terça-feira, 30 de junho de 2009

Nepal proíbe bolso contra suborno. E se proibirem bolsa no Senado e na Petrobras? Especulações e literatura instantânea

EXEMPLO NEPAL

Vigilância e Ladroagem no setor privado e nas repartições públicas

Autoridades do Reino do Nepal decidiram nesta terça-feira magra proibir a existência de bolsos nas roupas, ou uniformes, de funcionários do aeroporto do montanhoso país do Himalaia. Para não soar medida falsa ou antipática, as autoridades anunciaram que a decisão é para dificultar a prática da gorjeta. Mas, na verdade, é ação radical contra propina de corrupção.

Questões nesse mundo de possiblidade que se julgava ficção se levantam. Por exemplo: e se alguém pensar em proibir que funcionários do Congresso Nacional e da Petrobras, duas das mais poderosas instituições do Brasil, levem bolsa para o local de trabalho?

Ou se cogitarem de instalar, além de catracas eletrônicas, sensores para pesar a passagem de cada funcionário na entrada e na saída? Se alguém na saida apresentasse um peso muito acima do razoável, mesmo para o mais glutão da repartição, aquele que come meio quilo ou quilo inteiro, o alarme digital soaria discretamente sob a forma de flagrante delito e bilhete azul. Tchau.

Se a moda pegasse no Brasil seria o início de 1984 no século 21. Seria o panóptico da velha cadeia na análise de Michel Foucault. Panóptico é aquele ponto fulcral de onde se avista todo condenado sob custódia em qualquer parte de uma Bastilha.

Seria a perda dos últimos vestígios de uma liberdade íntima, seria o controle final de nossas derrapadas nas curvas da tentação da vida. Com o advento das câmeras digitais, os chips, logo estaremos vigiados mesmo para sempre. Revolução dos Bichos.


Brincadeiras e exageros à parte, levar coisas do escritório para casa é uma questão séria que pesa na rubrica de gastos das grandes empresas. Uma boa administração tem de equacionar se um problema desses, ao se intensificar, seria decorrência de salários aviltantes, má educação ou má índole de fato.

Desaparecimentos misteriosos? Não! A verdade é que roubalheira e mentira é mato, no Brasil e no Nepal . Leva-se quinquilhaia mesmo. Vivemos na era da ladroagem. A literatura sobre desaparecimentos é vasta.

Uma vez, não me lembro em qual livro de Cortazar, li uma especulação do argentino, talvez tenha sido em Cronópios, sobre a diferença que se registrava no número de pessoas que entravam e saíam do metrô da grande cidade. Todo dia uma diferença e uma perplexidade literária, fantástica.

A literatura cinematográfica também é vasta sobre pessoas vivendo ou desaparecendo em lugares quase inimagináveis como reentrâncias urbanas, galerias, porões, tubulações, esgotos, cavernas desconhecidas etc.

Mas, de tudo isso, o exemplo de desejo de visibilidade no Nepal é o mais insólito pelo lado pateticamente óbvio de que, nu, ninguém leva nada no bolso.

Há de se tomar alguma providência para evitar que os ganhos ilícitos não pareçam um mal que jamais vá ter fim na civilização. Mas não dá para fugir do encerramento óbvio: ladrão e barata é igual a hidrogênio, do universo a mais abundante matéria. Ladrão e barata tem em toda parte, no luxo de Manhattan e no frio da Sibéria.

A propósito, os russos costumam dizer: confie, mas verifique. Como confiar sem verificar? Cegamente? Como verificar sem ofender a dignidade da pessoa humana?

No Rio de Janeiro, tempos atrás, uma fábrica de lingerie, por causa de umas gatunas, perfilava todas as funcionarias nuas, ao fim do expediente, para se certificar de que não estavam usando mais de uma calcinha preta.

Correio da Lapa, você não vale nada, mas eu gosto de você. Tudo o que eu queria era saber por que...

Eu poderia não encerrar nunca, mas sucumbo: uma vez me contaram o caso de um grande jornal em que a filial de uma redação gastava mais lauda, mais caneta e papel higiênico do que a matriz. Isso numa época em que os jornais eram ilhas afogadas num mar de celulose. Hoje o digital poupa árvores, graças a Deus e ótimo para o não-aquecimento global, embora alguns dos grandes jornais sigam desperdiçando árvores e editoriais.

Por Alfredo Herkenhoff

Funeral: Michael Jackson de volta a Neverland. Rancho ou Museu?

O funeral mas ainda sem detalhes



Corpo do astro volta para o rancho fundo da felicidade infantil



Tem Michael Peter Jackson Pan Pop voando na imaginação de ávidos empresários sonhando em faturar com a mansão que quase foi a leilão em 2008.

Correio da Lapa - Notícia comentada (*)

O corpo de Michael Jackson vai ser levado num cortejo de 30 limusines pelas ruas de Los Angeles até o rancho fundo de Neverland, na manhã desta quinta-feira, 1º de julho.Na mansão do verdadeiro Peter Pan, o corpo do Rei do Pop será reverenciado pelo público na sexta-feira.


O funeral privado foi marcado para domingo. A polícia de Los Angeles está em polvorosa sem noção exata se a população, que grandeza de multidão, estará disposta a sair de casa para dar um adeus ao astro.


A mansão encantada de Michael Jackson tem tudo para virar uma atração turística internacional, um museu, uma Disneylandia audiovisual Mais do que um sítio, menos do que uma fazenda, o terreno do rancho equivale a cerca de mil gramados do Maracanã. Neverland fica num vale da Califórnia e tem 1.330 hectares.


O castelo estilo mal-assimbrado do cantor tem parque de diversões, jardim zoológico, roda gigante, trem-fantasma, pista de carro bate-bate, quinquilharia de vários países, estátuas do menino-personagem que nunca envelheceu no desenho animado e ainda uma miríade de objetos do artista morto aos 50 anos de idade.

Tem Michael Peter Jackson Pan Pop voando na imaginação dos empresários americanos. O dinheiro que o cantor iria ganhar com a série de shows em Londres - para pagar dívidas - é pinto perto do que será faturado com a mansão que quase foi a leilão em 2008. Assim pensam alguns ávidos empreendedores. Assim especula esta mídia digital.

Na ocasião do quase-leião, estimava-se que o complexo no distrito de Santa Barbara - num espaço equivalente a três quilômetros por quatro quilômetros, valesse de 100 milhões a 120 milhões de dólares. Com o corpo do artista ali enterrado, ninguém mais sabe de repente quanto passa a valer? Será que vai ser mesmo enterrado ali? No chão ou numa cripta? Até o fechamento deste post, não havia detalhes do funeral.


Michael Jackson devia cerca de 500 milhões de dólares, segundo algumas estimativas. Pai e irmãos, fazendo mais contas do que lágrimas, sabem ppor meio de advogado, que os herdeiros também herdam dívidas. Mas a morte súbita embaralhou as cartas.

