domingo, 28 de fevereiro de 2010

Alfaiate, Zeca, Elen Nas e mais artistas no Capela

Proibido cantar

no Capela


Por Alfredo Herkenhoff (postando neste Correio da Lapa na hora do sepultamento do grande sambista carioca)*


No Capela é proibido cantar. Ordem expressa de um dos sócios. O “galego” Francisco Almuzara Suarez é claro: “Aqui ninguém canta. Nem Roberto Carlos eu deixo. Aqui não é lugar de cantoria”. O espanhol já pagou um preço alto para manter a tradição de sua pequena intolerância. Em 2003, mesas agrupadas, dezenas de jovens universitários! A entrada do velho sambista Walter Alfaiate propiciou uma salva de palmas da garotada. Bem vestido como sempre, com a elegância de costume, Alfaiate atendeu a um pedido de umas tantas jovens universitárias, no rastro de uma euforia regada a chope e canto de parabéns, este o único que rápida e excepcionalmente Seu Chico tolera. E Alfaiate, dono de um dó de peito invejável, mesmo sabendo que não podia cantar, cantou um clássico de sua querida Portela. O gerente, irritado, primeiro manda os garçons Miro (Waldomiro Ferreira Almeida), Simão, Manoel Bezerra Motta e Antônio de Souza Ferreira avisarem que não pode. Em segundos, pisca a luz do Nova Capela. E em segundos mais, desliga o ar refrigerado. Em instantes, fregueses tradicionais avisam: não dá para ganhar essa guerra. E a cantoria cessa.

Mas no Capela se compõe música. A cantoria é tolerada, quando em grupo de três, no máximo quatro pessoas, tudo baixinho, quase num solilóquio. Canta-se muito, mas parece uma reza, um segredo que todo mundo quer ouvir, mas quem não quer, manda. É o velho gerente Chico, que tem lá suas razões. A restrição faz do Capela um lugar avesso a confusões. Ali nunca sai briga. Adolescente é sempre minoria. Numa noite se vê o cantor Zeca Pagodinho liderando uma roda que saiu do Carioca da Gema, a casa de música que faz sucesso na Mem de Sá, em frente ao restaurante. Noutra madrugada, a sambista Beth Carvalho surge acompanhada sempre por um séquito de artistas e intelectuais, quase todos com nostálgicas idéias socialistas. Noutra noite, bem...

Não há abecedário suficiente para uma lista que incluiria praticamente o nome de todo mundo no reino das celebridades, de Caetano Veloso ao ex-ministro José Dirceu, de Geraldo Pereira a Preta Gil com o pai ministro Gilberto Gil, de vários ex-presidentes da Petrobras a médicos cirurgiões, de Jacob do Bandolim a Ismael Silva, de Ana Carolina a Marcelo D2.

Mas, naquele dia, Walter Alfaiate ousou cantar, coroando uma algazarra que não dava bolas para a repressão de Chico Almuzara Suarez. Com a luz piscando e o gerente ameaçando fechar a casa com mais de 60 pessoas, o barman Alfredinho Melo, dono do Bip Bip, mas na condição de mero cliente solidário, toma as dores da alegria e discute com o colega de profissão diante da máquina registradora. O gerente irredutível. Alfaiate se senta sorridente. Alfredinho vai embora zangado levando a companheira Regina. No dia seguinte, o colega de O Globo Marceu Vieira, fiel assessor de Ancelmo Góis, bota em sua coluna o incidente. Dá um puxão de orelha no gerente do Capela. O jornalista, que acompanha Alfredinho Melo por noitadas, tinha razões de sobra para divulgar o pequeno bate-boca no salão. Mas quem conhece bem a boemia sabe que se deixar, desanda. O poeta francês Paul Valéry dizia que a maior liberdade vem do maior rigor. O próprio Alfredinho Bip Bip é famoso pelas broncas que dá quando alguém sola no cavaco, no seu bar minúsculo, em Copacabana, e a maioria simplesmente não ouve porque não quer ouvir nem cantar: prefere continuar na doce conversa fiada regada a cerveja em garrafa, na calçada, que dentro do Bip Bip não cabem 25 pessoas nem em pé.

Chico Almuzara Suarez tem seu lado tolerante. Você pode fazer tudo, menos cantoria e não pagar a conta. Pode ser rico ou pobre, machão, guloso, paquerador, gay. Qualquer coisa: menos estragar o que o gerente propala com orgulho: “Estou há 55 anos nesta casa e aqui é assim: não pode cantoria e pronto! Vocês têm a Lapa inteira para cantar!”

No fim de semana seguinte ao incidente, alta madrugada, casa lotada, Walter Alfaiate irrompe e é aplaudido de pé, num desagravo de mais de um minuto. Chico sente levemente o golpe. Mas nada de cantoria.

A autoridade estava preservada, fato que se comprovaria, dois ou três meses depois, quando Zeca Pagodinho, envolto por uns 20 amigos e fãs, começou a puxar um samba de roda. Chico Almuzara Suarez não pediu nem ajuda ao garçom. Simplesmente se aproximou do aglomerado de mesas e disse: “Zeca, não....!”. Pagodinho ainda ameaçou dizer umas verdades, mas logo aquiesceu. E a alegria voltou à calma exigida pelo estilo birrento, mas sedutor, do velho Nova Capela.

No mesmo lugar, todo mundo largou tudo para ouvir, em silêncio, o mesmo Zeca versar com Marquinho China. O sambista que versa é mais ou menos como o nordestino repentista. Duela com um amigo num vale tudo de palavras. Em ambas as lutas, a música fica em segundo plano. Mas no duelo carioca, não há fórmula pronta. Zeca duelou - dizem que perdeu, mas a torcida não se manifestava durante o versar suave. O gerente Chico nada podia fazer, apenas se emocionar como as mais de 30 pessoas que testemunharam aquela noite histórica. A propósito, no Capela estamos sempre vendo outros craques de samba de roda como Serginho Procópio e Tuninho Galante.

Madrugada de 13 de maio de 2006. Capela lotado. Sim, é proibido cantar virou tema, polêmica em todas as mesas ao longo dos últimos anos. Mas, de repente, Elen Nas, linda, uns 25 aninhos, talvez 1,80m altura, ensaia um canto lírico, não mais do que 10 segundos, mas a soprano mandou um agudo tão alto que congelou todas as conversas em todas as mesas. Um frisson. Todo mundo querendo ver quem era Elen Nas, cantora de música clássica e popular, compositora, modelo, poeta, performer, citando Lemisnki e animando o mundo dos DJs entre Londres e Berlim. Agora está no Capela. E quem pensou que fosse rolar confusão mal teve tempo para refletir. Depois de uma breve pausa, a soprano engatou uma frase melódica, cantando uma ária de Adriana Lecouvreur (Io son l' umile ancella). E foi num crescendo sob aplausos. No fim, palmas emocionadas e sorrisos. Um minuto depois, o tilintar da boemia voltava ao normal. Sim, é proibido cantar no Nova Capela.


# capítulo escrito em 2006 de um sempre inédito carrossel lapiano...

Brasil mais triste sem Mindlin e Walter Alfaiate



Mindlin, um mecenas que não fazia nada sem alegria

Por Antonio Gonçalves Filho, de O Estado de S. Paulo



O ex-libris de José Mindlin, selo pessoal que o bibliófilo colocou em sua coleção de livros raros, não poderia identificar melhor quem foi o empresário, intelectual e acadêmico morto neste domingo, 28, em São Paulo, aos 95 anos, após prolongada doença: "Je ne fait rien sans gayeté" (Não faço nada sem alegria). De fato, quem teve o privilégio de conhecer e conviver com Mindlin, sabe que caiu bem na vida do maior colecionador de livros do Brasil a escolha dessa máxima de Montaigne, retirada de seus Ensaios (do qual sua biblioteca tem um raríssimo exemplar, de 1588, que pertenceu ao crítico Saint-Beuve). Talvez a única coisa que fez sem alegria foi deixar este mundo sem ver concluído o prédio da Brasiliana USP, projeto acadêmico da Universidade de São Paulo que reúne a maior coleção de livros e documentos sobre o Brasil, um moderno edifício de 20 mil metros quadrados na Cidade Universitária sob a responsabilidade da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, órgão da Pró-reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP.

