Zico, Feliz dia dos Pais! Muita paz em família. Ponto.
Mas no futebol, não há paz não. Sua batata está assando. Sim, saudades de você quando jogava no Flamengo, você e o time maravilhosos. Mas este currículo glorioso de maior artilheiro na História do Mais Querido não lhe dá prerrogativas de tratamento excepcional como dirigente, cartola, técnico etc.
Não. Você sofreu muitos traumas fora do Flamengo e os carrega de forma terrível, e parece um traumatizado que não reconhece isso.
Você não fez uma história bacana na Seleção. Não que a culpa tenha sido sua. Nada de satanizar nem individualizar responsabilidades. Nada. Mas você é traumatizado e isso atrapalha a sua função no futebol brasileiro fora das quatro linhas.
Uma visão psicanalista explica isso. Na Seleção, perdeu três Copas: Argentina, Espanha de Paolo Rossi e México do pênalti desperdiçado durante o jogo. Tudo bem que depois da prorrogação você bateu e fez o seu na eliminação pela decisão lotérica. Mas o trauma é indelével e parece que vem se agravando com os anos.
Você faz bem para a Seleção do Japão, fez bem para o futebol da Turquia, mas hoje para o futebol do Brasil, não. Hoje para o Flamengo, fora das quatro linhas, parece que também não.
Vejamos: você ajudou Zagalo a cortar Romário na França, nos preparativos, por contusão. Romário ainda na Europa chorou zangado e triste, dizendo que poderia ficar que dava tempo para se recuperar.
Mas você, talvez com medo inconsciente de que Romário fosse bicampeão (e o Baixinho vestia o Manto Sagrado), preferiu cortar o artilheiro mais frio que o Brasil teve nas últimas décadas, o matador calmo na hora de finalizar diante do mundo inteiro com o coação na mão. Pois bem, antes que Ronaldo passasse mal nas horas que antecederam a final contra a França, Romário já estava jogando com a camisa do Flamengo, numa partida contra o Internacional pela antiga Sul-Americana, que depois viária a atual Mercosul. O Flamengo foi campeão, ainda que Romário tenha saído da Gávea antes do fim daquela competição.
Mas Zico, você ficou duas décadas fora do Flamengo depois de nos dar tantas glórias. Fez time e escolinha na Barra da Tijuca. Sempre foi admirado como nosso maior goleador.
Voltou, porém, num momento infeliz. Elegemos uma parlamentar parecida com Roberto Dinamite, ela foi uma bela atleta, e ele o vascaíno que tirou Eurico Miranda do poder ainda no primeiro turno do Brasileiro de 2008 e levou o Gigante da Colina para o fundo do abismo da segunda divisão. Quem levou foi Dinamite, apesar da propaganda mentirosa dizer o contrario. Ele tomou o poder a duas ou três rodadas do encerramento do Primeiro Turno.
Patrícia Amorim, ao chegar, diante do Hexa, em vez de blindar o time, botou gente para fazer o circo pegar fogo, boquirrotos, quebrou o sentimento de grupo, mandou os campeões para longe do verão carioca, mandou todos sofrerem pré-temporada no pior interior de São Paulo em janeiro, Deixou que se criasse um turbilhão de conversa fiada, fofocas pela imprensa, rachou as lideranças.
Muitos craques sempre foram farristas. Adriano e Wagner Love não são exceção (este só chegou depois de Hexa) e ambos são importantes apenas pelo que jogam bem, não pelo mau gosto de suas festas, baile funk, amizades nas comunidades cariocas de onde emergiram, sobrevevivendo à pobreza e à violência.
O caso do goleiro Bruno é outra história. Que pague pelos crimes pelos quase venha a ser condenado. E ponto. Mas nada disso mancha o Flamengo coisa nenhuma.
O torcedor está se lixando para Bruno, Adriano e Zico. Tudo passado. A crise que incomoda pe o desmonte do time Hexa. O que preocupa foi a frase horrorosa, a pior da sua vida, Zico, dizer que a conquista do hexa foi prejudicial ao Flamengo. Ali você ostou todo o seu trauma em letra de forma, escandiu a sua turrice, seu moralismo de meia patoca dizendo que jogador vai ter que ser bozinho fora da Gávea.
A crise é esse quadro que Patricia criou em poucos meses. Você e ela parecem blindados.Você num cargo no qual se acha imune a fracassos. Se o time for mal quem cai é o técnico, fica o comandante de fato.
Os treinadores do Flamengo virando joguetes. Todo esse circo armado para o compra-compra, o vende-vende, e o Flamengo se dando mal nas mãos desses procuradores, aves de rapina da juventude desamparada pelos clubes.
A crise de Adriano, cabecinha de criança, que nem Garrinha, e de Wagner Love, por gostar de bunduda em baile funk no meio da favela com traficantes, nada disso tem a ver com jogar mal ou bem.
Então, Zico, pense que o Flamengo vai de mal a pior desde que Patricia chegou e você aceitou abrir mão de tanto sucesso no exterior para também vir ganhar dinheiro na Gávea.
Pode ficar chateado. Sou apenas mais um torcedor. O que penso muita gente também pensa. Esse time que perdeu agora para o Corinthians é fraco, é um arremedo, um desmanche de procuradores, é o preço que o Flamengo está pagando por eleger Patricia, é o preço que a presidente está pagando por se aceitar candidata dessa turma anti-Hexa e a favor do Fla-Só-Vitrine.
O Flamengo, depois do 1 a 0 deste domingo, já está a quatro pontos da zona de rebaixamento. Se o Flamengo rodar para a Série B, Patricia vai botar a culpa em Adrianao, Wagner Love e Bruno? Você, Zico, pode botar a culpa nos técnicos que começar a demitir, mas a torcida que ama o Galinho de Quintino pode botar a culpa de novo no seu destino de não fazer bem ao futebol do Flamengo depois de ter saído do time.
Tudo bem, amanhã o Flamengo começa a ganhar a primeira de uma série de seis ou sete consecutivas, e retiro tudo isso que eu disse, tudo que torci, palavras que distorci para botar o dedo na ferida e aplacar a dor. Mas hoje vale o escrito. Como torcedor, vejo que a tristeza é da Nação, mas a culpa é só de duas pessoas até agora: Patrícia e Zico.
(Por Alfredo Herkenhoff, numa pausa nos trabalhos febris em plena contagem regressiva do livro "Memória de um Secretário do Jornal do Brasil, a sair em 31 de agosto")