Muitas surpresas estão por acontecer em torno do legado do pobre cantor.
(*) By Alfredo Herkenhoff

Nada de Flip, sexta-feira é David Guérrier, o trompete do mundo no coração da Lapa



Nesta sexta-feira, quando alguns estiverem no barraco do JB em Paraty para lembrar as travessuras literárias do poeta Manoel Bandeira, eu, Romualdo Fernandes, estarei na Sala Cecília Meirelles, no coração do Largo da Lapa, para ouvir, ver e me inebriar com a música de Mozart. Conosco estarão músicos de primeira e a nova estrela da trompa e do trompete à frente da Orquestra Sinfônica Brasileira. O novo enfant terrible é o francês David Guérrier, guerreiro Davi, solando o Concerto n. 4 sob a regência do maestro Marcos Arakaki.

Nesta sexta-feira, quando adolescentes estiverem ali fora da Sala Cecília Meireles, bem ao lado, consumindo bebida alcoólica na calçada, à revelia da lei que proíbe o consumo para menores, estarei com a minha turma vendo o jovem gênio interpretar também o dificílimo Concerto para trompete de J. N. Hummel.

Nesta sexta-feira, eu, Romualdo Fernandes, não estarei às 20h me despedindo de Ricardo Boechat, o âncora do Jornal da Band, nem me preparando para ver a performance do casal Fátima Bernardes e William Bonner no Jornal Nacional. Estarei lá mesmo, bem acomodado na minha poltrona, assistindo a um dos melhores instrumentistas da nova safra da música erudita. Guérrier fazendo a sua estreia no Brasil. Absolutamente imperdível. Já comprei meu bilhete pelo telefone 3344-5500 e não me arrependi. Não troco o meu lugar na sexta-feira nem por uma viagem cinco estrelas a Salzburgo porque me chamo Romualdo Fernandes e só faço o que gosto, só vou na boa.


Nesta sexta-feira, quando jornalistas ainda com diploma e professores curiosos do interior do Brasil estiverem bebericando entre turistas, palestras chatas, maresia do velho porto, entre uma nesga de luar e as incômodas muriçocas de Paraty, todos curtindo aquele show fliperâmico de vaidades, eu, Romualdo Fernandes, serei a pessoa mais feliz do mundo, no enlevo da Série Ametista, e agradecerei pessoalmente a Kurt Masur por propiciar uma noite de gala para a música clássica no Rio de Janeiro.

David Guérrier, um vibrato raro, plenitude, seríssimo e, ao mesmo tempo, serenidade, é relax quando toca para se emocionar e emocionar o mundo


Quem, lendo este meu recado, se já estiver agendado para outras paragens na noite de sexta, talvez tenha ainda no sábado a última oportunidade de, a partir das 16h, ver o espetáculo com o solista genial. Talvez os ingressos já estejam esgotados. Só não comprei ticket para repetir a dose no sábado porque não sou egoísta. Não faltou vontade, mas cedi ao bom senso, cedi a vez para que outras pessoas vivam a experiência de ouvir ao vivo David Guérrier.

Marcos Arakaki explica detalhes das peças que David Guérrier vai executar. A primeira é um dos quatro concertos para trompa de Mozart - todos escritos para o trompista (e vendedor de queijo) Joseph Leutgeb, um dos mais íntimos amigos do compositor austríaco. Neste quarto concerto, como em todos os outros, Mozart apresenta o instrumento como personagem heróico – soando quase como um protagonista de ópera. A segunda peça que Guérrier toca com a OSB é de Johann Nepmuk Hummel (1778-1837), aluno de Mozart e, como ele, criança-prodígio da música; estudou também com Salieri e Haydn.


O programa termina com uma sobremesa: a Sinfonia n. 1 de Sergei Prokofiev.

Se você for à Sala Cecília Meireles, por favor, não faça barulho na hora errada. Se estiver gripado, mesmo que não seja a influenza H1N1, não vá. Nem tosse nem pigarro. Não ameace uma noite de glória com o nosso excelso Amadeu.

Caiu mais um Airbus no mar. Saíra de Paris com 153 a bordo. Inferno astral da fabricante


Ana Maria Braga sugere ao vivo na Globo que é hora deste avião parar de voar. Desta vez, Airbus caiu no Índico, no Arquipélago de Comores


Bruxas soltas no ar, no mar e em terra

Inferno astral da fabricante


Correio da Lapa - Noticia comentada (*)
Caiu na noite de 29 de junho mais um Airbus. Caiu no mar, no Oceano Índico, perto da Comores depois de decolar do Iêmen, com 153 pessoas, a bordo, das quais 66 seriam da França, de cuja capital o aparelho saíra. Caiu a poucos quilômetros do aeroporto de Moroni onde deveria aterrisar em 30 minutos.

Uma criança de cinco anos foi resgatada com vida. No dia 29 passado, quase à mesma hora, entre 9 e 10 da noite (horário de Brasília), caiu aquele outro Airbus que decolara do Rio rumo a Paris. O primeiro no Atlântico era um Airbus A 330. Esse que caiu no Índico era um A 310, foi na noite passada, mas a notícia só estourou na manha desta terça. O outro caiu na noite de domingo, a notícia, só na manhã da triste segunda-feira...

Com o novo acidente, Ana Maria Braga, escandalizada, sugeriu no seu programa matinal que por acaso aqui do lado buzinava: "Será que não está na hora de não deixar mais este Airbus voar? A indagação de Ana Maria Braga não encontra o mínimo respaldo da melhor engenharia, mas é perfeita do ponto de vista do consumidor, do passageiro.

A fabricante Airbus vive um inferno astral. Terá de fazer um megaesforço de marketing para reconquistar a confiança da turistada. Ninguém acredita em bruxa, mas que las hay las hay. O avião das Linhas Aéreas Iemenitas foi revisado totalmente em 2007 e se estimava que estivesse em bom estado. As bruxas é que estão em excelente estado, distribuindo vassouradas no destino de quem insiste em voar em Airbus.


O Airbus que se acidentou em Congonhas ano e tanto atrás depois de pousar... Que bruxa é essa que nem no chão nos dá sossego? E ainda quiseram botar a culpa nos pilotos que haviam partido do Rio Grande do Sul confiantes de que a aeronave fosse segura... Por Ícaro, Leonardo e Santos Dumont, consertem o chip dessa geringonça!


(*) Por Alfredo Herkenhoff

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Golpe em Honduras, medo de Zelaya ou de Chávez?

Na madrugada deste domingo, em vez de urnas do plebiscito abertas na marra, abriram a casa de Zelaya a tiros

Correio da Lapa - Notícia comentada (*)

No início de julho, a Suprema Corte de Honduras considerou o plebiscito convocado pelo presidente Manuel Zelaya inconstitucional e o proibiu. Zelaya insistiu na realização da consulta, que deveria ter sido feita neste domingo. Há cerca de uma semana, o Ministério Público de Honduras determinou que as urnas do referendo fossem confiscadas. Mas as forças leais de Zelaya pegaram antes as caixas e a papelada. O presidente determinou em seguida que as Forças Armadas participassem e organizassem na prática a consulta. Mas os comandantes, alegando que estavam proibidos pelo Supremo, se recusaram. Zelaya então destituiu o alto comando. O Supremo decidiu que a exoneração era ilegal. Nessa altura, crise chegando às ruas. E o partido do próprio Zelaya rachando por temer que a crise visava a sua reeleição.


Na madrugada deste domingo, em vez de urnas do plebiscito abertas na marra, abriram a casa de Zelaya a tiros. Tropas efetuaram a prisão do presidente, botaram-no num avião e o soltaram na vizinha Costa Rica como se fosse um ladrãozinho degredado qualquer.