Sonho maior do bibliófilo, a coleção Brasiliana, composta por 17 mil títulos (ou 40 mil volumes) de literatura e manuscritos históricos doados pelo colecionador, é o maior legado deixado por Mindlin além da herança ética que o Brasil recebe desse empresário, jornalista, ex-secretário de Cultura de São Paulo e membro das academias Brasileira e Paulista de Letras. Desde adolescente avesso ao autoritarismo, Mindlin começou sua carreira jornalística aos 15 anos como redator do Estado, driblando a censura durante a Revolução de 1930. Da sala de Julio de Mesquita, então diretor do jornal, ele transmitia instruções para a sucursal do Rio - em inglês, para confundir a escuta telefônica. Outro exemplo de sua conduta ética foi o pedido de demissão do cargo de secretário de Cultura do governo Paulo Egydio quando o jornalista Vladimir Herzog foi morto pela ditadura militar, em outubro de 1975.

Posteriormente, ao ser convidado pelo governo civil de Fernando Collor para ocupar o cargo de ministro da Fazenda, Mindlin, traumatizado com cargos públicos, declinou da oferta, ocupando-se de sua biblioteca de 40 mil títulos, que manteve por mais de sete décadas com a ajuda de sua mulher Guita e, após a morte desta, em 2006, por mais quatro anos até ficar doente. Instalada em sua casa no Brooklin, na qual morou por mais de 60 anos, a biblioteca era o grande orgulho de Mindlin. Nela repousam raridades como a primeira edição de Os Lusíadas, de 1572, um original do padre Antonio Vieira, os originais de Sagarana, de Guimarães Rosa, corrigidos à mão pelo autor, além do primeiro livro que Mindlin comprou num sebo quando tinha 13 anos, Discurso sobre a História Universal, escrito em 1740 pelo bispo francês Jacob Bossuet. Oito décadas depois, outros 40 mil livros juntaram-se ao exemplar raro de Bossuet, muitos deles já disponíveis para consulta pública na Brasiliana Digital, a biblioteca virtual desenvolvida com o acervo físico doado pelo empresário à USP em 2006.

Mindlin não colecionava livros raros por fetiche. Queria dividir o prazer da leitura com milhares de pessoas. Mesmo como empresário, que transformou a Metal Leve de uma pequena fábrica de pistões, nos anos 1950, numa empresa gigantesca do setor de autopeças, Mindlin buscou o ideal de uma gestão democrática em que os operários pudessem ter voz ativa nas discussões sobre seu destino. Com a globalização, a Metal Leve não sobreviveu ao assédio do capital estrangeiro e, em 1996, foi comprada por sua maior concorrente, a alemã Mahle. O empresário, então com 82 anos, mais da metade dedicados à Metal Leve, não se aposentou, participando dos conselhos de administração de grupos - O Estado de S. Paulo, entre eles - ou de instituições como a Sociedade de Cultura Artística, da qual seu pai foi um dos fundadores.

Filho de um dentista judeu de origem russa, apaixonado por música e pintura, Mindlin herdou a paixão pela cultura do pai, que costumava receber em casa escritores como Mário de Andrade. Esse contato próximo com grandes estudiosos dos problemas brasileiros o transformou em farejador de raridades ao topar, ainda adolescente, em Paris, com o clássico História do Brasil, a narrativa de frei Vicente de Salvador, de 1627, que o fez se interessar pelo passado do País. Desde então, obcecado pela ideia de construir a maior biblioteca dedicada a estudos brasileiros, aproveitava todo tempo livre em sua viagens internacionais para garimpar títulos que nem a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro sonhou em ter no acervo. Seu sacrifício pessoal rendeu ótimos títulos publicados com a ajuda de sua biblioteca, entre eles os volumes da História da Vida Privada no Brasil, cujo conteúdo foi pesquisado na casa do Brooklin, frequentada pelos maiores intelectuais do País.

Mecenas, Mindlin, um dos articuladores da Fundação Vitae, que concedia bolsas para a realização de projetos culturais, ele publicou livros de grandes amigos poetas, como Carlos Drummond de Andrade, e artistas visuais como a gravadora Renina Katz. Seu acervo de obras em papel tem peças raras de artistas como Goeldi, Lescoschek, Lívio Abramo e Iberê Camargo. Mindlin costumava dizer que essa escolha se devia mais à mulher Guita, com quem teve 70 anos de vida em comum. Seu negócio mesmo era a leitura, hábito que, infelizmente, foi obrigado a abandonar nos últimos anos por problemas de saúde. Antes que seus olhos enfraquecessem, ele leu, porém, mais de cinco vezes sua obra preferida, os sete volumes de Em Busca do Tempo Perdido, de Proust, da qual guardava uma raríssima primeira edição francesa. Depois de Proust, Balzac ocupou sua imaginação por mais tempo. Em sua inúmeras visitas ao órgão do Banco do Brasil responsável pelas importações, o empresário da Metal Leve, obrigado a longas horas de espera nos corredores, devorou quase toda A Comédia Humana.

Nascido em São Paulo, em 1914, Mindlin estudou Direito na USP e fez cursos de extensão universitária na Universidade de Columbia, em Nova York. Aos 32 anos, financiado por um empresário, conseguiu um sócio e fundou a livraria Parthenon, em São Paulo, especializada em livros raros. A guerra havia acabado há um ano e famílias europeias descapitalizadas se desfaziam de seu patrimônio artístico e literário. Foi assim que Mindlin trouxe para o Brasil muitas raridades que colocou à venda na Parthenon, sempre avisando o comprador que poderia procurá-lo no futuro, caso quisesse se desfazer do livro. O conflito entre vendedor e colecionador cresceu com o tempo. Mindlin não resistiu e foi atrás de todos as obras raras vendidas, recomprando-as para sua biblioteca particular quando virou empresário.

Foi quando vendeu a Metal Leve, dirigida por durante 46 anos, que o empresário começou a pensar no futuro de sua biblioteca. Inspirado no modelo da John Cater Brown Library, de Providence (Rhode Island), que também começou como coleção particular e hoje é uma das maiores do mundo em documentos raros sobre a América, Mindlin, que integrava o conselho da biblioteca, pensou em fazer um acordo com a USP para transferir seu acervo. Parte dessa história está contada no livro Memórias Esparsas de uma Biblioteca, um dos três volumes que Mindlin dedicou à maior coleção privada do Brasil - os outros dois são Uma Vida entre Livros e Destaques da Biblioteca de Guita e José Mindlin.

Sempre procurado por pesquisadores brasileiros e estrangeiros atrás de suas raridades bibliográficas, Mindlin, um cidadão do mundo que dominava seis línguas, foi um dos primeiros empresários a atravessar a Cortina de Ferro durante a Guerra Fria, tentando aproximar o Brasil de países como a extinta União Soviética. Teve também um papel fundamental no processo de redemocratização do País ao assinar, durante a ditadura, um manifesto pela abertura política junto a outros oito empresários. (fim)

Morre Walter Alfaiate

Por Eugênia Rodrigues, do excelente site Agenda do Samba e Choro

Amigos queridos. O Magnata Suppremo da Elegância Moderna faleceu. Walter Alfaiate, que estava internado desde o ano passado, se foi na tarde deste sábado, 27 de fevereiro.

Estou tão triste que nem sei mais o que escrever. Ele era uma pessoa maravilhosa. Talentoso, estava sempre bem-humorado, tratava os fãs com carinho. Tenho a impressão de que perdi um tio querido, e acho que muitos se sentem assim.

O velório será a partir das 10 horas da manhã deste domingo, 28, no Clube do seu coração, o Botafogo. É o da General Severiano, perto do Rio Sul. Já o enterro acontecerá no São João Batista às 17 horas. Chegar meia hora antes, pois o cemitério é muito grande.

Deixe nos comentários sua mensagem neste momento.

Abaixo, o texto que a tribuneira Lucia Helena escreveu sobre o compositor e cantor. Está desconfigurado, desculpem, mas dá para ler.

