domingo, 24 de fevereiro de 2013

Yoani Sánchez no Poder depois de Havel, Mandela, Walesa e Dilma Rousseff



De mim mesmo

By Alfredo Herkenhoff
Correio da Lapa
Para Yoani Sánchez


Yoani Sánchez! Yoani Sánchez!

Peço desculpas aos cubanos por escrever sobre vocês e o seu país sem nunca ter pisado aí.
 Mas gosto de lembrar do meu conterrâneo, o socialista Rubem Braga, ao visitar Cuba meses depois da vitória da Revolução, escrevendo o seguinte: Fidel fala muito, mente e não cumpre promessas.

Depois da Polônia de Lech Walesa, da África do Sul de Nelson Mandela, da Techoeslováquia de Vacláv Havel e do Brasil da Dilma Rousseff, não é difícil pensar que num futuro não distante Cuba estará sob influência crescente da pacifista Yoani Sánchez. Não que ela necessite de cargo de presidência. Na Índia Gandhi também não precisou. Mas é notório que o processo é este.

 As acusações desferidas contra a Yoani em sua presente passagem pelo Brasil exibem contradições impressionantes. De um lado, os detratores sem argumentos, repetindo à distância os chavões castristas: Yoani é mercenária, está a serviço dos EUA, agente da CIA e congêneres. Do outro, o incensar pura e simples, com denúncias de que governos do Brasil e de Cuba teriam firmado um plano para desmoralizar ou esvaziar a figura da doce blogueira.

 Não vi em nenhuma das bandas uma reflexão no estilo doa general comunista  Woyciech Jaruzelski: hoje até eu votaria em Lech Walesa. Especulo que, ao autorizar a viagem de 80 dias de Yoani ao redor das principais democracias do mundo, Raul Castro assinalou, no plano do seu subconsciente, um pedido de socorro ou uma anuência íntima: Cuba precisa de todos os cubanos, a sociedade real não é partido único. 

Os indicadores sociais da Cuba de Fulgencio Batista (tempo das torturas, cassinos e turismo sexual para americanos) eram impressionantes. O índice de analfabetismo em Cuba era um dos menores senão o menor da América Latina mesmo antes de Fidel descer a Sierra Maestra.

  Fazendo caricaturas: os Estados Unidos são um resumo do mundo. O Brasil, um resumo dos Estados Unidos. Cuba, um resumo do Brasil. Três nações bem diversificadas. 

Os Estados Unidos,  o pais mais racista, têm o negro Obama comandando a massa na Casa Branca.

 O Brasil, o mais promissor no sentido de inclusão social de massas de desassistidos, vive hoje na dependência de altos preços de commodities agrícolas e minerais.  Até quando isso vai ser possível com tantos gargalos na nossa infra e nos desequilíbrios da carga tributári

 E Cuba, a Ilha-Presépio-Última-Esperança-de-um-Jesuscristinho-socialista-para-sempre, é a situação mais universalmente ditatorial.

 Nos tempos de internet, com acesso livre, essas censuras no Irã, na China e em Cuba vão caindo por terra a cada semestre – não dá mais para segurar o fluxo de informação nem alegar que se vive assim por causa do inimigo. Aquela coisa sartreana de o inferno são os outros, o meu mal é o bloqueio comercial americano, isso não cola mais...  Os jovens chegaram...

 No romance cubano “Neblinas del Ayer”, de Leonardo Padura, ambientado já no Século 21, há descrições surpreendentes de uma Havana que nenhum turista brasileiro conhece. Há bolsões na charmosa capital caribenha que se assemelham a pequenos morros do Alemão, lugares onde nem a polícia castrista apita.
O filme Guantanamera, filme cubano de 25 anos atrás, já mostrava as sementes desse mercado negro e informal ditando regras reais da oferta e demanda. 

Em fins dos anos 80, ou seja, também uns 25 anos atrás, ocorria um fenômeno pouco noticiado pelos jornais brasileiros da época: nos cinemas em Cuba, os filmes eram precedidos de uma eterna propaganda política incensando Che Guevara, Fidel e a Revolução. Mas a garotada, aproveitando o escurinho do cinema, vaiava e vaiava, e isso constrangia do lanterninha ao comandante Fidel.

 Lembro essas coisas para frisar que o fenômeno Yoani não é algo que eclode agora, que começa agora, mas simplesmente culmina um longo processo em que cubanos estão amadurecendo para chegar ao tempo de uma distensão lenta, gradual e segura com um objetivo pétreo: a redemocratização... Tirem-me tudo, já tiraram, menos a liberdade, também já tiraram. Então, por favor, devolva-me. Se você não topar...

 Mil Yoanis vão se multiplicar por mil a cada minuto. A oposição cubana não quer derrubar nem matar Raul. Isso é resquício de velhos anticastristas ridiculamente apoiados pelo Congresso americano.  O oposição quer espaço e inventa esses espaços para discutir bons caminhos para um reencontro da sociedade cubana. Yoani e Padura amam Cuba e respeitam o poder de Raul Castro, não promovem revolução, apenas querem restabelecer a conversa amistosa entre cubanos sobre as melhores  opções para os próximos anos.

Mas toda essa digressão é para especular que, caso se confirme aquela primeira especulação, Yoani chegando ao Poder não para acertar contas, mas para conciliar uma sociedade maravilhosa, o futuro ministro da Cultura será Leonardo Padura Fuentes.


 
Eis o que fala  secamente o Wikipedia em língua portuguesa sobre Leonardo Padura (foto), mas de pronto aviso:  li o seu livro ”Neblinas del Ayer”, presente que ganhei de uma amiga diplomata que serve em Londres e que já esteve pessoalmente com Fidel, e depois comento a obra...: 


Leonardo Padura Fuentes, nascido em Havana, 1955 — ou simplesmente Leonardo Padura, como é conhecido internacionalmente — é escritor e jornalista cubano, considerado um dos melhores de seu país.

Padura assumiu a cadeira de literatura latino-americana na Universidade de Havana. Destacou-se como jornalista investigativo e, depois, como ensaísta, roteirista e autor de novelas policiais.


Seu livro Paisaje de otoño conquistou o Prêmio Hammett (uma homenagem a Dashiell Hammett, autor de O Falcão Maltês) da International Association of Crime Writers — que não deve ser confundido com o prêmio homônimo concedido pela filial estadunidense da associação a autores nascidos nos Estados Unidos e Canadá.



Sua tetralogia Las cuatro estaciones, com histórias do detetive Mario Conde, começou a ser publicada em inglês. Os livros são:



    Pasado perfecto ("Havana Blue", 2007), 1991

    Vientos de cuaresma ("Havana Yellow", 2008)), 1994

    Mascaras ("Havana Red", 2005), 1997

    Paisaje de otoño ("Havana Black", 2006), 1998.



Padura publicou também dois livros subseqüentes apresentando o detetive Conde: Adios Hemingway e La neblina del ayer Neste momento, Padura está a finalizar um romance em que os protagonistas são o revolucionário russo León Trotsky e o seu assassino, Ramón Mercader.



Livros seus já foram traduzidos para o italiano, o alemão e o português.



Livros de Padura editados em português (Portugal)



    Adeus, Hemingway

    Morte em Havana (Máscaras)

    A neblina do passado

    Paisagem de Outono

    O Romance da Minha Vida

    Um Passado Perfeito

    Ventos de Quaresma

    O Homem Que Gostava De Cães