Horas depois, o Congresso elegeu o presidente da casa, Roberto Micheletti, novo presidente interino da República, já que o vice de Zelaya renunciara um ano atrás. O mandato tampão vai até janeiro, quando terminaria o mandato de Zelaya. As eleições previstas para novembro estão mantidas. Micheletti, que há tempos acalentava o sonho de chegar ao Poder, passou as últimas horas emitindo declarações. Dizendo que não houve golpe, mas sucessão legal, que todo mundo agiu como manda a lei. Que Zelaya foi destituído pelos Legislativo e Judiciário por desacatar os dois Poderes, por desacatar sucessivamente as leis. Mas Micheletti não está convencendo ninguém. Nenhum país reconheceu o novo governo. Nem os EUA. Mas o fato de Washington ter anunciado nesta segunda-feira que vai manter a ajuda econômica a Honduras é um sinal contraditório de que a condenação não é tão ampla. A chefe da diplomacia americana, Hillary Clinton, também qualificou o afastamento de Zelaya como golpe de estado. Barack Obama foi mais formal: pediu que se respeitem as leis.


Micheletti tenta no plano interno estimular patriotismo, dizendo que o povo hondurenho está pronto para enfrentar as armas de Chávez. Salta aos olhos dos jornalistas que a parte golpista da sociedade hondurenha não teme Zelaya, o fazendeiro estilo americano, caubói, chapelão e tudo mais, mas a guinada que ele deu com discurso afinado com Chávez, que, em sua trajetória incendiária, já trocou desaforos com governantes de meia dúzia de paises, incluindo Colômbia, Peru, México e até Espanha. Do jeito que o venezuelano fala, parece que o mundo está prestes a explodir. Apesar da presença de tropas nas ruas de Tegucigalpa, cerca de 200 pessoas pró-Zelaya e pro-Chávez afrontaram neste segunda as forças de segurança. O país parece calmo, mas está em chamas. Por ora, porém, tudo sob controle, mas Honduras, um dos países mais pobres do mundo, está na mídia. É o primeiro golpe latino-americano desde 1993. E a 80 km da capital, há uma base militar dos Estados Unidos.


Lula, no início da tarde, voltou a reclamar do golpe dizendo inocentemente: mas que mal há em convocar um plebiscito para ouvir a opinião da população? Convocar com proibição do Congresso e do Supremo locais? Com 80% de popularidade é fácil dizer isso. Mas Lula não diria isso no auge da crise do Mensalão, que culminou com a campanha eleitoral de 2006 em que o PT escondia sua sigla de duas letras, envergonhado ou bem informado pelos ibopes da vida.


Zelaya e Micheletti não assumem mas não conseguem esconder que por trás da crise está a expansão do fenômeno Hugo Chávez junto às massas latino-americanas vivendo na extrema pobreza. Hugo Chávez desperta raiva e admiração. A América Latina mergulhou de vez no Século 20.

(*) Por Alfredo Herkenhoff

Honduras, Micheletti, Zelaya, Chávez, Ranieri Mazzilli e golpes novos e velhos - 10 minutos da sua atenção

Sobre velhos e novos golpes de estado, o novo presidente hondurenho Roberto Micheletti, o presidente deposto Manuel Zelaya, o não-saudoso duas vezes presidente brasileiro Ranieri Mazzilli e o eterno Hugo Chávez, patrono das crises institucionais mais recentes nas repúblicas hispânicas mais desesperadas.


Correio da Lapa, fatos e especulações (*)


(tempo estimado de leitura: dez minutos)

O Roberto Micheletti, que até domingo era presidente do Congresso de Honduras e que no mesmo domingo virou presidente da República, no lugar do deposto Manuel Zelaya, lembra muito no nome italiano o nosso Ranieri Mazzilli, que era presidente da Câmara Federal em primeiro de abril de 1964 e virou presidente do Brasil, "legalmente" no dia 2 de abril, na esteira de negociações para acalmar o poder de fato dos militares que chefiaram o golpe contra o presidente João Goulart. Naquela 2 de abril, diante da ausência do deposto presidente, já fugido pelas bandas do Uruguai vizinho de suas fazendas gaúchas, Mazzilli foi apenas uma solução do Congresso dizendo OK, vocês, militares, agora são a lei.



Antes daqueles idos de 64, Ranieri se tornara formalmente o 23° presidente do Brasil, ganhando um primeiro curto mandato em 25 de agosto de 1961, quando o então presidente bêbado Jânio Quadros renunciou achando que ia abafar, mas o bafo dele era insuportável. Na ausência de João Goulart, passeando pela China comunista e isolada do mundo, e Jango não voltava nem renunciava, apesar das pressões, de informes de que não o deixariam voltar, Mazzilli salvou a cara formal da democracia. Quem mais ajudou de fato a salvar esta cara foi a Campanha da Legalidade sob o comando do governador gaúcho Leonel Brizola contra os que armavam o golpe.



O fato é que Mazzilli foi nesta ocasião o 23º mandatário formal do Brasil. Seu primeiro falso reinado constitucional durou apenas até o feriado de 7 de setembro de 1961, 15 dias. João voltou, o romântico voltou novamente, e o Brasil, provisoriamente, evitara um vexame inevitável, que se agravaria menos de três anos depoís.



Especializado em passagens rápidas por diversos cargos, Mazzili, em 64, passou rapidinho o cargo para o novo eleito sem voto popular, o general Humberto Castelo Branco, aquele mesmo marechal atarracado que depois perderia a cabeça ou a vida na mais estranha colisão aérea do imenso céu acima do Sertão do Ceará. Advogado e jornalista sem diploma - naquela época não havia mesmo necessidade, como hoje não há mais nem exigência, graças aos ministros bem formados do Supremo, uma instituição que no passado referendou golpes a posteriori -, Pascoal Ranieri Mazzilli faz lembrar a uma versão não midiática de Tancredo Neves, do político que quase nunca termina bem o que começa. Mazzilli começou a estudar Direito em São Paulo e virou advogado inexpressivo em Niterói. Foi cobrador de imposto, foi fiscal. Teve vários cargos públicos no Rio Anos Dourados, Capital Federal. Depois de tanta facilidade como servidor, tomou gosto pela política e voltou para São Paulo, por onde se elegeu deputado federal em 1954 e em 1958. Em 1959, candidatou-se à presidência da Câmara dos Deputados, cargo para o qual foi reeleito por cinco biênios seguidos, o que lhe deu as duas tristes passagens pela Presidência do Brasil em crise.



Em 1961, quando os congressistas se viram diante da realidade que uma junta ilegal já mandava no país, formada pelos ministros militares da época, general Odílio Denys, brigadeiro Gabriel Grün Moss almirante Sílvio Hecke, Mazzilli foi eleito presidente porque era sucessor legal e era uma solução provisória diante da pressão popular comandada por Brizola, num estilo revolucionário, grupo dos 11, gente armada mesmo em cada quarteirão, na época algo semelhante ao estilo de Hugo Chávez dos tempos milicianos atuais. Hoje Hugo Chávez vai a Moscou e compra 50 mil metralhadoras como quem vai ali fazer uma comprinha no supermercado. Esse arsenal de varejo de grosso calibre não é para enfrentar Bush nem Obama, mas para enfrentar latino-americanos nas ruas.