"Pois é... Lá se foi o querido Walter, que tanta alegria me
proporcionou. Como era bom encontrar com ele pelo calçadão de
copacabana! Sempre tinha um comentário gentil e CARIOCA com o que
se passava ao redor! E quando ele aparecia no Bip-Bip? Toda
reverência era insuficiente e ele, sempre muito elegante, agradecia
e brincava com todos! Portelense e botafoguense com muito orgulho,
Walter é de um tempo em que ser elegante e educado não só no
samba, mas em todos os momentos e lugares era coisa comum que não
carecia tanto comentário como em nossos dias, mas tudo muda.
Infelizmente a educação e a gentileza estão se mudando de plano
espiritual... Walter fez bonito nesse tempo terreno e agrdeço por
ter vivido no mesmo tempo !!!! Pra nossa turma do Bip-bip, quando o
seu companheiro de Botafogo, Mical chegar tortinho e pedir pra cantar
Olhaí, agora vai ter um nó na garganta, mas depois vai passar! Vai
com Deus Walter, porque hoje e amanhã tem batucada no céu e
quarta-feira a vida continua! Lucia Helena muito triste mesmo Olha
aí (Mical/Miúdo) Olha aí, Toda a minha gente reunida Parece que
está bem decidida E que atingiram o seu ideal Olha aí, Veja a
euforia, como é grande Note como o pessoal se expande, Num gesto
tão humilde e leal Cante com vontade minha gente Porque hoje já
é carnaval Cante com vontade minha gente Porque hoje já é
carnaval Em cada bloco havia um estandarte Em cada estandarte um
dizer Simbolizando que, nesses três dias, Ninguém se lembraria
Como é o sofrer Após a batucada pela rua, Quarta-feira a vida
continua Após a batucada pela rua, Quarta-feira a vida continua..."

Comentários dos leitores
O mundo do samba eo Rio de janeiro, perde uma grande personalidade., Walter Alfaiate que tive o prazer de conheçe-lo aqui na Viradouro, figura marcante de alegria, simpátia e generosidade. E uma perda inrreparavel para todos nós do samba da cidade de Niterói. À familia de Walter Alfaiate meus sentimentos profundos.
luizsbragaEmail

Parabéns pelo post de falecimento do
seu Walter da Portela, grande compositor carioca e que agora se junta aos ETERNOS BALUARTES DO
SAMBA. descanse em paz Mestre Walter.
sergioclaro@bol.com.br
Sergio ClaroEmail


Um amigo querido. A fidalguia de sempre...O mestre sempre solicito a um bom papo. Dizer que não... O coração de todos aqueles que amam o samba, sentem sua perda. Estamos lagrimados, Força Claudia e a todos os seus.
VICTOR MORAESEmail



Walter está em cada um de nós, cariocas, brasileiros e sambistas! Uma pessoa generosa, divertida e muito superior, um poeta que enxergava a vida de maneira lúdica e única. Compositor, cantor e gente boa demais! Quando crescer quero ter a sua generosidade! Salve!
Daniela CalciaEmail


lamentavel!!!!
gustavoEmail

Guardarei várias imagens marcantes deste grande personagem do bairro de Botafogo. Sua alegria, voz, simpatia, malemolência, humor, elegância e generosidade estarão eternamente fixadas em minhas retinas e no meu coração. Meus sentimentos a todos os familiares e também aos fãs e amigos.
Marcelo Sant'AnnaEmail

Conheci o Walter há uns 20 anos. Tive essa sorte. Fui, portanto, mais um beneficiário de tantas coisas boas que sua convivência trazia. Walter só espalhava alegrias. Humor inabalável,ótimo contador de casos,frasista impagável, cantor de estilo absolutamente singular, ele levantava o astral de qualquer roda. Outra marca admirável de sua personalidade era a paixão que ele punha em tudo que fazia. Era com paixão que ele exercia o ofício de alfaiate. Com paixão, compunha, cantava e marcava o ritmo com seu tamborim. Sua ligação com Botafogo - o bairro e o clube - era de pura paixão. Um monumental carioca. Agora, emprestará o brilho eterno de sua estrela à melhor parte do céu. Lá, seu grande parceiro, Mauro Duarte, o espera. E tantos outros ourives do samba. Sacode, Carola! Muitas saudades, mano Walter.
Marcelo de Sá Corrêa

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Mega sismo no Chile em maio de 1960 e hoje 2010

Imagem desta manhã, 27 de fevereiro de 2010, numa estrada do Chile devastado

Hoje, sábado, mega tremor no Chile, 8,8 graus na escala Richter. Tragédia em Concepción. Há exatos 50 anos - 22 de maio de 1960, emergia o Terremoto de Valdivia, o maior já registrado no Mundo, ou 9,5 graus Richter, sacudindo também a cidade de Concepción, a segunda maior do Chile. O tremor de hoje, como o de ontem, foi sentido em vários países banhados pelo Pacífico. O de ontem produziu tsunami no Hawai. O de agora há pouco produziu alertas de tsunami até no Japão. O de ontem matou 3 mil pessoas e atingiu 2 milhões entre feridos e desabrigados. O Chile é cortado pelas placas tectônicas Nazca e Sul-Americana. O sismo de hoje balançou até a Avenida Paulista, com a Rede Globo gravando esse chacoalhar de objetos em seu escritório na capital paulista. Bad News!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Letra do samba oficial do bloco Boka de Espuma


Quem não gosta de beber

vai procurar sua turma

Nós gostamos de gelado

Nós vamos de chope

na Boka de Espuma.


Se não é de beber

Se não é de cantar

na Espuma tu não vai se enturmar

que a rapaziada é de beber e de cantar...


Correio da Lapa comenta: a letrinha é pequena e bobinha, mas a música tem uma pegada impressionante. Uma pequena joia que levanta o astral na última hora do último Carnaval. Salve o folião Oswaldo Duarte Portela, presidente fundador da Banda da Boka de Espuma, essa folia carioca em Botafogo! Alô meu Rio de Janeiro!


Correio da Lapa prestes a completar um ano de vida a mil por hora!

Toda hora uma surpresa:

Niñas que utilizan como excusa los Carnavales para disfrazarse de zorras.



Jovens mulheres que usam o carnaval como desculpa para se disfarçar de peruas sexuais


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Dilma Rousseff vai ganhar de lavada a sucessão


O passeio eleitoral da candidata de Lula
Por Hamilton Octavio de Souza - de São Paulo *

(Texto avistado no site do Correio do Brasil, de Gilberto de Souza, em fevereiro de 2010)

A campanha eleitoral de 2010 já está nas ruas. Pelo menos a presidencial, mais atraente do que as dos governos estaduais e as legislativas – para deputados e senadores. Claro que o processo demanda articulações, combinações partidárias, acordos de correntes e de grupos oligárquicos. Em dois ou três meses o quadro todo estará definido, embora já se tenha um panorama bem próximo do que vai acontecer. Salvo, é claro, que apareça alguma zebra, o que tem sido cada vez mais raro no esquemático jogo de forças da política brasileira.

Tudo indica que a candidata do presidente Lula, a ministra Dilma Rousseff, vai levar de goleada, vai dar um passeio tranquilo e sem maiores surpresas. Não há nada que indique sobressaltos. Afinal, ela é ministra de um governo aprovado pela grande maioria, que vai de gregos a troianos, e foi indicada por um presidente que é quase unanimidade nacional e internacional. Ele não é “o cara”? Portanto, não há maiores resistências à vista, desde a faixa da miséria até a fina flor da elite empresarial, desde o interior mais escondidinho do nordeste até o mais exuberante edifício da Avenida Paulista.

Os petistas, mesmo que não tenham participado ativamente da escolha da candidata, a aceitaram com naturalidade, entenderam logo que têm nas mãos um trunfo espetacular, uma possibilidade de ouro como nunca antes aconteceu no Brasil. Por isso mesmo, a militância não precisa ficar tensa, nem de longe perder o sono. Pode confiar, com tranquilidade, que a eleição está garantida, o Brasil continuará no mesmo rumo, e o que foi consolidado até hoje será fielmente preservado, não haverá nenhum retrocesso.

