.  Lupi era um jornaleiro e que terminou como ministro do Trabalho defenestrado subitamente por Dilma Rousseff depois que uma empresária o denunciou por cobrar propina. Hoje Lupi acusa a sua acusadora, mas a pecha colou e desde então ele ficou mal falado nas ruas do Rio de Janeiro, do tipo mais um desses políticos em quem não podemos confiar. Mas Lupi não dá nenhum sinal de humildade dentro do PDT. E não podendo ele mesmo ser candidato, talvez descubra que seu melhor candidato é ninguém.

João Vicente Goulart

Formado em filosofia e tendo exercido apenas um mandato de deputado, João Vicente tem se dedicado a restaurar a verdade em torno de seu pai, João Goulart, o único ex-presidente do Brasil a morrer fora do país, na condição de exilado. Por isso mesmo, João Vicente, de 57 anos de idade,  preside o Instituto João Goulart.

 Entre tantas mentiras envolvendo 1964, segundo João Vicente, está a de que seu pai fosse comunista, como acusava a grande mídia insuflando a opinião pública e os militares a uma quebra institucional, mentira  que seu pai fosse um frouxo, como acusavam os militantes de agremiações comunistas que, na ocasião, defendiam, com outros radicais, a implantação de reformas na marra, mesmo com a derrocada do Congresso Nacional.

 João Goulart, ou simplesmente Jango, era profundamente legalista. Quando os militares não quiseram a sua posse na condição de vice depois da renúncia de Jânio Quadros em 1961, João Goulart, conciliando, aceitou a implantação a toque de caixa do regime parlamentarista. Depois veio o plebiscito que lhe restituiu formalmente o poder presidencialista. Mas, de fato,  nunca teve tanto poder. Governou por pouco tempo tendo como pano de fundo a Guerra Fria, a Revolução Cubana, a interferência norte-americana temendo que o exemplo de Fidel Castro se alastrasse, o medo da burguesia brasileira mal acostumada com o descaso com a coisa pública, a oposição da maioria no Congresso, o massacre diuturno de todos os grandes meios de comunicação pregando o golpe, e até a oposição da Igreja Católica temerosa com um possível avanço do comunismo na esteira de um governo apoiado por sindicalistas, universitários e pequenos segmentos militares e de profissionais liberais.

 Joâo  Goulart não quis reagir com o uso da força como lhe garantia a Constituição porque teve a sagacidade de compreender que as forças que o estavam derrubando eram infinitamente superiores aos segmentos que o apoiavam. 

 Desferido o golpe militar, João Goulart evitou recorrer ao setor do Exército disposto a defendê-lo porque isso só iria gerar um banho de sangue, quiçá uma guerra civil. Jango mandou sua família logo para o Uruguai, mas permaneceu clandestinamente no Brasil até que o deputado Ranieri Mazzilli assumisse a Presidência como o nome escolhido provisoriamente pelos golpistas, ainda que congressistas tivessem declarado a vacância do cargo pela ausência do mandatário. Mas João Goulart estava em território brasileiro naquele momento do 2 de abril.

 No seu trabalho à frente do Instituto João  Goulart, João Vicente tem se mostrado simples e didático, não poupa críticas ao modo como os grandes meios de comunicação, ainda que perdendo cada vez mais influência para a internet,  ditam verdades que não se confirmam.  

 João Vicente recentemente disse que, por exemplo, para se eleger um deputado federal por São Paulo, um candidato precisaria dispor de algo em torno de 6 milhões de reais. Uma vez eleito, esse parlamentar em Brasília vai pensar no povo ou na grana que se gastou para a sua eleição e no lucro que esse investimento pode gerar no balcão de negócios em que se transformou o Congresso Nacional?

 Bem, fiquemos com o trecho dessas considerações do João Vicente acerca da triste política dos nossos dias, palavras dele em entrevista concedida em março passado, na qual tratava dos 50 anos do golpe que derrubou seu pai, então atacado por mentiras de todos os lados:

  "Eu digo sempre que nossa obrigação como seres humanos é constantemente nos mantermos como seres políticos, mas não necessariamente seres eleitorais em um país onde nossos congressistas são vistos como escórias diante da opinião pública. E por que? Assim será, enquanto não fizermos uma profunda reforma política, onde possamos eleger verdadeiros representantes de nosso povo para que nos representem, para que nos dirijam, para que conosco construam uma alternativa clara às necessidades sociais e não pessoais. Até lá, não teremos dignidade e nossos representantes serão meros bonecos a serviço de seus financiadores.Não é possível que para se eleger um deputado em São Paulo se necessite de R$ 5 milhões, ou R$ 6 milhões. Eu não tenho esse dinheiro e para obtê-lo teria que vender minha atuação parlamentar para aqueles que me financiarem. Votar contra os interesses do povo caso estes atinjam, contrariem os interesses dos financiadores. Por isso temos aí as bancadas da bala, bancada ruralista, bancada da medicina, bancada dos evangélicos, bancada disto e daquilo. Este não é o parlamento que sonho. Lamentavelmente, os partidos políticos querem manter seus privilégios e aqui no Brasil ainda são classificados como de direito privado, o que é um absurdo quando um cidadão filiado quer questionar o comportamento de seu dirigente.O debate político se transformou em debate eleitoral; o de questionamento ideológico em balcão de negócios de espaços televisivos à venda; o doutrinário em aprendizado de coligações espúrias para fazer o número suficiente de deputados federais que dê aos dirigentes partidários o acesso ao Fundo Partidário; os sonhos de ideologização democrática, em traições e armadilhas de conchavos pela manutenção do poder pelo poder. Algo tem de ser mudado. Quem sabe rever dentro das reformas de base, e também fazer uma reforma eleitoral ampla para dignificar os mandatos e para que nossos parlamentares sejam orgulho de nossa população”. (Por Alfredo Herkenhoff)