Na Rua São Clemente 300 moradores
do famoso 107 estão há
meses
sem gás de cozinha
Por Alfredo Herkenhoff
Edifício 107 é dos anos 1930
A São Clemente em Botafogo é a rua de antigas mansões dos mais famosos
milionários, rua de velhas embaixadas de alguns dos principais países, rua onde
brilharam alguns dos melhores colégios do Rio de Janeiro, rua de mais ou menos
um quilômetro ligando a Praia de Botafogo ao Largo dos Leões, no bairro do Humaitá,
com aquelas palmeiras encaminhando o trânsito na direção do exuberante Jardim
Botânico do tempo de João VI. E lembrando deste rei, lembrar também que o Rio
de Janeiro tem o status raríssimo de ter sido uma cidade capital de três
Estados: República, Império e Reino Unido de Brasil, Portugal e Algarves.
Lembrar, tristemente, que a cidade já não é tão maravilhosa.
Na São Clemente está
também o 107, um prédio emblemático de oito andares, habitado por gente
humilde, classe média baixa, edifício de 1935, erguido pela alta burguesia para
abrigar modestos funcionários a serviço dos mais ricos brasileiros e estrangeiros
antes e depois da II Guerra. O 107 por décadas usou o gás de cozinha fornecido
por encanamento. Mas lá se vão uns cem dias que o 107 teve o gás subitamente cortado
pela Companhia Estadual de Gás, a CEG Rio SA, a ex-estatal ferrando com a vida
dos cerca de 300 moradores de seus 81 pequenos apartamentos.
Com o embargo no fornecimento, a vida se tornou um inferno entre banhos frios, despesas com equipamentos elétricos, novos chuveiros, quiçá querosene, fogõezinhos, dificuldades para cozinhar. Ou como fazer feijão numa cozinha sem gás e com outras improvisações do cotidiano?
Com o embargo no fornecimento, a vida se tornou um inferno entre banhos frios, despesas com equipamentos elétricos, novos chuveiros, quiçá querosene, fogõezinhos, dificuldades para cozinhar. Ou como fazer feijão numa cozinha sem gás e com outras improvisações do cotidiano?
Sobra uma estranha,
porém silenciosa indignação diante do que parece envolver, na melhor das
hipóteses, descaso de autoridades. Os moradores nem se lembram da data exata em
que a crise eclodiu ali no meio da Copa do Mundo na Rússia. E antes de adentrar
nessa história de corte do gás de cozinha como descaso, um caso que está nas
mãos da justiça e tende a terminar com condenações e indenizações, é possível
imaginar que outros prédios também enfrentem o problema que afeta o 107, um edifício
histórico que tem apartamentos de 30, 40 e 50 metros quadrados.
Por ser histórica, esta reportagem pede a paciência dos leitores nesse Odiento Mundo Novo de notícias curtas e mentiras velozes no atacado em tempo real. Mas é preciso lembrar que o 107 já foi o prédio mais alto de Botafogo. Do seu teto em tempos idos do Estado Novo dava para avistar o Centro do Rio e dava para ver as águas da Enseada e mesmo as águas da Baía na altura do Flamengo... Muitos jovens vivem ali hoje sem emprego, estudantes duros, liberais apressados, moradores vivendo de favores, e vivem no 107 também idosos sofrendo o que jamais imaginaram sofrer.
Pelo 107 passaram muitos anônimos e alguns hoje até renomados, como, salvo engano, o curador Paulo Herkenhoff então estudante da PUC, a fotógrafa Ana Vitória Mussi e o farmacêutico Júlio Rodrigues, que lidera uma confraria que todo ano homenageia São Jorge num desfile cênico na alvorada do 23 de abril. Júlio é a “estrela” do 107, e sua Drogaria Viver Bem fica no térreo do edifício e ainda vai entrar no Guinness como a farmácia que mais vezes foi assaltada no Brasil. Júlio também é o mais revoltado nesta pequena reportagem. Mas talvez o mais emblemático ex-morador seja Helinho 107, compositor de belos sambas. É dele o enredo da Escola São Clemente no carnaval que vai animar o verão de 2019. Helinho 107 se orgulha por ter seu nome próprio ganhado o número do prédio.