Ninguém precisa ser um Bolivar Lamounier para analisar os fatos que sustentam essa convicção. Não se trata de prepotência ou bravata dos grupos dominantes. O que manda mesmo é a voz do povo e a força de todos aqueles que contribuem para a construção da candidatura e que influenciam decisivamente no resultado das eleições. Basta lembrar que a base parlamentar do atual governo é muito ampla, consistente e diversificada, vai desde o PT e o PCdoB até o PTB do Roberto Jefferson e o PP do Paulo Maluf, vai desde gente muito decente até os mais corruptos e atrasados caciques do coronelismo.

As pesquisas indicam – sem qualquer vacilação – que a força do presidente Lula no norte-nordeste brasileiro é imbatível, em parte porque é lá que está concentrada a massa do Bolsa-Família, que não tem condição de sobrevivência sem o programa governamental; em parte por causa das muitas obras de grande valor econômico, como a transposição do Rio São Francisco, a construção da hidrelétrica de Belo Monte e tantas outras; e em parte porque as alianças com as principais lideranças dessas regiões, como José Sarney, Renan Calheiros, Jader Barbalho, Geddel Vieira Lima (e tantos outros), devidamente fortalecidas, asseguram um bom desempenho no jogo eleitoral.

É preciso considerar, também, a força das classes trabalhadoras, de todos aqueles que produzem a riqueza e que participam do desenvolvimento sem maiores conflitos com o sistema, na medida em que integram a base de apoio do governo. Salvo algum engano, as principais centrais sindicais devem apoiar a candidata do presidente, mesmo que não venha a ser aprovada a redução da jornada de trabalho para 40 horas e nem a mudança no cálculo das aposentadorias. Espera-se inclusive que as centrais ajudem a campanha oficial sem tumultuar a governabilidade e sem exigências que possam causar algum embaraço eleitoral junto aos setores empresariais. Proposta estatizante, nem pensar.

Por falar no empresariado, é bom que se diga: ninguém deve se preocupar. A turma do capital está feliz da vida, já que, apesar da crise econômica mundial, o governo brasileiro tem sido extremamente generoso, deu para eles o apoio máximo do Estado, dinheiro farto do BNDES (com juro de pai para filho), isenções de impostos, reescalonamento de dívida, enfim, todo aquele gás que tem girado a roda do capitalismo, contribuído para aumentar o lucro, acumular riquezas, concentrar patrimônios e poderes. Assim, a candidata do presidente pode ficar mais do que sossegada. Não haverá nenhuma debandada empresarial, muito menos da Vale, Gerdau, Votorantim, Camargo Correa, Odebrecht, Andrade Gutierrez e tantas outras. Entre os banqueiros, igualmente, todos estarão unidos nessa mesma caminhada rumo a novos recordes de lucros. A campanha pode contar, desde já, com a força do Bradesco, Itaú, Santander etc.

Para encurtar a história, é bom todo mundo saber que a candidata do presidente conta com o apoio sincero das grandes corporações estrangeiras, transnacionais e de todos os investidores do mundo que apostam no desenvolvimento do Brasil. Eles não têm do que reclamar, pois aprenderam a confiar na gestão de Henrique Meirelles no Banco Central e nas relações com os grupos políticos e econômicos que atuam no atual governo. Para eles, não se deve mexer em time que está vencendo, especialmente quando protege tão bem os investidores. Não é surpresa também que até mesmo o governo dos Estados Unidos, normalmente tão hostil com os povos da América Latina, esteja torcendo pela candidata do “cara” – afinal, desde os tempos do “companheiro” Bush que o Brasil tem sido um excelente parceiro do irmão do norte. A convivência fraternal com Tio Sam vai continuar, inclusive deve ser essa a torcida do povo do Haiti.

Em relação aos movimentos sociais mais irriquietos, aqueles que ainda não se aperceberam das virtudes da conciliação geral e irrestrita e da importância histórica da colaboração com as classes dominantes, esses ficam mesmo por conta do sufoco econômico, das CPIs dos ruralistas, da ação implacável do Judiciário e da repressão das polícias militares estaduais. Dificilmente tais ações – por mais autoritárias e antidemocráticas que sejam – serão imputadas ao arco de alianças da candidatura oficial. Afinal, o estabelecimento da ordem é algo que agrada sobremaneira às classes médias esclarecidas pela TV Globo e pela revista Veja.

A grande mídia empresarial liberal-burguesa, que diuturnamente tem fustigado os movimentos sociais, as lutas dos trabalhadores, os pobres, as propostas transformadoras da sociedade e até mesmo aspectos pontuais do atual governo (como o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos), não deve causar maiores problemas à candidata do presidente. Primeiro porque perdeu credibilidade e em eleições anteriores o povo não a levou em consideração; segundo porque não tem interesse em bater no modelo econômico que favorece as classes que representa; e terceiro porque ficou restrita às críticas pessoais, moralistas e preconceituosas, algo que não cola no povão-eleitor. Além disso, vale registrar que a mídia regional está toda nas mãos do coronelismo eletrônico – em grande parte aliado da campanha comandada desde o Palácio do Planalto.

Considerados, enfim, os diferentes argumentos, não há porque duvidar de que a eleição será mesmo um passeio para a candidatura oficial. Antes que se esqueça, é preciso colocar algumas linhas sobre a oposição: a da direita, constituída basicamente pelo DEM e PSDB, é algo ridículo, sem expressão popular, perdeu o eixo com a derrocada do fundamentalismo neoliberal, está mais esclerosada que o seu maior guru – o ex-presidente FHC. Perdeu longe a disputa da melhor gestão do capitalismo. Não vai ameaçar eleitoralmente ninguém, mesmo porque tem em suas fileiras alguns lulistas de carteirinha, entre eles o governador mineiro Aécio Neves. As demais filiais da direita nasceram sem bandeiras e tendem a ficar sem eleitores. Nem mesmo a poderosa FIESP quer saber da tucanalhada.

Dividida, a esquerda vive em esquizofrenia. Uma parte acha que vale a pena apostar na candidata do presidente, insistir nessa composição esdrúxula que tem fortalecido o capital e as oligarquias, assegurar espaço institucional sem maiores transformações. No curto prazo tal opção representa a sobrevivência política de cada um, mas no longo prazo pode ser apenas a perpetuação do modelo atual. Outra parte da esquerda ainda tateia na construção de alternativas – não somente eleitoral, partidária e política, mas fundamentalmente de projeto de Nação.

Essa divisão no campo da esquerda deixa claro que não será desta vez que o povo brasileiro emplacará um presidente realmente comprometido com o programa popular, democrático e socializante. O Brasil precisa urgentemente de uma alternativa de esquerda que mobilize as classes trabalhadoras e a juventude para uma transformação profunda da sociedade, centrada na superação do capitalismo. Mas como essa proposta não tem acúmulo suficiente para mudar o atual processo eleitoral, os apoiadores da ministra podem ficar bem mais tranquilos, porque a esquerda que está fora do bloco governamental não representa a menor ameaça à candidatura dela. De jeito nenhum. A eleição da ministra Dilma Rousseff está mais do que garantida. São favas contadas. O Brasil continuará no mesmo rumo. A não ser que, num passe mágico, as pessoas acordem da letargia.

* Hamilton Octavio de Souza é jornalista, editor da revista Caros Amigos, colunista dos jornais Brasil de Fato, Correio do Brasil e professor da PUC-SP.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Editorial do Escândalo da Mega Sena

Correio da Lapa *

Será que foi erro casual numa lotérica no Rio Grande do Sul ou será que é mais um escândalo da Roubalheira Nacional?

A polícia investiga se a zebra do bolão da Mega Sena no Rio Grande foi erro de uma funcionaria da lotérica, que teria esquecido de fazer o jogo ou se foi um estelionato, ponta do iceberg de mais um mega escândalo nacional. Os 40 apostadores iludidos foram à Justiça tentar garantir o prêmio. Duplamente iludidos, eles não têm chance por falta de amparo legal.