Em 1961, a opinião pública era incipiente, mas ainda assim conseguiu formar pressão para que a elite política evitasse o golpe por completo, e se deu posse a João Goulart em meio à aquela crise, apenas remediada por meio de aprovação pelo Congresso de um regime parlamentarista. Um plebiscito depois revogaria a armação, uma tentativa de implantar o novo sistema como forma de não dar o poder de fato a Goulart.



Em 64, a coisa foi explícita. O poder era já de uma junta militar com nome e tudo, Comando Supremo da Revolução, com o general Costa e Silva, almirante Augusto Rademaker o brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo, o Melo Maluco.Na superfície do golpe, as desculpas de sempre, antes o comunismo, e eram tempos da Guerra Fria, e os revolucionários, militares aliados a políticos oportunistas, prometiam democracia, volta de ordem social sem corrupção e desenvolvimento econômico. Hoje as desculpas são a ditadura, o continuísmo, o empobrecimento.



Duas vezes presidente, Mazzilli não ficou um mês no cargo somando tudo, não governou nada. Era excelência do terceiro escalão apenas ungido ao cargo formal na hora do vamos ver da década de 1960.



Hoje quase nada sabemos sobre Roberto Micheletti, que por também pertencer à linha de sucessão de deposto Manuel Zelaya virou o fantoche de um ato sumário: prender e expulsar um presidente na calada da noite.

Com jeito de fantoche da turma de Hugo Chávez, Zelaya deve ter acreditado que tinha graça, no apagar das luzes do seu mandato, fazer um plebiscito na marra para ver se o povo queria direito de reeleição de presidente. Claro que, numa primeira fase, Zelaya negou uma versão de que a iniciativa era continuísta e inconstitucional. A reeleição só valeria para terceiros, só para depois que ele se fosse da Presidência de Honduras. Ele entregaria o cargo bonitinho daqui a menos de sete meses, em janeiro próximo.



Mas, todos sabiam, uma vez formada uma assembleia constituinte, que seria eleita em novembro, salvo engano, as cartas seriam embaralhadas. O presidente Manuel Zelaya seria mantido no céu do poder, à direita do Deus Pai Todo Poderoso Hugo Chávez.



Reeleição, como vimos com Fernando Henrique, se negocia numa forma constitucional, lenta, um processo político. A emenda da era FH custou caro, dizem, milhões de capilés sob a forma de presentinhos, emissoras de rádio e TV, sinecuras, nomeações etc. Um mensalão sem Valério nem Delúbio. Afinal, a elite quatrocentona de FH era mais eficiente ali pelas bandas de 1997.



O que se viu em Honduras, ou o que se vê nesta segunda-feira, 29 de junho, é a tentativa de uma casta, sem muita experiência na arte de conversar nos corredores da política e da História, fazer o que a velha elite sempre fez e faz na América Latina, só que, como no Brasil, se fez e se faz de duas formas radicais, ou com mais jeitinho, ou com a grossura total. Como foi aplicado, o golpe de Honduras assume ares de escândalo. Entre o jeitinho ou a grossura, ou o golpista prende o presidente deposto, por desacatar o Supremo e o Legislativo, ou o mata como no Chile em 1973, mas jamais o expulsa para o exterior. Já se foi o tempo de ditadores errantes como Fulgencio Batista e Xá Rezha Pahlevi, almas perambulantes na decadência a caminho do envelhecimento em meio a saudades dos tempos de ditadura com luxo e corrupção.



Em Hondujra houve golpe de estado porque os poderes institucioais não tiveram coragem de assumir que estavam também atropelando suas próprias leis, um gope antigolpe. Militares, Supremo e congressistas usaram das mesmas aritimanhs apregoadas por Chávez para que um presidente Manuel em fim de linha virasse da noite para o dia um Joaquim zero quilômetro, com o tal plebiscito suspenso pelo próprio ato de derrubar Zelaya.



Em politica, nem sempre o direito está certo, nem sempre o errado é ilegal. Nem sempre o mais bonito é o mais desejável, nem sempre o melhor é o melhor, nem sempre o justo é justo. Em 1933, por aí, Rubem Braga, o cronista, foi contra a dádiva do ditador Getúlio Vargas concedendo direito de voto às mulheres. E por que o homem que tanto amava as mulheres teria de ser contra? Getúlio bancou o direito de voto às mulheres antes de várias nações ricas na Europa. Rubem Braga e alguns amigos de esquerda sacaram que o avanço era um golpe, com um disfarce de ser contra o atraso, este golpe de dar voto às mulheres. Isso porque, em 1933, na grande maioria, elas nada estavam reivindicando no front partidário e votariam exatamente como mandassem seus maridos e pais. Era um direito-armadilha, ampliar o voto dos conservadores contra o avanço socialista então estimulado pelo comunismo ainda romântico, sob influência da União Soviética. Não se sabia ainda que o pai da pátria promovia chacina de centenas de milhares de pessoas, triste Josef Stalin.



O Brasil hoje ostenta este título pioneiro: voto de mulher. E daí? Evoluímos por outros meios na questão feminista. Do formalismo, do dado histórico podemos nos orgulhar hoje, mas na época houve retrocesso disfarçado de avanço dos direitos do sexo reprimido.E de pouco valeu o expediente, porque em 1937 Getúlio lançaria outro ardil para se perpetuar como Chávez.



Essas elucubrações históricas, passado, presente, emoções, algumas pessoais até, servem apenas para pano de fundo sobre o pasmo e a vergonha diante de mais um golpe militar na América Latina.

Não importa se seja você de direita ou esquerda, se acredita ainda nessa demarcação ideológica, mas o fato é que onde tem crise institucional hoje tem o dedo de Hugo Chávez.

Nada melhor para um sócio bolivariano como Manuel Zelaya do que se passar por vítima. Sou a favor de que ele volte rapidamente para o cargo e termine os seus seis meses de mandato, sem plebiscito revolucionário à revelia dos ritos dos poderes constituídos pelo Judiciário e Legislativo de Honduras.

Quem era a favor do terceiro mandato, para Lula, desistiu há poucos meses quando se constatou que não mais havia tempo para um emenda constitucional dentro dos prazos, dos ritos, dupla votação com dois terços de maioria de cada uma das duas casas do Congresso.



Quem apoia terceiro mandato no fundo está sinalizando que prefere o sistema parlamentarista, em que um primeiro-ministro não passa de um líder de gabinete, podendo ficar anos a fio, ou cair da noite para o dia numa crise de voto de desconfiança. Um premier tem o benefício do mandato longo, com sucessivas reeleições, mas tem a espada de dâmocles dizendo que, se fizer lambança, perde o pescoço rapidinho.



Um exemplo: na Itália, entre o pós-Guerra à década de 1980, aqui tudo grosso modo, a média de tempo no poder de chefe de Executivo era menos de dois anos. Apesar de tanta alternância, o país prosperou.