O problema eclodiu meses atrás quando moradores sentiram cheiro de gás que vazava no relógio marcando o consumo de um apartamento do oitavo andar. O prédio tão velho tinha e ainda tem pequenos problemas de manutenção, instalações que não estavam preparadas para demandar subitamente uma quantidade excessiva de energia elétrica. Há mais de cem dias o que se vê é gente comendo na rua, moradores irritados, alguns conformados, alguns sem noção de que, com desunião, o gás talvez não volte tão cedo, ou enquanto a CEG não receber um toco definitivo da justiça. A CEG Já está recebendo alguns.
O 107 não dá frente para a Rua São Clemente. A entrada é pela lateral. O prédio dá frente para um terreno arborizado, misto de garagem e playground, havendo ali também uma passagem para uma vila de velhas casinhas ao fundo, casas construídas igualmente por famílias milionárias. A propósito, a São Clemente tem cerca de 20 vilas, muitas imperceptíveis aos olhos de apressados transeuntes a pé ou circulando em veículos diversos. Muitas dessas vilas, como a existente nos fundos do 107, surgiram para abrigar gente humilde que servia às famílias milionárias da São Clemente, naquele Rio Antigo cheirando a barões de café, industriais, cavalos do Jockey, sotaque francês, diplomatas e governantes.
Por ser histórica, esta reportagem pede a paciência dos leitores nesse Odiento Mundo Novo de notícias curtas e mentiras velozes no atacado em tempo real. Mas é preciso lembrar que o 107 já foi o prédio mais alto de Botafogo. Do seu teto em tempos idos do Estado Novo dava para avistar o Centro do Rio e dava para ver as águas da Enseada e mesmo as águas da Baía na altura do Flamengo... Muitos jovens vivem ali hoje sem emprego, estudantes duros, liberais apressados, moradores vivendo de favores, e vivem no 107 também idosos sofrendo o que jamais imaginaram sofrer.
Pelo 107 passaram muitos anônimos e alguns hoje até renomados, como, salvo engano, o curador Paulo Herkenhoff então estudante da PUC, a fotógrafa Ana Vitória Mussi e o farmacêutico Júlio Rodrigues, que lidera uma confraria que todo ano homenageia São Jorge num desfile cênico na alvorada do 23 de abril. Júlio é a “estrela” do 107, e sua Drogaria Viver Bem fica no térreo do edifício e ainda vai entrar no Guinness como a farmácia que mais vezes foi assaltada no Brasil. Júlio também é o mais revoltado nesta pequena reportagem. Mas talvez o mais emblemático ex-morador seja Helinho 107, compositor de belos sambas. É dele o enredo da Escola São Clemente no carnaval que vai animar o verão de 2019. Helinho 107 se orgulha por ter seu nome próprio ganhado o número do prédio.
O problema eclodiu meses atrás quando moradores sentiram cheiro de gás que vazava no relógio marcando o consumo de um apartamento do oitavo andar. O prédio tão velho tinha e ainda tem pequenos problemas de manutenção, instalações que não estavam preparadas para demandar subitamente uma quantidade excessiva de energia elétrica. Há mais de cem dias o que se vê é gente comendo na rua, moradores irritados, alguns conformados, alguns sem noção de que, com desunião, o gás talvez não volte tão cedo, ou enquanto a CEG não receber um toco definitivo da justiça. A CEG Já está recebendo alguns.
O 107 não dá frente para a Rua São Clemente. A entrada é pela lateral. O prédio dá frente para um terreno arborizado, misto de garagem e playground, havendo ali também uma passagem para uma vila de velhas casinhas ao fundo, casas construídas igualmente por famílias milionárias. A propósito, a São Clemente tem cerca de 20 vilas, muitas imperceptíveis aos olhos de apressados transeuntes a pé ou circulando em veículos diversos. Muitas dessas vilas, como a existente nos fundos do 107, surgiram para abrigar gente humilde que servia às famílias milionárias da São Clemente, naquele Rio Antigo cheirando a barões de café, industriais, cavalos do Jockey, sotaque francês, diplomatas e governantes.
O 107 na verdade tem ainda mais
dois nomes: é oficialmente Edifício Ministro Tavares Lyra e também foi
conhecido como Palácio Blair. No hall, na parede entre os dois elevadores, há
uma placa de bronze datada de 1936(foto),na qual se lê em português o seguinte afago
entre milionários: “Dos Estados Unidos envio saudações a Palácio Blair que está
firmemente assentado na pedra fundamental da eterna amizade existente entre
Décio de Paula Machado e Henry T. Blair -
1936”.