A população desconfia que donos de lotéricas, agindo como bicheiros, estejam se passando por banqueiros, fazendo o papel da Caixa na marra, isto é, ficando com as boladas de bolões não apostados de fato. Com a repressão a esse jogo coletivo fake, é possível que o volume de dinheiro apostado até aumente no futuro. O Correio da Lapa suspeita que muitas lotéricas estejam retirando milhões mensalmente da Caixa ao ficar com a grana dos bolões falsos. A zebra só ocorre para esses estelionatários se eles tiverem o "azar" de ver o bolão contemplado com a mega de seis dezenas. Desse uma quina ou uma quadra, a lotérica banqueira poderia tirar dinheiro do próprio bolso, pagar aos premiados e manter a farsa criminosa.

Tudo isso é mera suspeita, é a voz das ruas. Vamos aguardar as investigações.

Será, por exemplo, que a Caixa, que também merece críticas por não fiscalizar as lotéricas, não poderia agora ajudar a desvendar esse mistério? Será que a Caixa, com uma chamada a apostadores país afora, solicitando que mostrem antigos recibos de bolões não premiados, não poderia checar nos arquivos dos computadores para ver se aquelas casas lotéricas marcaram efetivamente tantos palpites de bolões não premiados nos últimos meses? Este talvez seja um caminho para acabar com este suposto escândalo, mais um no pais que proíbe o jogo e libera a jogatina do crime organizado.

* Por Alfredo Herkenhoff

Cildo Meireles e a arte dos desvios





Lembranças dos Anos 70 e outros curto-circuitos

Por Alfredo Herkenhoff

Correio da Lapa

Desvios remetem a descobertas sensoriais em exposições de Cildo Meireles na década de 1970. Instalações, desenhos, gravuras, quadros em que ângulos surpreendem por apenas se aproximarem de 90 graus na construção de uma arquitetura intuída como perfeitas retas tortas. Ao mesmo tempo, monóculos pendentes de linhas do teto da galeria em Botafogo, Luís Buarque de Holanda-Paulo Bittencourt, como se houvesse uma chuva de fios, com os pequenos visores na ponta de cada barbante esbarrando nos cabelos, rostos, enfim, no corpo dos visitantes. Ou seja, o fruidor recebendo informação tátil, inconscientemente, enquanto o olhar produzia outras interpretações.Uma obra clássica, como vislumbrou Jorge Luis Borges, é a que se vê com um fervor prévio e uma misteriosa lealdade... Ou ao contrário do que Oswald de Andrade disse sobre lançamento de mais um romance de Coelho Neto: Não li e adorei. Gosto de tudo o que Cildo produz, até do que nunca vi.
Mas a arte, um clássico, romance ou portrait, original ou contrafação, engana, me engana que eu gosto, ilude, me ilude que eu gosto. O gosto não se discute vagamente, mas se afirma, por meio de opções de linguagem. A arte é um convite ao predador para que se torne mais voraz, ou menos indolente diante de outros animais predadores de linguagem. A arte como um desvio de ondas, milagre dos símbolos, da razão e do inconsciente dando show de bola nas varreduras psicanalíticas. Desvios remetem a lembranças do Cildo Meireles no MAM, a instalação premiada Blind hot land, uma paisagem desértica, lunar, entre redes e areia e bolas, de tamanhos e pesos diferentes sem guardar relação com o tamanho, chumbo e papel, densidades intrínsecas impossíveis de serem notadas de imediato porque inacessíveis à mão do visitante. A instalação compondo com os olhares uma outra instalação ao se integrar à e na arquitetura espaçosa de Affonso Eduardo Reidy. O peso como enigma no espaço. A instalação se dando num ambiente de fascínio, sensação de exploração cósmica, de desafio, ilusão ou perspectiva de um equacionamento sensorial, de descobertas posteriores, de uma eureka, um achado, uma interpretação distanciada do fruidor sensibilizado por pequenas variações inseridas em imagens de objetos conhecidos. Uma obra clássica, ou Fiat Lux, o Sermão da Montanha, sete mil caixas de fósforo reunidas na Galeria Cândido Mendes de Ipanema, a reunião fazendo a fraqueza, como lâminas de barbear que, unidas, perdem o fio, o corte. Mas não importa o número exato de caixas compactadas como redução, sete é número de mentiroso, e, na palavra de Cristo, bem-vindas as crianças que brincam, bem-amados os que gostam de arte. A luz como metáfora não só da inteligência, aconselhamento ou sabedoria, mas também do terror político, da ditadura, do medo, do erro, do inferno, da guerra, do perigo, da segurança cega, aqueles seguranças obrigatórios, típicos do Rio de Janeiro branco de balas sempre perdidas, seguranças negros ou mulatos grandes, fortes, alimentados de feijoada, terno e gravata, samba e óculos escuros. Segurança impávido com osso, segurança da arte como estrutura de saneamento de riscos por meio de prevenções de incêndio, símbolo do sinistro da estrutura humana em meio a uma estranha convicção de que há mais coisa a ser compreendida entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã ciência contemporânea. A arte está compactada na linha das histórias divertidas que Cildo Meireles mostra e conta criando jogos de inversão de valores e medição de objetos, das coisas físicas às coisas ideais, símbolos num eterno curto-circuito ideológico, curto-circuito sempre provocado pelo olhar, seja numa garrafa de Coca Cola, seja numa cédula de dinheiro, seja numa boa prosa movida a traçado de conhaque e vinho quinado, apelidado de Dudu. (fim)

Cildo no Wikipedia
Durante os anos 70 e 80 Cildo Meireles arquitetou uma série de trabalhos que faziam uma severa crítica à ditadura militar. Obras como Tiradentes: totem monumento ao preso político ou Introdução a uma nova crítica, que consiste em uma tenda sob a qual se encontra uma cadeira comum forrada com pontas de prego, são alguns trabalhos de cunho político do artista. Neles a questão política sempre vem acompanhada da investigação da linguagem. Inserções em circuito ideológico: Projeto Coca Cola, por exemplo, consistiu em escrever, sobre uma garrafa de Coca Cola, um dos símbolos mais eminentes do imperialismo norte-americano, a frase Yankees go home, para, posteriormente, devolvê-la à circulação. Além da questão política o projeto faz referência a toda problematização desenvolvida pelos movimentos de vanguarda e por Marcel Duchamp no início do século; uma espécie de ready made às avessas.

Cildo examina a falibilidade da percepção humana, os processos de comunicação, as condições do espectador, a relação da obra de arte com o mercado.

Uma de suas obras, chamada Cruzeiro zero é uma réplica fiel de uma nota do cruzeiro (a moeda corrente naquele tempo) que não tem nenhum valor e as figuras históricas e heróicas sejam substituídas pela fotografia de um índio brasileiro e de um paciente de um hospital psiquiátrico. Há uma crítica, um comentário na superinflação e na desvalorização do cruzeiro, este trabalho joga com noções tradicionais da natureza e ' do valor ' da arte e da marginalização do Brasil no mundo internacional da arte.

Desvio para o Vermelho, by Cildo Meireles

Chávez e Cuba

O texto abaixo, avistado pelo Correio da Lapa no Estadão, mostra que Hugo Chávez espanta o dinheiro - não atrai investimentos - e, diante da degradação crescente da economia, convida assessores militares cubanos para fazer da Venezuela uma ilha sul-americana com 100 mil metralhadoras de censura e ilusão.

O arrimo de Chávez

Estado de S. Paulo

Numa de suas visitas a Havana, em 2005, Hugo Chávez ouviu do então ditador Fidel Castro que Cuba e Venezuela eram "uma nação única". "Com uma única bandeira", reforçou o caudilho. "Somos venecubanos", arrematou Fidel. O episódio, lembrado pela revista britânica The Economist na edição desta semana, não foi apenas uma efusão retórica. Desde então, o entrelaçamento entre a longeva tirania castrista e o regime bolivariano em marcha batida para o totalitarismo tem ido muito além da venda de 100 mil barris diários de petróleo venezuelano para Cuba a preços subsidiados e do envio de cerca de 30 mil médicos cubanos e outros profissionais da saúde para a Venezuela. Com a crise devastadora em que o chavismo mergulhou o seu desafortunado país, chegou-se a uma situação paradoxal: a quarta economia da América Latina passou a depender cada vez mais do falido sistema da ilha caribenha.