Como serão as próximas horas em Honduras? Só a internet, só o Youtube nos dirá. Mas golpe de estado, não. O presidente Micheletti é infeliz até no nome, tem tudo misturado, michê, anjo, etti, diminutivo, parece uma insignificância evanescente no meio da grossura de tragédia que a todo momento cresce em toda a América Latina. O bolivarismo Chávez. O mandato de Micheletti termina com a eleição marcada há tempos para novembro próximo. O proto adepto do bolivarismo foi deposto na calada da noite pelos militares, deputados e ministros do Supremo pela elite de Honduras. E agora o povo tem que ouvir uma guerra de declarações.



Talvez a experiência de fracasso do golpe militar contra Chávez, em 2002, permita que a elite de Honduras e seus novos governantes impeçam constitucionalmente a volta rápida de Manuel Zelaya. Mas parece improvável.

Não se tem hoje uma ideia clara do que vai acontencer nas próximas horas. Desconfia-se que os novos ocupantes do poder não conseguirão evitar o fortalecimento da Aliança Bolivariana para as Américas.



Mesmo que militares, Supremo e Congresso consigam afastar definitivamente agora a sombra de Zelaya num país vizinho, já estarão carimbados pela pecha da pior história hispânica. Vão beber champagne de noite e acordar com o grito das hordas esquecidas pelas políticas sociais de quinta categoria.



Chávez, com seus novos países no Reino-Coreia Americana, formado por Equador-Coreia, Bolívia-Coreia, República Dominicana-Coreia, Cuba-Coreia, Venezuela-Coreia-Coreia e Etc-Coreia, vive uma fantasia: a de que os governantes amigos gozam de fidelidade da maior parte de seus povões, quando gozam apenas da simpatia, e não porque sejam eficientes, mas porque o discurso é o da dor do ressentimento. A raiva dessas massas empobrecidas é real, decorre de fatos cruéis, povos olvidados pelas burguesias e colonizadores ao longo das décadas em seu rodízio prazeroso no poder.



Mas, quando a esse pepino... Barack Obama tira de letra, ignora. Vai cozinhar o galo Hugo Chávez com base numa pequena receita, dificuldades na economia. E como o preço do petróleo não parece que voltará ao patamar de 140 dólares o barril nos próximos anos, dentro de pouco tempo muita tristeza já terá caído da cama ou do pesadelo, nem sempre boa intenção enche mesa. O inferno está cheio de presidentes latino-americanos bem intencionados.



(*) Por Alfredo Herkenhoff (o autor é jornalista e foi editor-chefe da mesa brasileira da agência de notícias internacionais UPI e foi secretário do Jornal do Brasil)

Honduras: Deposto Zelaya promete voltar. Seu substituto Micheletti disse que não houve golpe e que não teme ameaças de Hugo Chávez

Golpe de Estado

Honduras em chamas, segunda-feira, segundo dia... Golpe militar na América Latina agora com muita internet, muito YouTube, entrevistas dos dois lados beligerantes. Será que existe justiça e verdade nessa crise? Existe TV Justiça em Honduras? O Congresso tem sua TV a cabo na capital Tegucigalpa? Greves, mobilizações, toque de recolher, condenações do presidente Lula, bate-boca geral com Hugo Chávez no centro da confusão.

Correio da Lapa - A crise comentada (*)


O deposto presidente hondurenho Manuel Zelaya, livre na Nicarágua, disse nesta segunda-feira, em Manágua, que vai voltar nos braços do povo, como o venezuelano Hugo Chávez voltou horas depois do golpe de estado de sete anos atrás. Zelaya explicou que foi preso pelos militares e expulso para Costa Rica, de onde, livre, viajou para uma reunião de cúpula regional em Manágua, palco pelas próximas horas de performance bolivariana de Chávez.

Em Honduras, sob toque de recolher, greves contra a quebra institucional e condenações internacionais criam o clima para o retorno do novo líder revolucionário bolivariano. São as primeiras movimentações sindicais e milicianas preparando uma rápida e grande mobilização popular, com protestos contra os novos nomes no poder provisório de fato.

O novo presidente de Honduras, Roberto Micheletti, disse nesta segunda-feira que o que houve no seu país não foi nenhum golpe militar, mas uma "sucessão constitucional" - Zelaya foi afastado pelo poder Judiciário e não por decisão dos militares. E ele, Micheletti, foi nomeado pelo Congresso, e não pelo Exército. Micheletti disse que o Exército de Honduras não tem medo das ameaças de Hugo Chávez de que vai levar Zelaya de volta ao poder. O tom dos dois é belicista.

Contou Zelaya sobre como perdeu o poder: "Houve um momento em que as rajadas das metralhadoras que estavam sendo disparadas em nossa frente eram tão fortes, e era tanta a violência e brutalidade com que mais de 200 elementos (militares) invadiram minha casa em começo da manhã deste domingo". Segundo Zelaya, militares encapuzados, armados e protegidos com coletes o ameaçaram: "Diziam-me: se não soltar o celular, atiramos. Solte o celular senhor, e todos apontando para minha cara e meu peito". Continua Zelaya explicando: "Em forma muito audaz lhes disse: se vocês vêm com ordem de disparar, disparem, não tenho problema de receber, de parte dos soldados da minha pátria, uma ofensa a mais para meu povo, porque o que estão fazendo é ofendendo o povo".

Zelaya explicou que os militares lhe tiraram o celular da mão para impedir que reagisse. Depois o levaram para o avião rumo à Costa Rica. "Vieram me deixar no aeroporto da Costa Rica sem avisar absolutamente nada. Reportaram quando estavam chegando que vinha o presidente de Honduras e queriam que alguém os recebesse".

(*) - Muito mais sobre a crise nos "posts" a seguir neste Correio da Lapa

Honduras no caos - Chávez lidera a grita a favor de Zelaya - Ver Correio da Lapa

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez chegou a Manágua já no domingo e logo qualificou os novos nomes no poder provisório em Tegucigalpa de "gorilas". O encontro na capital nicaraguense é da Alba - sigla para a palavra "amanhecer", mas que significa Aliança Bolivariana para as Américas, "bolivariana", adjetivo mítico de um desejo de suposta unidade hispânica no continente em que todos brigam pela simples razão bíblica de que em casa que falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão. Chávez pede a todos os governos esforços para que Zelaya volte ao poder em Honduras. Chávez ameaça os novos ocupantes do poder em Honduras num tom estranho, como se fosse declarar guerra.

A internet começa a mostrar verdades rápidas, twitteranas, dos fatos factíveis de gerar consequências nesta segunda-feira.

Também nesta segunda o presidente Lula foi veemente na defesa da democracia. Pura retórica.Os Estados Unidos, do presidente Barack Obama, sempre imperiais, advertiram para a necessidade do respeito às leis.

É mesmo pela internet que o mundo começa a ver cenas de cinema em tempo real, a degradação política na América Latina, entre promessas de avanços e atrasos políticos de fato.

Honduras no caos - Cassações no Brasil não são golpe como em Tegucigalpa. Ver Correio da Lapa

O ex-presidente brasileiro Fernando Collor de Mello foi eleito pelo povo e retirado do poder por canais institucionais. Mas com votações e prazos, com recursos jurídicos e tititi. O governador Cassio Cunha Lima foi eleito pelo povo da Paraíba e retirado do poder pelos canais institucionais da lei brasileira, primeiro pelo STE e depois pelo Supremo. Do mesmo modo, Jackson Lago foi eleito pelo povo do Maranhão e retirado do poder de São Luís pelos canais do Judiciário.