O nome “Palácio Blair” está incrustado no mármore da pequena escada dando ao hal. E o nome Edifício Tavares Lyra está no tapete (foto).
Mas, voltando ao descaso: com o cheiro do vazamento, logo no início da crise uma firma autorizada consertou rapidamente o problema entre a caixa do medidor de consumo e o encanamento levando o gás a um pequeno apartamento no último andar. Mas, por sorte da segurança de todos, ou para desgraça dos moradores, ou por oportunismo de empresas cobrando grana alta, multa, exigindo obras emergenciais de vulto, ou sabe-se lá o que, uma empresa ligada à CEG apareceu sentindo cheiro de vazamento também na entrada do 107, do lado de fora. E a equipe autorizada destampou uma espécie de bueiro a metros do hall de entrada. E decidiu que ali também vazava. Mas ninguém no prédio aceitou a decisão porque ninguém sentiu cheiro nenhum de vazamento. E a firma cortou o gás dos 81 apartamentos. Quebrou, cimentou a caixa de entrada diante do hall e quebrou também na calçada da São Clemente, a cerca de 30 metros da entrada lateral. E cimentou tudo, lacrou geral.
Esta insólita reportagem não se deu ao trabalho necessário de ouvir a CEG, que simplesmente sustenta o seguinte: o corte aconteceu porque o condomínio não aceitou o orçamento do conserto de um vazamento.A reportagem também não ouviu a firma, nem os advogados e viu as decisões que vem sendo tomadas por uma juíza a cargo da pendenga entre o condomínio, a fornecedora e a tal firma. Uma barafunda já envolvendo multas, laudos, contra laudos, intimações, recursos, ultimatos, uma guerra sem cheiro de gás, mas exalando desconforto, prejuízos, desídia. Esta ausência momentânea de vozes como contraponto com relação aos depoimentos de moradores afetados pelo corte do gás é um desafio para que outros jornalistas façam a suíte do caso, isto é: deem continuidade a essa primeira versão do imbróglio. Por ora, entre algumas contradições, basta o impacto das declarações do farmacêutico Júlio Rodrigues, do compositor Helinho 107 e de alguns condôminos, como o Joaquim D’Andrada, funcionário da Aeronáutica, militar aposentado e velho morador do apartamento 306.
- O que houve é que vieram trocar um registro. O sindico tem tudo anotado, as datas, os preços, as alegações. Dissemos que eles não podiam fechar o gás porque se tivéssemos que trocar um cano de quatro metros a gente iria gastar no máximo uns cinco mil reais. E depois apareceu um cara de chapéu branco, devia ser engenheiro, e mandou fechar o gás do prédio dizendo que tinha vazamento. Apesar dos nossos apelos, eles cortaram e meteram concreto. Mas por que lacrar com cimento se era só trocar um cano?
- Você acredita que não cortaram por prevenção, que foi um erro?
- Acredito que houve má-fé. A CEG tem que ser fiscalizada. Tem que ser interditada. Vai ter que indenizar os moradores.
- Dizem que você tem uns cinco apartamentos no 107, é verdade?
- Tenho muitos, tenho mais, fui
comprando. Mas são 81 famílias comendo pão com mortadela há um tempão.
- E por que ninguém fez nenhum protesto mais barulhento?
- Porque os moradores são muito humildes, pessoas estão esperando assim... Parece que eles têm medo da CEG. Mas eu não tenho medo de nada. Sabe do que tenho medo? Tenho medo da coisa errada. Esta minha farmácia já foi assaltada 67 vezes em 40 anos. Mas não chamo ninguém de ladrão. Hoje todo mundo que entra aqui é filmado. Só chamo de ladrão se tenho provas de que veio aqui, pegou e levou sem pagar. Mas eles da CEG estão fazendo covardia com a gente. A CEG está querendo tomar cento e onze mil reais da gente, um condomínio pobre. Que cano custa isso?
- Mas como começou tudo isso, Júlio?
- A CEG constatou um vazamento pequenininho. E a gente contratou uma firma que trocou o cano, cobrou R$ 1.900, fez um laudo. Mas surgiu uma firma terceirizada que não quis mais abrir a caixa cimentada. Depois a CEG veio, fez um laudo confirmando que não tinha mais vazamento nenhum. Mas nada de religar. Fui na sede da CEG e estão querendo R$ 111 mil para reabrir o gás.