Cuba, onde os apagões fazem parte do cotidiano, assumiu o comando da comissão nomeada por Chávez para gerir a "emergência elétrica" venezuelana - a escassez de energia que ele atribui à estiagem para disfarçar o descalabro e a falta de investimentos no setor. Pelo menos essa é a versão oficial para a ida a Caracas do veterano compañero de Fidel e número três na hierarquia de Havana, o comandante Ramiro Valdés, de 77 anos. Mas a sua experiência não reside no campo energético: ele é responsável pelo controle do acesso à internet na ilha. "O cubano com certeza é um especialista", ironizou o jornal espanhol El País, em editorial publicado na última terça-feira, "mas em repressão generalizada, o que demonstrou na sua passagem pelo Ministério do Interior, entre 1961 e 1969, e, desde 2006, como censor." Valdés, segundo testemunhas, participou de reuniões com altas patentes militares venezuelanas.

Comenta-se, a propósito, que a renúncia do ministro da Defesa e vice-presidente, coronel Ramón Carrizáles - um dos 5 membros da cúpula do governo da Venezuela que foram destituídos ou deixaram os seus cargos nas últimas semanas -, teria sido um protesto contra os planos de Chávez de instalar generais cubanos em postos estratégicos do Exército venezuelano. Ele precisa de toda a ajuda que Cuba possa lhe oferecer - para reforçar o Estado policial que vem montando há 11 anos e dar um semblante de eficiência à deteriorada administração pública venezuelana. No primeiro caso, a expertise cubana é inquestionável. Funcionários despachados por Havana cuidam, por exemplo, da modernização dos serviços de registro comercial e civil no país. Decerto o objetivo é usar esses registros na montagem de um sistema de controle e vigilância social. Cubanos também ocupam espaço nas agências de imigração e controle de passaportes.

Os setores petroleiro e petroquímico "estão completamente infiltrados" pelo G2, o serviço secreto castrista - montado pelos soviéticos à imagem e semelhança da KGB -, denunciou no ano passado o sindicalista Froilán Barrios, da Confederação dos Trabalhadores Venezuelanos. Na área da construção pesada, os agentes cubanos não permitem que os operários se organizem. O principal consultor da academia venezuelana de polícia é também cubano. A repressão às emissoras privadas de TV tem o dedo de Havana. Em Ministérios como os da Saúde e Agricultura, os "conselheiros" cubanos mandam mais que os funcionários venezuelanos. Dados estatísticos seguem para Havana antes de chegar ao conhecimento do governo. O próprio Chávez só ficou sabendo do fechamento de milhares de postos de saúde básica na Venezuela quando Castro lhe contou.

Tudo indica que quanto mais se agravar a situação do país, tanto mais Chávez o abrirá para os cubanos. E não há um único indicador de melhora. O quadro é de estagnação combinada com a pior taxa de inflação no Hemisfério. A mais recente onda estatista - atingindo desta vez os supermercados - apenas assegura que o desabastecimento persistirá. A ofensiva contra o setor seguiu-se à adoção do câmbio duplo no país (US$ 1 vale 2,6 bolívares para os gêneros de primeira necessidade e 4,30 para os demais produtos importados). Chávez alegou o descumprimento da tabela para fechar a rede Éxito. Embora o caudilho ainda seja aprovado por 58% da população, o seu prestígio está em queda. Ele só tem a dar mais demagogia - "Eu sou o povo", disse há pouco - e mais repressão.

Folha de S.Paulo noticia: Iurd derrotada na Justiça

Igreja Universal (Iurd) perde ação contra Folha de S.Paulo

A Justiça deu vitória à Folha de S.Paulo na ação em que a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) move contra o jornal e a jornalista Elvira Lobato, autora da reportagem "Universal chega aos 30 anos com império empresarial", publicada no dia 15 de dezembro de 2007, sobre o conglomerado de empresas ligado à Universal.
A ação, que exigia R$ 100 mil de indenização por danos morais, foi julgada improcedente pelo juiz de direito Alexandre Muñoz, que sustentou que o jornal tem o direito de informar e que se amparou em documentos para dar a notícia. "Resta patente, portanto, que a veracidade das informações está clara e demonstrada nos autos", escreveu o magistrado na sentença. E completou: “Óbvio que seus seguidores [da Iurd] e também outras tantas pessoas que não são suas seguidoras têm direito a esta informação."

A Iurd alegava que era alvo de perseguição e sensacionalismo pela jornalista Elvira Lobato e pela Folha, mas o juiz entendeu que não houve nenhuma das duas acusações, já que a repórter é autora de outras reportagens sobre outras igrejas.Muñoz julgou o valor da indenização improcedente porque a Universal não conseguiu apresentar "prova de qualquer dano sofrido, pois, como é notório e sabido, a autora não perdeu seguidores nem deixou de conquistar outros".

A decisão foi tomada em primeira instância e a Universal já informou que pretende recorrer. "E, dependendo do resultado, vamos recorrer ao Superior Tribunal de Justiça. Estamos dispostos a ir até o Supremo Tribunal Federal", afirmou a advogada da Igreja Universal, Adriana Guimarães Guerra. Além do processo movido pela Iurd, a reportagem de Elvira Lobato, vencedora do Prêmio Esso de Jornalismo em 2008, foi alvo de outras 106 ações movidas por fiéis de todo o Brasil que se sentiram ofendidos com o conteúdo do texto. Dos 106 processos, 90 já foram julgados em primeira instância com decisão favorável ao jornal. Este último caso foi avaliado por um juiz criminal da comarca de Avaré (SP), Alexandre Muñoz, apesar de a ação ter começado na 39ª Vara Cível de São Paulo. O procedimento foi adotado para acelerar o julgamento.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A passista e rainha de bateria no Rio 2010

Qual foi a melhor do carnaval?

Bruna Bruno, da União da Ilha

Luiza Brunet, da Imperatriz Leopoldinense

Adriane Galisteu, da Unidos da Tijuca

Júlia Lira, da Viradouro

Viviane Araújo, do Salgueiro

Rayssa Oliveira, da Beija-Flor

Thatiana Pagung, da Mocidade

Valesca Santos, da Porto da Pedra

Juliana Portela, da Portela

Paola Oliveira, da Grande Rio

Gracyanne Barbosa, da Vila Isabel

Renata Santos, da Mangueira

Resposta mais certa: Quitéria Chagas, rainha da Império Serrano, que cantou João do Rio e ficou em sexto lugar no Grupo de Acesso.

Para confirmar essa opinião de Alfredo Herkenhoff e Marcelo Moutinho, basta ver e ouvir clicando em>

http://correiodalapa.blogspot.com/2009/08/samba-best-dancer-is-quiteria-lovely.html

Assim vi meu Botafogo se transformar

Por Cláudio Jorge

Meu amigo Cristiano Menezes, radialista botafoguense, entrevistando o Joel Santana antes de sua estréia, recebeu do técnico a declaração de que futebol tem que ser jogado com alegria. E foi assim que eu vi meu Botafogo se transformar nas últimas semanas no Império do Humor e ser o glorioso campeão da Taça Guanabara de 2010 neste último 21 de fevereiro. Acordei cedo neste dia para cuidar de questões burocráticas que vêm me atormentando ultimamente, mas sabia que a partir da hora do almoço a coisa ia ser boa. O aniversário do João Miguel, filho do músico e cantor Marcelinho Moreira, ambos botafoguenses, era o destino, bem ali por perto do Maraca.

Minha mulher, flamenguista, se comportou à altura, pressentindo que o dia iria terminar do jeito que terminou.

Não foi mole não. A decoração da festa do João foi baseado nas cores e bandeira do time. Bolo, toalha de mesa, bolas, bandeirão e muita gente vestindo a camisa do clube. Chope gelado e um baita churrasco. Quer dizer, o cenário estava pronto e todo mundo confiante que a vitória sobre o Vasco viria.