Muita gente não concordou com essas cassações. A senadora Roseane Sarney moveu ação contra Lago e ganhou a parada. E graças ao segundo lugar que conseguira na eleição, a filha do ex-Sarney voltou ao goveno de São Luís, ganhou um ano e meio de gorjeta eleitoral, ou moeda mandatária, enfim, indenização política com o aval dos 11 votantes do Supremo.

Mas tudo isso rolou com respeito a ritos e prazos, sem quebra institucional como parece o caso em Honduras, em que um presidente, Manuel Zelaya, cai na calada da noite de um sábado para domingo. E surge um outro, Roberto Micheletti, assim tudo num passe de mágica, trágica.

Honduras no caos - Existe Supremo neste país? Como funcionam as leis? Rito sumário? Ver Correio da Lapa

Existe Judiciário em Honduras? Tem voz? Se tem será possível ver, via internet, artigos constitucionais, previsão de destituição de chefe de Executivo, prazos de defesa dos acusados, no caso Manuel Zelaya, votações, sessões, detalhes da processualística, do rito constitucional. O Supremo Hondurenho proibiu a convocação do plebiscito da reeleição? Zelaya decidiu promover a consulta na marra, sem os votos necessários do Congresso? Zelaya desobedeceu o Supremo? Houve ordem de prisão? Houve fuga? Houve prisão? Houve exílio? Existe a figura de exílio no corpo das punições previstas em lei? Quais as etapas desta crise? E o direito de defesa de Zelaya é gritar na Nicarágua ao lado do amigo Hugo Chávez? é contar com o apoio do presidente Lula?

Honduras no caos. Novo golpe, velha elite. Lula no centro midiático. Ver Correio da Lapa

Uma novela real em tempo real

De repente, em questão de dias, de uma semana, o mundo se depara com uma novela em tempo real, um golpe de estado na América Latina. E olha que Honduras já tinha mais de 25 anos de estabilidade! A crise é mais "divertida", ainda que trágica, do que as armações da televisão brasileira. Não obstante o lado dramático em curso em Honduras, a crise não deixa de ser um espetáculo de midia, a tal palavrinha da moda, drama "midiático".

A elite em Honduras é igual à brasileira? Tem dinheiro e canais de comunicação? Aqui no Brasil, a elite está em lua-de-mel com o presidente Lula que está nos braços de povo. Tem-se a aliança. Aqui Lula não protesta contra a cassação do voto popular contra o governador do Maranhão, eleito pelo PDT aliado da base governista. Lula defende a legalidade. Os ritos foram cumpridos.

Honduras no caos não é Irã. Crise é bolivariana. Ver Correio da Lapa

Questoes da crise, um jogo midiático

A democracia na América Latina está se tornando mais complexa a cada ano. A legalidade retrocede 50 anos ou avança 50 anos? A crise latina é bolivariana? A crise hispânica não é iraniana, aquele regime estranho, teocrático, culturalmente distante de nós. Aqui no continente a crise é de poder ver quem tem mais poder para se sustentar no cargo mediante versões mais cristalizadas nos corações e mentes da maioria da população por meio da mídia dentro do país em crise.

Se o governo golpista de Honduras tiver a mídia de Honduras na mão, talvez o deposto Zelaya tenha de passar o próximo fim de semana no exterior antes de voltar os braços do povo do grande louco Hugo Chávez.

Se os novos ocupantes do poder em Tegucigalpá não tiverem a mídia na mão, Zelaya volta já nas próximas horas aclamado, e aí poderá fazer plebiscito a torto e direito a favor de direios de reeleição da presidência, vai talvez se perpetuar como Chávez, Fidel e Raul Castro e como deseja Evo Morales.

Honduras no caos - Como a internet nos informará? - Ver Correio da Lapa

Correio da Lapa - notícia comentada

Como seremos no Brasil informados pela internet acerca das verdades e mentiras de uma história antiga mas que mal conhecemos? Como funcionará a internet dentro e fora de Honduras?

Vamos, num passo a passo, descobrir em tempo real quem é quem nesses tristes trópicos, tristes tigres se engalfinhando pelo poder de estar nos braços do povo em nome de Deus, da Mídia e dos Militares. E a lei? Fica de fora? A lei é só para os derrotados. Vae Victis.


Por Alfredo Herkenhoff

Caos em Honduras. Supremo versus Zelaya


O CASO ZELAYA

Militares prendem o presidente

Crise Total em Honduras

Domingo das Bananas e das Quebras Institucionais...

Correio da Lapa - Notícia Comentada

O Supremo Tribunal Federal cassou o presidente Manuel Zelaya de Honduras (foto). O Congresso Nacional em Tegucigalpa nomeou substituto. O Exército do pequeno e pobre país da América Central prendeu Zelaya. A mídia da republiqueta divulgou que Zelaya tinha renunciado, mas este negou esta versão e denunciou um golpe militar. O presidente venezuelano Hugo Chávez, que desde quinta-feira vinha condenando a CNN por divulgar só a morte de Michael Jackson e quase silenciando sobre a crise institucional em Honduras, prometeu levar Zelaya de volta à suprema magistratura. A OEA - incluindo o Brasil - condenou o que chamou de golpe de Estado.

Sem conhecimento pleno da verdade, só tititi e versões de lado a lado, lê-se tudo na internet, que Zelaya desafiou o Supremo, o Congresso e parte de seu próprio partido político ao decidir implementar na marra um plebiscito prevendo reformas constitucionais com direito de reeleição para presidente.

O golpe estilo século 21, apesar dos atores de sempre, tem um ingrediente novo: justo a internet, a nossa possibilidade de ver detalhes da crise, suas origens, tudo em segundos... Artigos da Constituição, decisões judiciais e políticas, tudo à velocidade da luz, os desdobramentos.

Chávez, que em 1992 tentou um golpe militar e que em 2002 enfrentaria uma tentativa de golpe, conhece bem o esquema. Mas mal sabe ele, e mal sabemos nós, onde isso vai parar. O presidente boliviano Evo Morales, constitucionalista bolivariano na marra, analisa a crise no mesmos tom: diz que Zelaya é democracia por outros meios, pela via direta da consulta popular.

Se a moda pega no Brasil, o presidente Lula poderia se perpetuar na Presidência. Mas Lula não é do ramo bolivariano. Provou e gostou da democracia, o pior dos sistemas, entre os únicos que a gente tolera como advertiu o saudoso Churchill 60 ou 70 anos atrás...

E last but not least, se não falha a memória, ou para refrescar a de Evo Morales, não teria sido Clausewitz quem escreveu que a guera é a política por outros meios? O tom parlamentar está ficando cada vez mais belicista nas democracias da Venezuela, Bolívia, do Equador e de Honduras. Isso é ruim para todos os países latinos. O continente parece andar para trás.