- Júlio, você que já foi síndico, qual o seu relacionamento com o atual síndico?
- E por que ninguém fez nenhum protesto mais barulhento?
- Porque os moradores são muito humildes, pessoas estão esperando assim... Parece que eles têm medo da CEG. Mas eu não tenho medo de nada. Sabe do que tenho medo? Tenho medo da coisa errada. Esta minha farmácia já foi assaltada 67 vezes em 40 anos. Mas não chamo ninguém de ladrão. Hoje todo mundo que entra aqui é filmado. Só chamo de ladrão se tenho provas de que veio aqui, pegou e levou sem pagar. Mas eles da CEG estão fazendo covardia com a gente. A CEG está querendo tomar cento e onze mil reais da gente, um condomínio pobre. Que cano custa isso?
- Mas como começou tudo isso, Júlio?
- A CEG constatou um vazamento pequenininho. E a gente contratou uma firma que trocou o cano, cobrou R$ 1.900, fez um laudo. Mas surgiu uma firma terceirizada que não quis mais abrir a caixa cimentada. Depois a CEG veio, fez um laudo confirmando que não tinha mais vazamento nenhum. Mas nada de religar. Fui na sede da CEG e estão querendo R$ 111 mil para reabrir o gás.
- Júlio, você que já foi síndico, qual o seu relacionamento com o atual síndico?
- É bom, mas ele não
quer fazer barulho, trabalha em banco, não quer se expor. Mas eu me exponho
dentro da razão. O que a CEG está fazendo é 171, acho que a CEG está armando
isso em muitos prédios. Tem que investigar isso.
- E o advogado do condomínio?
- O advogado é meia boca. Mas veja que eu tenho muitos apartamentos no prédio e tenho esta farmácia. Mas eu não moro no 107, eu moro na São Clemente 117, aqui ao lado. Por que a CEG não vai lá interditar o gás onde eu moro? Se chegar lá não passa nem pelo portão. Não vai porque lá onde eu moro tem medalhão, tem procurador, juiz, delegado. Aqui no 107 só tem medalhinha.
- O advogado é meia boca. Mas veja que eu tenho muitos apartamentos no prédio e tenho esta farmácia. Mas eu não moro no 107, eu moro na São Clemente 117, aqui ao lado. Por que a CEG não vai lá interditar o gás onde eu moro? Se chegar lá não passa nem pelo portão. Não vai porque lá onde eu moro tem medalhão, tem procurador, juiz, delegado. Aqui no 107 só tem medalhinha.
- Mas quem você acusa, a CEG ou a tal empresa autorizada?
- A CEG e a terceirização, essas firmas terceirizadas são fogo. Sou devoto de São Jorge. Mas hoje tem muito pouco soldado de São Jorge.
Tem muito soldado é na CEG.
Com minutos de diferença, a conversa agora é com Helinho 107(foto), encontrado por
acaso, posto que estava ali diante do prédio em que morou, mas dali saiu há quase
30 anos, quando se casou com uma moradora do bairro e constituiu bela família
com duas filhas hoje em idade universitária. Ele nem sabia que o prédio está
sem gás há meses.
- Que absurdo. Esse
prédio foi uma maravilha na minha infância e nossa juventude. Tinha um time de
futebol, a gente disputava o campeonato de praia. O prédio era uma referência
para muitos. Eu virei Helinho do 107 porque já existia um Helinho nas rodas de
samba, era o Helinho do Santa Marta. Depois encurtaram meu nome, só Helinho
107.
- E falando no morro, como está o seu carnaval de 2019?
- Estou feliz porque vou ver de novo o meu samba na Sapucaí com a São Clemente. Pegaram meu samba vencedor de 1990 e reeditaram o enredo que diz que o samba sambou. Meu samba é uma denúncia alegre mostrando que o carnaval virou um grande comércio, mas com muito absurdo. Hoje tem escola passando na avenida e você vê gente no camarote de costas para o desfile, gente com fone de ouvido escutando funk e música sertaneja na Passarela do Samba. Mas apesar da crise econômica, o carnaval ainda é hollywoodiano.
- E falando no morro, como está o seu carnaval de 2019?