Começa o jogo, a gente no sol do play, clima de arquibancada, uma televisão sem som e o som nas caixas começa a tocar um disco do Luiz Carlos da Vila produzido por mim. “A luz do vencedor". Caramba! De alguma forma o botafoguense Luiz veio pro jogo torcer com a gente. Não ficou por aí. O outro João, filho Paulinho Albuquerque, ambos alvinegros, pediu a mãe para assistir o jogo ao meu lado. Putz!, pensei comigo. Isso vai dar caldo. Final do primeiro tempo. Mais uns chopes, umas coxinhas, a essa altura a roda já tava formada. Marcelinho, Hamilton de Holanda, Rogério Caetano, Rogê, sambas, chorinhos, alegria total prenunciando um final feliz, mas o frio tava lá na barriga, na expectativa do segundo tempo. Os vascaínos que por lá estavam mantinham-se discretos por conta da pressão alvinegra, não só em quantidade mas por conta mesmo do cenário. O Engenhão era ali.

Segundo tempo, perdi meu lugar em frente a TV e fiquei torcendo de longe. Gooooooool! do Botafogo aos vinte e poucos minutos. Expulsão de dois mal educados do Vasco e Gooooooooool! do Botafogo, de pênalti. Marcelinho pega o João no colo, corre pra arquibancada, quer dizer, corre pro bolo e aí rolou o maior parabéns pra você da história com as bandeiras desfraldadas, só faltaram os fogos. Paulinho, Luiz, que bom que vocês vieram pro jogo. Comemoremos.

É! CAMPEÃO... É! CAMPEÃO... É! CAMPEÃO...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O ladrão de galinha e o dinheiro na meia

Luciano Peixoto (o metafísico sent):

"Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e o levaram para a delegacia.

- Que vida mansa, heim, vagabundo? Roubando galinha para ter o que comer sem precisar trabalhar. Vai para cadeia!

- Não era para mim não. Era para vender.

- Pior. Venda de artigo roubado. Concorrência desleal com o comércio estabelecido. Sem-vergonha!

- Mas eu vendia mais caro.

- Mais caro?

- Espalhei o boato que as galinhas do galinheiro eram bichadas e as minhas não. E que as do galinheiro botavam ovos brancos enquanto as minhas botavam ovos marrons.

- Mas eram as mesmas galinhas, safado.

- Os ovos das minhas eu pintava.

- Que grande pilantra...

Mas já havia um certo respeito no tom do delegado.

- Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega...

- Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não espalhar mais boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a aumentar os preços dos produtos dele para ficarem iguais aos meus. Convidamos outros donos de galinheiro a entrar no nosso esquema. Formamos um oligopólio. Ou, no caso, um ovigopólio.

- E o que você faz com o lucro do seu negócio?

- Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de drogas. Comprei alguns deputados. Dois ou três ministros. Consegui exclusividade no suprimento de galinhas e ovos para programas de alimentação do governo e superfaturo os preços.

O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e perguntou se a cadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada. Depois perguntou:

- Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o senhor não está milionário?

- Trilionário. Sem contar o que eu sonego de Imposto de Renda e o que tenho depositado ilegalmente no exterior.

- E, com tudo isso, o senhor continua roubando galinhas?

- Às vezes. Sabe como é.

- Não sei não, excelência. Me explique.

- É que, em todas essas minhas atividades, eu sinto falta de uma coisa. Do risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar fazendo uma coisa proibida, da iminência do castigo. Só roubando galinhas eu me sinto realmente um ladrão, e isso é excitante. Como agora. Fui preso, finalmente. Vou para a cadeia. É uma experiência nova.

- O que e isso, excelência? O senhor não vai ser preso não.

- Mas fui pego em flagrante pulando a cerca do galinheiro!

- Sim. Mas primário, e com esses antecedentes..."

Luís Fernando Veríssimo

Boka de Espuma, último bloco no Carnaval 2010

A TV Globo repetiu ao longo desta segunda-feira que o Monobloco encerrou o Carnaval Carioca de 2010. Nada disso. Quem encerrou foi a Banda da Boka de Espuma. O som ao vivo do bloco, samba e pop, naipe de metais em cima de um caminhão, só parou quando era quase 22h. O bairro de Botafogo sim fechou a festa com chave de ouro e a Taça Guanabara.

Agora resta esperar o réveillon!


Mera ilustração, imagens extraídas do site.... Xi! Esqueci...

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Lapa Choque de ordem Carnaval dos clandestinos


Óleo de Leandro Joaquim, pintado há 220 anos, quadro mantido no Museu Histórico na Praça 15, provavelmene a imagem mais antiga dos Arcos da Carioca...

Abandono expõe a Lapa à violência

No bairro histórico no centro carioca, crianças consomem crack e cola e se abrigam em edifícios degradados

Pedro Dantas, Rio de Janeiro
Do site estadao.com.br em 21 de fevereiro de 2010

O estupro e morte da menina R.S.S., de 9 anos, no feriado, chamou a atenção das autoridades para a situação de crianças e adolescentes que vivem nas ruas e prédios abandonados da Lapa, no centro do Rio. Como pedintes ou punguistas, eles são um contraponto à revitalização da região e ainda expõem a fragilidade do policiamento.

O Estado esteve no bairro uma semana antes do carnaval e flagrou a ação dos menores nas ruas. Por volta da 1 hora, a poucos metros dos Arcos da Lapa, um grupo de crianças entre 6 e 14 anos, incluindo várias meninas, cheirava cola e dançava. Ao perceberem três turistas do outro lado da rua, atravessaram, os cercaram e iniciaram uma dança. O rapaz e as duas moças acharam graça. O menor deles tentou colocar a mão no bolso do rapaz que, atento, evitou o bote. Uma turista perdeu o maço de cigarros.

"As crianças habitam dois prédios invadidos e as diversas cabeças de porco (cortiços) da região. Alguns chegam todos os dias da Baixada Fluminense para pedir dinheiro. Já pedimos providências, mas a ação mais enérgica das autoridades chega apenas após o delito cometido", lamenta o presidente da Associação de Moradores e Amigos da Lapa (AMA-Lapa), Jurandir Albuquerque.

R. era mais uma das 40 crianças que ocupam junto com cerca de 60 adultos o antigo prédio número 48, na Rua do Riachuelo. De acordo com familiares, a ocupação de cunho político do antigo prédio do Instituto Nacional da Seguridade Social transformou-se há muito tempo em um abrigo para o consumo de crack. "Naquele prédio você encontra de tudo. O Conselho Tutelar deveria agir porque muitas crianças moram ali", disse a tia de R., Rosana da Conceição, de 37 anos. Na noite de sábado de carnaval, R. pedia dinheiro junto com o irmão, de 5 anos, e uma amiga, de 6. Os dois viram quando um homem ofereceu um arco para a menina e a levou no colo. No dia seguinte, o corpo foi achado no Aterro do Flamengo. "Foi uma tragédia anunciada. As crianças ficam muito expostas. Ninguém as protege. Quando levadas para os abrigos da prefeitura, elas entram por uma porta e saem por outra", diz o presidente da AMA-Lapa.

Na sexta-feira, a ação das crianças na rua acontecia a poucos metros de um ônibus da PM estacionado. Lá, um policial sozinho tomava conta de quatro flanelinhas detidos dentro do veículo. Eles reclamavam que legalmente não poderiam permanecer presos ali. O policial alegou que a viatura que levaria o grupo ao distrito estava atrasada. A poucos metros, dois colegas dele reclamavam. "Não tem policiamento suficiente. É muita gente para tomar conta e poucos policiais mal posicionados", desabafou um soldado.

A ação de punguistas na Lapa responde por 30% das ocorrências envolvendo turistas estrangeiros nos fins de semana. Segundo o delegado titular da Delegacia Especial de Apoio ao Turismo (Deat), Fernando Vila Pouca, a Lapa não é uma região de risco. Ele afirma que a Praça Paris, na Glória, e o Aterro do Flamengo são pontos críticos no entorno. Moradores de Araruama, na região dos Lagos, Sandra Delamar da Costa, de 44 anos, e o filho Victor Delamar Magalhães, de 22, foram vítimas de um menor e um homem armado quando saíam, a pé, de um show no Aterro. Neste carnaval, a polícia registrou redução de 26% no número de assaltos a turistas no Rio, na comparação com o mesmo período de 2009.