Por Alfredo Herkenhoff

domingo, 28 de junho de 2009

Michael Jackson by Dulce Quental

É a Natureza Humana, Why? Why ?
Por Dulce Quental (*)

Ele tinha quase a mesma idade que eu, apenas um ano a mais. Suas canções guiaram os meus primeiros passos na pista de dança ao som do Jackson Five. “É a Natureza Humana, Why? Why ?”, eu cantava no inicio dos anos 80, na versão dos irmãos Jorge e Waly Salomão para a canção de Steve Porcaro e Joni Bettis, eternizada na sua voz . Voz de menino homem, um homem menino que com seu talento extraordinário iria balançar os quadris do mundo assim como Elvis. Nossos corpos nunca mais seriam os mesmos.


Um “bad boy” da Terra do Nunca; ícone da nossa juventude; um capítulo da nossa história que também termina; por que também somos estranhos a esse novo mundo que se apresenta?


A idade madura - que não chegou nunca para algum de nós, ou para muitos da nossa geração – talvez por isso tantos tenham ficado no caminho, ou outros tenham se recolhido ao ostracismo – enfim se escancara. Definitivamente entramos numa nova era; hoje a dança é diferente. Uma expressão artística tão corajosa como a de Michael é cada vez mais rara. Amy Winehouse, uma exceção. Quem estaria disposto a arriscar alguma coisa por alguém ou por alguma idéia ? Por que resistir as demandas de toda sorte de compensações; toda variedade de efeitos especiais; de sensações artificiais; de ilusões a disposição do nosso corpo; quando podemos nos livrar de nós mesmos; dos nossos desejos incomodativos; da nossa sexualidade mal resolvida; comprando formulas prontas de vida?


Por que se aventurar por universos não explorados pelas massas? Por que resistir a um sistema de gratificações imediatas? Quem se importa? Quem está velando pelos nossos sonhos? Se não há platéia não há show; assim o sistema nos faz crer. Por que acreditar nas próprias escolhas? Por que respeitar o tempo perdido; o desejo interrompido; a vida anônima, inegociável e não matável de cada um?


Michael é o sintoma mais agudo desse tempo em que o bio-poder se infiltrou em todas as nossas instâncias. Na sua arte podemos encontrar a tentativa de resistir a ultima fronteira da servidão voluntária: o corpo endiabrado; o corpo violado se expressa; dá voz a voz calada e muda da infância atropelada pelo desejo do outro.


Negro que quer ser branco? Corpo que quer ser santo? Sexo que quer ser outro? Pudor, pedofilia; morfina. Alegria, furor, crucificação. Maus tratos; inseminação artificial; espetáculo midiático; o rei do pop abre as artérias da América em crise ao mundo globalizado. A vida pode ser um lixo.


Tudo virou massa de tomate depois dos anos 80. Um enorme pastelão. E o pop que Michael ajudou a criar nas imagens e nos clipes reflete bem essa via crucies. Uma crucificação publica; numa total diluição das fronteiras entre o publico e o privado; confundindo ficção e realidade; e fazendo da realidade uma ficção: “num clipe sem nexo; um terror retrocesso; meio Bossa Nova e Rock and Roll”. Faz parte do show pop. That’s entertainment!


Enfrentar os demônios em publico; lutar pela verdade; por uma razão sem defesa; pelo direito a fraqueza (franqueza?); pela defesa da vida frágil e devastada. Um artista gigante numa época covarde. Uma alegria raivosa e radiante num fundo de melancolia e devastação. O inferno e o paraíso num só corpo humano; demasiado humano; como todos nós.

(*) Txxto enviado pela querida Dulce que tem o seguinte endereço e perfil:

http://colunistas.ig.com.br/caleidoscopicas/

Dulce quental é mãe, cantora e compositora (não nesta ordem). Cronista em busca da poesia esquecida destes dias perdidos, Dulce (sobre)viveu (a)os anos 80, e procura uma forma de se renovar sem se tornar cinza. Ela ouve a voz da chuva, acredita no poder do desejo, e brinca de amar o cinema, a música e a vida. Parceira de Frejat, Moska e Celso Fonseca, Dulce Quental é caleidoscópica.

Temos a Copa com o Nosso Brasil de Dunga. Temos Joel Santana e outras emoções na África

BRASIL MARAVILHA


É nossa mais uma Copa das Confederações, perdíamos por 2 a 0, chococalate no primeiro tempo, mas quem tem Kaká e Luís Fabiano, os dois melhores atacantes do torneio da Fifa, tem tudo, e quem tem o desempregado mais cobiçado do mundo, o zagueiro Lúcio demitido de forma humilhante pelo novo treinador holandês do Bayern Munchen, tem tudo, quem tem uma CBF com um Ricardo Teixeira, Parabéns aniversariante de hoje, dirigente que não mede recursos para oferecer condições aos jogadores, tem tudo, e quem tem um médico como o Dr. Luís Runco, tem tudo, quem tem um preparador como Paixão, botando a equipe em forma, tem tudo - sete partidas em junho, sete vitórias em junho, cinco na Copa, 14 gols marcados na competição. Quem tem um grupo na mão como o guerreiro Dunga, técnico frio na hora que tem de ser, e explosivo como um vulcão na hora que o jogo tem que ser com o coração, tem tudo. Uma virada espetacular, com lances sensacionais do primeiro ao último minuto, uma decisão antológica. Que venha o Mundial de 2010, que venham os argentinos com ganas na próxima etapa em Rosario pelas Eliminatórias, que venham todos os adversários, todos cada vez mais surpreendentes pela disposição de tentar nos bater, pela qualidade com que demonstraram por exemplo nesta Copa os norte-americanos e os sul-africanos, duas grandes e gratas surpresas. Esporte de alto nível. Esportividade nota 10, até neste quesito fomos os melhores na festa da entrega da Taça agora há pouco pelas mãos do dirigente Joseph Blatter da Fifa. Ainda bem que gostamos de futebol. Graças a Deus, sabemos fazer bem o que nos dá prazer. Brasil, terra encantada,.Terra de gente de valor e feliz! Hoje o domingo é nacional.
Por Alfredo Herkenhoff

Cartaz sobre violência e velhos versos de Gregório, poeta do tempo do Brasil-Colônia na negra Bahia...


Triste Joanesburgo
ó quão dessemelhante
estou estás
no novo antigo estádio

Estádio Park Ellis, palco do maravilhoso futebol campeão. Brasil é América. É América 3, Estados Unidos 2. A África é a sombra da imensa América. Ou vice-versa. Verso sobre o mesmo caos, os mesmos sonhos. O cartaz de aviso sobre o risco de assaltos em torno do local da decisão me deixou um tanto tonto por tantas "ignomínias", como esta de turistas e torcedores correndo o risco de roubos e assaltos na grande cidade sul-africana... Sim, lá como cá.

Se até Kaká não sabia se a bola tinha entrado, por que o juiz tinha que marcar gol?

Doeu sim ver o gol que o juiz não viu de Kaká, mas que a tecnologia mostrou que a bola foi tirada de um espaço além da linha das traves. Coisas da tradição do futebol. Não foi roubo do juiz, foi a emoção do erro válido de árbitros e bandeirinhas. A Fifa está certa. Fafá levantou o braço na hora, mas na entrevista coletiva, agora há pouco, confessou que não sabia ao certo se a bola tinha entrado. Juiz só apita quando tem certeza. E tem direito a falhar como Kaká tem de errar pênalti. Galvão Bueno que me desculpe, mas vamos deixar o campo aberto da emoção no velho espaço das tradições. Kaká não tinha certeza, o juiz também não. Mas a conquista com as regras da tradição carimba valor ao título. Parabéns Kaká, humilde menino cristão, o melhor... Vai com Deus seguir a bela carreira agora no Real Madrid. Parabéns Seleção! Parabéns Dunga. Hoje o Brasil não é ladrão, é Amor.