- Estou feliz porque vou ver de novo o meu samba na Sapucaí com a São Clemente. Pegaram meu samba vencedor de 1990 e reeditaram o enredo que diz que o samba sambou. Meu samba é uma denúncia alegre mostrando que o carnaval virou um grande comércio, mas com muito absurdo. Hoje tem escola passando na avenida e você vê gente no camarote de costas para o desfile, gente com fone de ouvido escutando funk e música sertaneja na Passarela do Samba. Mas apesar da crise econômica, o carnaval ainda é hollywoodiano.
- E rola grana, você consegue viver da indústria do carnaval?
- Que nada. A coisa anda tão feia que virei motorista de Uber. Aquele carro preto ali é meu. Aliás tenho um compromisso, preciso ir faturar...
O aposentado Joaquim D’Andrada vive com a mulher Silvia D’Andrada e o filho no apartamento 306 desde o casamento nos anos 80. Ele dá a sua versão do 107 sem gás:
- Que nada. A coisa anda tão feia que virei motorista de Uber. Aquele carro preto ali é meu. Aliás tenho um compromisso, preciso ir faturar...
O aposentado Joaquim D’Andrada vive com a mulher Silvia D’Andrada e o filho no apartamento 306 desde o casamento nos anos 80. Ele dá a sua versão do 107 sem gás:
- Tinha um vazamento, aparentemente da canalização que ia do relógio da CEG para um apartamento no oitavo andar, os relógios são individuais, cada apartamento tem um marcador. O defeito foi corrigido. Mas veio uma firma contratada pela CEG alegando que tinha outro vazamento, alegando que tinha que quebrar no hall da entrada do prédio, mas não tinha nada a ver. E a firma queria cobrar R$ 117 mil. Mesmo depois que foi corrigido o lance do oitavo andar e foi constatado que não tinha mais vazamento nenhum a CEG não religou o gás. A própria CEG através dessa firma fez a perícia e constatou que não tinha mais vazamento. Aí o condomínio, através do sindico, entrou na Justiça. A juíza intimou a CEG a religar, mas não religou até agora. A juíza estipulou multa de R$ 5 mil e mandou de novo religar, mas por duas vezes esta empresa não obedeceu, recorreu. Agora umas três semanas atrás, no início de novembro, a juíza informou que vai mandar um perito neutro para verificar que não tem mais vazamento. E essa história que o Júlio lhe disse que a firma cimentou tudo não é bem assim. Tem uma pequena tampa de ferro que permite religar o gás sem uma grande quebradeira.
- E como sua família está vivendo nesses meses sem gás de cozinha?
- Gastei uma pequena fortuna, mais de dois mil reais com chuveiro elétrico, mão de obra, tive que trocar a parte elétrica de fora do apartamento porque queimou, deu curto lá embaixo. Tive que pedir autorização ao condomínio para fazer nova fiação externa, através de canos, gastei mil e quinhentos reais só com esta obra provocada pela CEG. Tive que comprar um fogão elétrico com duas bocas apenas. E passamos a comer muito mais na rua. Despesas e desconforto.
- Muitos moradores fizeram o que você fez?
- Não sei e nem posso saber, mas acho que sim, muita gente teve que mudar os hábitos. Não sei se outros tiveram problemas com novos equipamentos e instalação elétrica como tive.
- E o sindico está indo bem?
- Está sim fazendo a parte dele. Contratou advogado e está processando a CEG. Estamos aguardando a nova perícia a mando da juíza, mas é uma situação desagradável tudo isso. De repente, trezentas pessoas ficam sem gás, e o gás não volta.
Diversamente de Joaquim, alguns moradores em vez de elogiar o síndico o criticam, um tanto discretamente, e pediram anonimato, mas lamentam a demora na religação do gás e atribuem essa demora ao processo que o condomínio decidiu mover contra a CEG. Entendem que uma indenização é devida, mas até lá a demora na volta do gás é cada vez mais irritante.
Claro que essa reportagem deveria ter procurado o síndico Claudio Carilo Outeiro, seu advogado, a firma terceirizada, o tal sujeito de chapéu branco e o processo nas mãos da juíza Juliana Leal de Melo no qual é ré a CEG RIO S.A. Por pressa, porém, essa história começou assim mesmo: sem gás e sem feijoada em nenhum dois 81 apartamentos do 107. E pelo andar da carruagem, o peru de Natal também está ameaçado.
(Reportagem publicada também neste 28/11/2018 no site Conexão Jornalismo e no Correio do Brasil)