Foto by Alfredo Herkenhoff

Carnaval dos Clandestinos

Por Alfredo Herkenhoff, Correio da Lapa

Pra não dizer que tudo são rosas, a cidade cor-de-rosa, flor amorosa, flor da sapucaia, no sopé do morro, nas fraldas e nos píncaros, um tanto envergonhados, reúnem-se adolescentes para se divertir e desafiar os pais e outras autoridades. Estão lá confabulando o jovem Cheirando Lama, o Menininho Maluquinho das Minas Cherais, o Wandereley Cheirando em Off, o Zezinho Cachoeira, o Naringuinho Maluquinho, a Bia da Biata Não Dá Mais e a Cheireisinha de Jesus. Adelino Maluco, também apelidado de Cheirandês, garante que essa turma não faz nada com ninguém, e que ninguém faz nada com ninguém num clima de não vi nada e não tenho de ter raiva de quem não me viu com raiva.

Segundo Adelino, o perigo mora ao lado, mais em baixo, no asfalto, durante o carnaval, quando turmas dos lugares mais estranhos desfilam fora da programação oficial. Os mais revoltados se dispersam entre as diversas co-irmãs como o Grêmio Recreativo dos Traficantes Viciados, o Arrastão dos Assaltantes que fogem do Assalto, o Arranco dos Pega-Relógio, o Bloco dos Fuzileiros Nasais, o Conserta, Mas Só a Tiro, o Bloco do Nós Só Assarta a Faca, a Associação das Fãs do Calcinha Preta, a famosa Lira do Zé Buceta, o Bonde dos Táxi-Bandalha, o Cordão do Peida na Farofa, A Liga dos Tira-Grana de Estatal, o Descarrego dos Toca-Bronha com Maconha, o Hoje Tem Trem do Travesti, o Tuiuú da Bunda, A Banda da Bunda, o Bonde do Sete Portas, a Galhofa Amorosa, o Foliões do Vale do Silicone, o bloco Lingerie do Amor, o Grêmio Recreativo É a Glória, a banda Marmota da Mulher de Tromba, o Bloco das Paraguaias e a Corporação da Gorjeta.

Segundo Adelino, nesses dias mais agitados de Momo, os descendentes de velhos transviados “fazem o que gostariam de poder fazer o ano inteiro: se dar bem”. Nesse universo dos clandestinos, o perigo maior é o chamado golpe do balão apagado, um filhote menos violento do golpe boa noite Cinderela. Entre zero hora e seis da manhã, em qualquer mesa de botequim de alta madrugada existe o risco de um ladrão botar sonífero em sua bebida de carnaval. Você se debruça sobre a mesa, arriando num sono profundo, e acorda duas horas depois sem relógio, carteira ou celular. Portanto, quando for ao banheiro, peça aos amigos que vigiem copo e garrafa. E vigiar é vigiar mesmo. Vigiar é anterior a punir.

O poeta Dog dá as caras

No meio dessa turba iletrada, o poeta carioca Demétrio de Oliveira Gomes, o Dog, recita um monólogo contínuo, parafraseando Artur Rimbaud num 31 de fevereiro qual Dom João Ratão: Minha vida era um carnaval de corações despedaçados. Eu cruzava mares de birita. Retirei da cabeça o último halo de esperança. Chamei a bandidagem para, ao morrer, morder a coronha de seus fuzis AR 15, garantidores do contrabando não totalmente reprimido pelos agentes federais. Chafurdei na lama e na cama. Você será traíra, propôs o diabo, que me enviou adoráveis sementinhas do Além. A morte estava chegando com fome, querendo fazer germinar o meu egoísmo e todos os pecados capitalistas acumulados nas profundezas da avidez. Mas, caro Satã, por favor, não me chame de Madame. Sem vocação instrutiva, herdei o amor ao sacrilégio, todos os vícios dos cinco continentes: a raiva, a luxúria, a cobiça e, principalmente, a mentira e a preguiça. Tenho horror a qualquer trabalho, qual velho Macunaíma. A mão que escreve é a mesma que apedreja. A honestidade dos mendigos me irrita. Os criminosos me dão nojo. Qual aidético, qual clochard, fui parar numa latrina quebrada, entre seringas reutilizadas, perto de um muro caindo aos pedaços e escurecido por uma fogueira suspeita, entre marcas de rajadas de balas perdidas de execução na Cracolândia. Que o Rio de Janeiro se levante contra a grande balela nacional. O ar marinho queima os pulmões dos 50 mil brasileiros mortos anualmente por balas encontradas. Agora o maldito sou eu. Tenho horror aos políticos de plantão. O melhor é dormir, completamente bêbado, num bunker, sob as areias da Praia de Copacabana ou Areias de Espanha, sob um dos arcos na extremidade do Aqueduto, exalando cheiro de urina. Sou a nova inocência multiplicada pela última timidez. Sou um animal autêntico. Vocês, falsos, maníacos. Deputado, velha sarna, tu é ladrão. Vocês bebem aquele veneno da Estação do Inferno. Entre a fome e a sede, ouço seus gritos de dança de guerra. Ninhada de cães, vocês desembarcam com canhão. Preciso jogar fora essa farsa que tantos representam numa noite ruim. Mas não vou me dissolver pelos encantos da morte oferecida. Protesto. Por isso inventei as repetições. A moral é a fraqueza do cérebro. No meio da praça, cantei e confessei em voz alta: Adorei um porco, mas isso passou, e hoje sei cumprimentar a beleza. Houve razão para os desprezos. Eu estava fugindo e me explico. Minha vida está gasta. Vamos! Finjamos! Vadiemos. Não! O ócio é um caminho livre para matar a morte, matar o diabo de inveja. Agora me revolto contra a morte! O pensamento parece brincadeira. No último minuto das minhas contradições, ressuscito dos meus vícios atacando à direita e à esquerda. E na mesma noite, os meus olhos vermelhos despertam com a estrela de prata acima do grande abismo. Vejo paisagens infinitas no céu com mais opções do que o carregamento de poesia cósmica trazida por um navio de ouro. Vou até o alto dos Arcos da Lapa e desfraldo as bandeiras coloridas do adeus, que a brisa do Brasil beija e balança. As árvores do Passeio anunciam o fim dos tempos. Inventei essas festas todas de roda, o sucesso e os dramas. Inventei novas flores, novos astros, novas carnes, novas línguas. Acreditei nos poderes sobrenaturais da minha literatura frenética. Será que devo pedir perdão por ter-me nutrido de tanta mentira? Onde encontrar socorro? Todas as lembranças imundas se apagam. As últimas queixas se diluem como a fumaça do cigarro. Desaparece também a mistura de raiva e inveja dos mendigos e dos assaltantes, esses amigos da morte, esses marginais com sangue cor de beterraba fumegando na porta de cada casa. Num último vômito, talvez sonhando em me perpetuar no esquecimento, excluo do meu reino um milhão de bactérias. Sou a última escarrada, mas troco tudo por um comprimido a favor da ressaca. Ninguém quer fazer negócio comigo: nem heróis e assassinos de outras eras, como Brutus, até tu, ou Júlio César, Aníbal, Calígula, Hitler e Gengis Khan. Nem visitantes como as Cleópatras da vida, as Samantas da profissão mais velha, Anas e Anacolutos, Machões e Cornos, Apolos e Porcos Suarentos, Gigantes e Pequenos Maiorais. Meu negócio é apenas me aconselhar. Começa tarde quem atrasa. A morte, na hora certa, antes de acontecer, deixa a certeza de sua inevitabilidade. A arte, uma ciranda, uma instalação, filosofia, deixa vestígios que vibram e garantem a vida um pouco mais além. Escrever é pintar esses vestígios, sons de uma instituição, sons da chamada metrópole em pandarecos, Escrever é uma simples lapidação das lapas da Lapa Universal do Reino da Cachaça.
Fim - by Alfredo Herkenhoff