Joel Santana, show de competência e simpatia

Mas Parabéns Joel Santana! Mostraste que és bom e é tão bom ouvir quem sabe dizer e fazer tudo certo como treinador. A disputa pelo terceiro lugar foi o maior jogo da sua história até agora. Mostraste a todos os amantes do futebol que sofrer o gol da vitória da Espanha, a Seleção número 1 no ranking atual da Fifa, no segundo tempo da prorrogação, é um sinal claro de que a África do Sul tem chances reais para conquistar a Copa do Mundo em 2010.

Musa do Brasil de Dunga escolhida no universo universal

Brasil e Mulheres
Bonitas do Mundo





Que tal alguma emissora ou blog, que tal este nosso Correio da Lapa, neste momento completando 120 dias de existência, promover a escolha de uma musa para representar a Seleção Brasileira? Que tal escolher uma mulher sem nenhuma discriminação como símbolo de elegância e beleza?

Elas
Texto by Alfredo Herkenhoff

Elas têm a fragrância das laranjas vermelhas da Sicília, o sumo da mais silvestre flor de laranjeira, a essência dos ramos da pereira, o cravo, o jasmim e a canela, frestas atómicas e anatômicas com ares de frésia, perfumes no cetim da pele com cor e textura da pele do delicioso abiu roxo, o cheirinho de mimosas, as jactâncias do florzão vermelho do hibisco, e elas ainda assim não estão prosas, mas se estivessem, seriam do mesmo modo maravilhosas, porque...
Uma pétala é uma pétala é uma pétala é um PETARDO.


Que tal La Bündchen? Noemi Campbell? Quem é a mulher mais forte e mais bela na cabeça-votante da torcida brasileira? Thaís Araújo? Viviane Araújo? Juliana Paes? Incontáveis pérolas...

Homenagem do Correio da Lapa
a todas elas, atômicas e anatômicas,
das mulheres iranianas chorando a verdade verde
aos universos amazônicos, guaranis...










Nenhum restrição, nem por idade. Que tal incluir também indicações estrangeiras?


Elas, obviamente, não são candidatas a nada ou o são involuntariamente. Não desfilariam porque já desfilaram na realidade da comunicação. Apenas seriam indicadas numa pesquisa.

Neste momento, múltiplas musas do Carnaval Global do Brasil despontam com justiça e porte condizentes.






(Nota do Correio da Lapa: Imagens de Thaís Araújo em maior número, três de Balle Berry e uma de Idi Silva - biquíni branco -, uma de Ana Beatriz Barros - maiô azul -, uma de Sabrina Sato deitada, Luíza Brunet desfilando, uma muçulmana desconhecida e uma passista sambando também anonimamente. Fotos avistadas via buscador Google Image)

Concurso de Musas Brancas dos Clubes no programa do Luciano Huck


Exclusão de candidatas negras e reflexão sobre racismo e coincidências

O que pensariam sobre a questão personalidades como Michelle Obama, Naomi Campbell, Margareth Menezes, Serena Williams e Oprah - fotos - ?




As supergatas representando os 20 clubes da Série A do futebol brasileiro foram selecionadas pelos "olheiros" do apresentador de TV Luciano Huck numa disputa pela internet, num misto de marketing com interação de torcidas. As jovens mulheres agora já devem estar desfilando qualidades calipígias e "sinus vulcanicus" no programa Caldeirão da TV Globo. O Correio da Lapa mostra de forma entremeada - é só correr o mouse pista baixo - as imagens das 20 candidatas em meio a outras matérias ao longo dos últimos três dias, sem comentário algum.


O comentário surge agora: não há negras entre as 20 escolhidas, e não porque não haja lindas candidatas negras, mas provavelmente porque há muitos olheiros caolhos e muitos internautas lobistas participando dessa espécie de concurso miss Brasil estilo tesão de arquibancada de futebol. Não se pode falar em padrão racista de avaliação, mas de mera coincidência. Quase não se vê mulher negra também nesses concursos de miss que pipocam pelas cidades das 27 unidades da Federação, fenômeno que recrudesceu no espetáculo pop mundo afora e, no Brasil, cresceu particularmente em parte graças ao brilho da Miss Brasil Natália Guimarães. E por não serem quase nunca vitoriosas nesses concursos, muitas vezes provalmente jovens negras nem se animem a se inscrever.

Não se trata de racismo de olheiros ou internautas interativos do Huck nem de jurados, mas de um certo ranço de racismo que persistira de forma inconsciente. E também se considere que as famílias negras estão menos plugadas na internet por estarem em boa parte com problemas de dinheiro ou na pobreza, o que, grosso modo, prejudicaria disputas de votação maciça via computador.

Mas, em plena era Barack Obama, essas coincidências denotam atrasos, marcas de uma cafonália nacional, com sua má vontade construtiva, sua incapacidade de enxergar o óbvio. Pois em 15 minutos é possível localizar 20 mulheres tão ou mais bonitas do que as 20 escolhidas para dar ibope a Luciano Huck, super simpático, mas também tão TV brega que já é cotado para substituir Faustão dentro de uns cinco anos. Luciano, o narigudinho, haverá de perdoar esse sarcasmo do Correio da Lapa, mas se a loucura não arrebata a razão nem turva a vista, pode-se estimar: o pacote das 20 mulhres tem, claro, pessoas bela, incluindo algumas mais moenas, mas não é lá essas coisas. Parece haver o trabalho de lobby virtual na seleção, problema que já se vira na escolha dos corpos dos nomes do último Big Brother do apresentador Pedro Bial.

O que pensariam sobre a questão personalidades negras como a tenista Serena Williams, a primeira-dama Michelle Obama, a apresentadora Oprah e a cantora baiana Margareth Menezes? A propósito de Margareth, há décadas se vê na Bahia um fenômeno semelhaente de exclusão da negritude. Aliás, esta cantora é exceção. As cantoras que fazem maior sucesso com axé e carnaval na Terra de São Salvador quase sempre são branquelinhas, e reconheça-se, adoráveis banquelinhas. Também mera coincidência. Na capital soteropolitana, a mais negra cidade brasileira, apelidada até de "Roma Negra", existe um histórico de racismo, que ficou mais evidenciado algumas décadas atrás nos chamados carnavais de clube, aqueles bailes brancos perdendo terreno diante da fase de "descoberta" da fantástica folia de rua com os trios elétricos.

Memória puxa memória, coincidência puxa coincidência. Lembro o poeta Jayme Ovalle ao entrar numa casa suspeita com lindas mulheres e muitos negros num bas fond carioca dos anos 30. Uma dançarina que o conhecia, exclamou: Mas Jayme, você aqui, um branco? E o poeta paraense respondeu mais ou menos assim: Mas, querida, não tenho culpa de ter nascido branco... Foi uma infelicidade, mas não tenho culpa, o que posso fazer?.

Os olheiros de Huck também não devem ter culpa, mera coincidência.

Por Alfredo Herkenhoff